“Imaturos” narra o último dia do estudante Caio antes de sua formatura no Ensino Médio e retrata o “limbo” entre a adolescência e a fase adulta. A obra marca a estreia do escritor e repórter da Agência UVA, João Pedro Agner.
No livro, Caio também passa por um momento sensível de sua vida: o luto, pois perdeu sua mãe recentemente. Além disso, o estudante ainda precisa lidar com a distância imensurável que existe entre ele e seu pai, César. Motivado pela raiva, o adolescente culpa o pai pelo trágico acidente em que perdeu sua mãe. É diante de tudo isso que reúne seus melhores amigos, Luan e Duda, e começa uma de suas maiores loucuras: uma “vingança” contra César.
O autor, João Pedro Agner, é do Rio de Janeiro e tem 19 anos. Canceriano, começou a escrever quando era criança, fazendo publicações em blogs, sempre por meio de pseudônimos. Além de repórter na Agência UVA, ele gosta de escrever textos mais pessoais, como ensaios e crônicas. Para celebrar sua estreia, conversamos conversou com João sobre o seu processo de escrita e suas inspirações.

Agência UVA: Como surgiu a ideia da trama de ‘Imaturos’ e dos personagens principais?
João Pedro Agner: É difícil ver claramente quando o primeiro esboço da história surgiu, porque a primeira vez que pensei nela foi em 2018, quando eu tinha 14 anos. De lá para cá, tentei escrever o texto de diversas maneiras, indo e voltando entre outras histórias. O que me fez retomar a ideia em 2021 foi a vontade de escrever um grande drama adolescente e falar sobre essa época que eu tinha acabado de deixar. Em parte, foi um reflexo das minhas próprias ansiedades em me tornar adulto. Falar sobre luto também foi o que me trouxe de volta a essa história de certa forma. Acho que é um sentimento tão universal, mas ao mesmo tempo único. Ter isso como tema é bem divertido de elaborar.
Sobre os personagens, acho que eles são retalhos de dinâmicas minhas com pessoas que ainda estão ou já estiveram na minha vida. Eles também são arquétipos de personagens que encontramos tanto na vida real como na mídia. Enquanto escrevia, eu acreditava que meus personagens eram muito diferentes da realidade, mas acabei encontrando pessoas muito parecidas a eles ao longo do processo, o que foi interessante.
Agência UVA: Você disse que começou a moldar melhor a ideia em 2021. Quanto tempo demorou pra você escrever o conto? Como foi sua rotina nesse período?
JPA: Não foi um processo direto. Eu acabava indo e voltando, dando pausas… Comecei em março de 2021 e escrevi por um mês, depois fiquei numa hiato enorme. Passou a ser mais constante a partir de novembro. Terminei de escrever dia 13 de junho de 2022, e depois fiquei focando nos reajustes e na revisão. O rascunho final ficou pronto por volta de agosto.
Agência UVA: “Imaturos” se passa no final do período colegial (literalmente, o último dia antes da formatura). Como foi esse seu último ano?
JPA: Eu digo que eu não tive ‘último ano’ porque ele foi todo online, por conta da pandemia. Tive pouco mais de um mês de aula presencial, e depois fiquei o resto do ano trancado em casa. Minha formatura foi um vídeo no YouTube e não tive memória alguma desse ano. Acho que parte disso influenciou um pouco na história, como a cena da formatura. Uma das coisas que nunca vou superar é não ter tido uma formatura do Ensino Médio, então vivi isso por meio da história.
Agência UVA: Quais são suas inspirações?
JPA: Acho que em todas as áreas da minha vida minhas inspirações principais serão a Joan Didion e o Jack Antonoff, tanto que eles estão na epígrafe. Joan é, de longe, minha escritora favorita, e nem sei por onde começar para falar do trabalho do Jack, que está presente na minha vida há anos e anos, e tenho até tatuagem de uma das canções dele pelo Bleachers. Outras grandes inspirações são a Sally Rooney, que escreveu meu conto favorito de todos os tempos (“Mr. Salary”) e a Lorde. Acho que se o conto fosse um disco, seria o “Pure Heroine“, da Lorde.

Uma música que influenciou o processo foi “All Star” do Nando Reis, e por muito tempo esse foi o título da história. Os personagens moram em Laranjeiras por conta da música, e as cores dos tênis de dois personagens são que nem os da música. Também porque acho que o All Star é um tênis muito marcante nessa época de adolescência, pelo menos para mim foi. Acabei mudando o título por conta de uma cena onde a palavra “imaturos” é dita, e achei que cabia muito bem.
Agência UVA: Uma parte da trama de “Imaturos” é a vingança, do Caio contra o pai, César. Qual a sua relação com esse tipo de história?
JPA: Parte do que faz o Caio ser imaturo é acreditar que ao fazer o pai sentir toda essa dor se igualará ao que ele está sentindo de alguma forma, ou que a vingança seria uma troca justa, pagando na mesma moeda. Se eles sentassem e conversassem tudo teria se resolvido, mas aí não teria um plot para a história. Não acho que seja uma história sobre vingança, e sim mais sobre ele se entendendo no processo de se vingar, tanto que ele imediatamente percebe que não valeu a pena. Se ele estivesse sóbrio, provavelmente teria abortado o plano.
Agência UVA: Você falou mais cedo que sempre quis escrever um drama adolescente. Você pensa em trabalhar com outros estilos literários? Se sim, quais?
JPA: Eu gosto muito de ler romances contemporâneos, histórias que mostram personagens complexos e questões sociais embutidas nesses aspectos, algo que a Sally Rooney faz com excelência, e é o formato que me imagino escrevendo. Gosto muito de escrever contos, acho que ainda vai demorar para me dedicar a um romance. Um gênero que tenho muita vontade de escrever é de crimes, no formato de um “quem matou?”, recorrente em novelas. Meu sonho é escrever uma. Tenho muita vontade de me aventurar em roteiros também.
Agência UVA: Algo meio Agatha Christie, então?
JPA: Sim. Todos têm um motivo, estavam lá e são suspeitos. Vou precisar estudar muito antes de escrever algo nesse formato, imagino que demande muito planejamento.
Agência UVA: Você pensa em revisitar o Caio e os outros personagens no futuro?
JPA: Por enquanto quero focar em novas histórias, mas nada impede. Tenho uma história pronta que planejo publicar em sequência, em um futuro distante, e tem uma referência bem sutil nela. Gosto dessa ideia de referenciar as histórias em outras obras como se fossem todas situadas no mesmo universo.
“Imaturos” é um conto young-adult (jovem adulto) disponível em formato digital, na Amazon. Você pode encontrar o autor em seus perfis no Twitter e Instagram (@ojoagner em todo lugar).
Foto de capa: Reprodução/Acervo pessoal
Reportagem de Vinicius Corrêa, com edição de texto de Anne Rocha e Daniela Oliveira
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