Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumpriu sua agenda de visitas internacionais. Entre os dias 11 e 14 abril, o petista esteve na China, uma das viagens mais importantes do ano, cumprindo com a promessa de retomar a boa relação entre os países, que, segundo o próprio presidente, foram prejudicadas durante o governo anterior. Na segunda maior potência econômica do mundo, ele se reuniu com o presidente Xi Jinping e assinou diversos acordos comerciais, que devem render ao Brasil mais de 50 bilhões de dólares em investimentos.
Um dos compromissos mais importantes de Lula no país assiático foi a cerimônia de posse de Dilma Rousseff (PT) como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB). Durante seu discurso, ele aproveitou para destacar as qualidades da ex-presidenta no que diz respeito ao seu papel como a primeira mulher a presidir a República Federativa do Brasil. Nessa mesma fala, o chefe do executivo causou controvérsias no mercado global ao defender a liberdade das economias frente ao dólar.
“Por que todos os países estão obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar? Nós precisamos ter uma moeda que transforme os países numa situação um pouco mais tranquila. Por que hoje um país precisa correr atrás de dólar para exportar, quando ele poderia exportar com sua própria moeda, e os bancos centrais certamente poderiam cuidar disso?”, questionou Lula em parte do seu discurso.

Em análise exclusiva, Luciana Caczan, editora de internacional da CNN Brasil, destaca que Dilma está apta para o cargo. Para a jornalista, Dilma “foi exaltada por ter priorizado o combate à pobreza e a atenção aos programas sociais criados nos mandatos anteriores do Lula. A leitura de especialistas é que a indicação e posse de Dilma são evidências de um resgate de seu prestígio político”. Sobre a tentativa de Lula romper com a hegemonia do dólar, ela analisa que esse movimento faz parte da nova ordem mundial.
“É a busca pelo enfraquecimento da hegemonia americana. É um movimento arriscado da parte do Brasil e teremos que acompanhar os desdobramentos para ver o resultado. O dólar é a moeda mais forte do mundo e é sinônimo de confiança para o mercado. Uma independência da moeda americano seria muito difícil”, aponta.
Um dos principais objetivos do encontro entre os países era falar sobre sua relação comercial, já que a China é a maior compradora de produtos brasileiros, e também sobre assuntos estratégicos que podem proporcionar crescimento aos dois governos. Durante a viagem, Lula assinou cerca de 15 acordos comerciais com o presidente chinês Xi Jinping, sem contar com outros compromissos firmados entre empresas chinesas e brasileiras. Ficaram acordadas questões referentes à cooperação em pesquisa e inovação, investimentos industriais, combate à fome e a pobreza, coprodução televisiva, entre outros.
“A viagem a Washington não trouxe o tamanho do investimento esperado, principalmente em relação ao fundo da Amazônia. Os investimentos acordados com a China certamente fortalecerão a parceria comercial com o Brasil. Não há dúvidas de que a viagem de Lula à China foi um passo importante para o reestabelecimento da relação bilateral entre os países, o que é um motivo de celebração para o governo brasileiro”, analisa Caczan.
Ainda em sua reunião mais importante no país asiático, onde esteve com importantes líderes do país, o petista declarou que a visita feita à Huawei tinha como objetivo de “demonstrar ao mundo que não há preconceito em nossas relações com os chineses”. Segundo o presidente, “ninguém irá proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China”. Após essa fala, surgiram interpretações na comunidade internacional de que Lula estaria procurando um maior alinhamento com o país.
“A leitura de especialistas é que o recado foi dado aos Estados Unidos. Lula tenta manter a diplomacia e trazer investimentos para o Brasil, mas as suas falas – crítica ao dólar, o que ele chama de incentivo dos EUA à guerra, entre outras – mostram uma inclinação a um alinhamento maior com a China. Lula entende a posição do Brasil na geopolítica e está ciente do peso de um alinhamento com as principais potências mundiais”, conclui Caczan.
Repercussão nos Estados Unidos
Com o fim da viagem de Lula à China, e diante de inúmeras interpretações dasda às falas do presidente brasileiro, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, anunciou, no dia 20 de abril, que pretende depositar 500 milhões de dólares (2,5 bilhões de reais no câmbio atual) no fundo amazônico, durante os próximos 5 anos. Vale lembrar que Biden já tinha anunciado um depósito de 50 milhões de dólares para o fundo de proteção, monitoramento e combate ao desmatamento, quando Lula visitou a Casa Branca, em fevereiro. O novo valor é 10 vezes maior do que o que tinha sido anunciado anteriormente e precisa da aprovação do congresso para ser oficializado.
“Estou feliz de anunciar nosso pedido de fundos para que possamos contribuir com US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia e outras atividades ligadas ao clima nos próximos 5 anos. E para ajudar o Brasil em seu renovado esforço de acabar com o desmatamento em 2030”, afirmou o democrata durante reunião do Fórum das Principais Economias sobre Energia e Clima.
Lula em Portugal e na Espanha
No dia 22 de abril, Lula chegou a Portugal para continuar com sua agenda de compromissos internacionais, dessa vez o petista pretendia reaproximar o Brasil de relações com a Europa e com a União Europeia (UE). O chefe de governo brasileiro cumpriu a agenda dos dias 22 a 25 em Portugal, onde participou de encontros com autoridades e empresários e também da cerimônia de entrega do Prêmio Camões ao cantor e compositor Chico Buarque. Já nos dias 25 e 26, ele visitou a Espanha, onde se reuniu com o primeiro-ministro Pedro Sánchez e com o rei do país, Felipe VI.
Em sua visita a Portugal, Lula assinou 13 acordos e memorandos para consolidar o trabalho e a cooperação entre o país ibérico e o Brasil. Os principais acordos destacam parcerias nas áreas de educação, energia, geologia e minas, turismo, comunicação, saúde, cooperação espacial e promoção e defesa dos direitos de pessoas com deficiência, confira aqui a lista de acordos completa. Com a visita do presidente brasileiro, duas empresas portuguesas anunciaram que devem investir cerca de 5,7 bilhões de euros no Brasil. As companhias trabalham nos setores de energia e gás.
Na Espanha, Lula voltou a defender a criação de um grupo para estabelecer a paz na Ucrânia. O presidente vem abordando esse assunto em todos os encontros internacionais que fez até agora, desde que visitou os Estados Unidos, em fevereiro. Além disso, ele aproveitou para elogiar novamente a China. No palácio de Moncloa, sede do governo espanhol, o petista assinou três acordos junto com o primeiro-ministro Pedro Sánchez. Os compromissos firmados são referentes às áreas da educação, ciência e tecnologia e trabalho.
Foto de Capa: Agência Brasil/Ricardo Stuckert
Reportagem Gabriel Ribeiro, com edição de texto de Anne Rocha
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Que matéria incrível! Muitíssimo bem escrita! 👏🏻
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