Esporte

Torcedores e especialistas comentam a consolidação das SAFs no futebol brasileiro

Entrevistados pela Agência UVA comentam sobre o movimento dos clubes brasileiros em direção ao "clube-empresa"

Em definição, SAF significa Sociedade Anônima de Futebol, modelo de administração que permite às empresas se tornarem parte, ou proprietárias de clubes de futebol, de acordo com a Lei 14.193/2021, criada pelo Congresso, em agosto de 2021.

A Lei da SAF incentiva que clubes de futebol sejam transformados de uma associação sem fins lucrativos, para o modo de “clube-empresa” com a finalidade de ter uma gestão mais profissional e de possíveis melhores investimentos. Esta prática já se consolidou principalmente entre clubes da Europa, como o Manchester City, da Inglaterra, e o Bayer Leverkusen, da Alemanha, onde toda sua organização é ligada à empresa farmacêutica Bayer.

No Brasil, alguns clubes já migraram para o formato clube-empresa: são eles Botafogo, Cruzeiro e Vasco. Os três venderam partes de seu capital para proprietários como o empresário John Textor, Ronaldo (Fenômeno) e 777 Partners, respectivamente. Além destes, tivemos o Bahia, que tornou-se parte do Grupo City (Manchester City), e o Bragantino, agora chamado de Red Bull Bragantino. O time paulista, a partir de então, também mudou seu escudo, cores, e até o nome do estádio em alusão à marca de energéticos.

Percentuais vendidos
O Botafogo negociou com o empresário John Textor os 90% de suas ações permitidos pela Lei da SAF. A nova gestão projeta o investimento de R$400 milhões até 2025. Além do clube carioca, John Textor também é acionista do Lyon, da França, Crystal Palace, da Inglaterra, e do RWD Molenbeek, da Bélgica.

O Cruzeiro, assim como o Botafogo, também vendeu 90% de seus direitos à empresa do ex-jogador Ronaldo Fenômeno e se manteve com 10% ao clube associativo. De acordo com planejamento divulgado, Ronaldo se propôs a investir R$400 milhões até 2026. O modelo de SAF permitiu ao Cruzeiro negociar suas dívidas, que chegam a cerca de R$1 bilhão, e seis anos para quitar pelo menos 60% deste valor.

Já o Vasco da Gama concluiu venda de 70% de seus direitos para o Grupo 777 Partners. De acordo a transação, a 777 Partners investirá R$700 milhões na Vasco da Gama SAF, que assumirá até R$ 700 milhões em dívidas do clube carioca.

Apesar das similaridades no modelo de gestão dos clubes citados, o jornalista Rodrigo Capelo analisa, em seu blog, que há diferenças no perfil de seus proprietários:

“Ronaldo tem conhecimento de gestão de futebol, proporcionado pelo Valladolid – clube que o ex-jogador comprou em 2018, e pelo passado como atleta, mas não está disposto a despejar centenas de milhões de reais. John Textor e 777 Partners chegaram com mais dinheiro e discursos modernos, mas lhes falta experiência no ramo”, disse Capelo.

Todos os clubes citados já estão percebendo as mudanças após o modelo implantado, principalmente com poder de aquisição mais forte e a montarem os elencos para a temporada 2023. Ambos os clubes retornaram recentemente da Série B, em que possuíam jogadores mais limitados, e com os investimentos das SAFs, o plano de ter um time mais competitivo agora na volta à Série A do futebol brasileiro se tornou realidade.

Cruzeiro e Vasco voltam à Série A no Brasileirão 2023 (Foto: Divulgação/CBF)

Porém, se para os clubes as SAFs vieram como solução a problemas financeiros, para os torcedores destes times a mudança causou espanto. Ver seu clube do coração ser vendido a empresas que até então eram pouco faladas no Brasil é desconfortante. É o que descreve a empresária Luiza Belone, de 27 anos:

“Uma parte minha estranhou de início. Pensava apenas: seja o que Deus quiser, pois admito que pouco conhecia a empresa”, conta a vascaína. “Hoje em dia, acho uma mudança boa, ajudou muito o Vasco, mas o torcedor tem mania de olhar só o futebol e esquecer de todo o resto”, diz.

O Vasco da Gama pode ser dito como um dos clubes perfeitos para que se instalasse uma SAF para se transformar num clube-empresa. Time grande, com torcida entre as maiores do país, e que estava passando por problemas graves financeiramente e tecnicamente. A visão de torcedora de Luiza Belone concorda com o pensamento dos empresários: “Tem que respeitar o time e sua história, o nome Vasco da Gama é gigante, apesar da má fase em que estava, chama a atenção, então foi a forma que se encontrou para se salvar”, conta.

Para o técnico de meio ambiente e botafoguense Luís Alves, de 41 anos, a mudança para o modelo de Botafogo SA veio em bom momento para pôr fim às más administrações e deixar o clube com uma gestão mais profissional, principalmente em questão às finanças da instituição. Porém, não se sente satisfeito com as atitudes da administração de John Textor. “A SAF não tem sido transparente e por vezes a falta de comunicação gera uma dúvida se o projeto realmente dará certo”, afirma o torcedor.

“Como o clube historicamente sofreu com más administrações e carecia de uma gestão profissional. Ajustar as finanças e pagar as dívidas foi o melhor caminho a ser seguido”, completa Luís.

De fato, as SAFs já se consolidam como parte do futebol brasileiro. Gestões com modelos diferentes aos que nos habituamos durante anos nos clubes do nosso futebol ditam os próximos passos da instituição. A linha é tênue entre tornar a administração mais profissional, porém, com empresários considerados distantes da vivência popular do clube, e manter a proximidade do time com seu torcedor é um desafio. A única certeza é que a paixão do torcedor é soberana, e independente do modelo de gestão, ela continuará sendo o combustível do time.

Foto de capa: Reprodução/Pexels

Reportagem de Jorge Barbosa, com edição de texto de João Pedro Agner e Daniela Oliveira

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3 comentários em “Torcedores e especialistas comentam a consolidação das SAFs no futebol brasileiro

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