Cultura

Gabriel Folena lança conto de horror “Praia do Flamengo, 88”

Agência UVA conversou com o escritor sobre o desenvolvimento e o processo de publicação independente

“Meia-noite, no Rio de Janeiro, é a hora das coisas que não existem”. Assim o escritor Gabriel Folena, editor da Agência UVA, inicia a atmosfera sombria do seu conto “Praia do Flamengo, 88”, que fez sua estreia na Amazon no mês de outubro.

A narrativa acompanha uma noite sem sono de Abel no edifício Constantino, onde, cansado de ser atormentado pelos sons que ecoam pelas paredes e pisos, convida o único vizinho que conhece para investigar a origem desses barulhos no prédio velho da cidade. 

Folena tem 27 anos e é estudante de Jornalismo da UVA, além de já ter se graduado em História. Ele conta que gosta de imaginar monstros fictícios em cenários do dia a dia, o que o atraiu a escrever horror. Para celebrar sua estreia na Amazon, a Agência UVA conversou com o escritor sobre o desenvolvimento de sua história e o processo de publicação independente.

Folena está no sexto período de Jornalismo e também é escritor de contos e de histórias de horror (Foto: Rafael Alves/Nfoto, com intervenções feitas pelo próprio escritor)

Agência UVA: Esse conto já havia sido vencedor de um concurso literário. Como surgiu a ideia de revisitar essa história? E por que, de todas do seu acervo, você acha que essa merecia mais atenção?
Gabriel Folena: Tem muitos autores independentes nacionais que preferem lançar contos e não romances por esse último ser um processo que demanda mais, especialmente se não temos uma editora por trás. Acabei optando pelo que seria mais viável fazer para me lançar como autor. Algo que coubesse dentro da minha rotina hoje. Escolhi “Praia do Flamengo, 88” por ser um texto já bastante revisado, e também por ter vencido esse concurso justamente com este conto.

AUVA: Horror sempre foi um gênero que o atraiu ou algo que se construiu com o tempo? Você consome este gênero por afeição?
GF: Sempre fui muito medroso quando mais novo. A primeira experiência com terror que me causou mais fascínio que medo foi com “Jurassic Park”, o original do Steven Spielberg. Me lembro de ter chorado muito quando criança, assistindo pela primeira vez, mas não conseguia parar de pensar no filme, então este filme abriu as portas do gênero para mim. Antes, sempre consumi muita fantasia, então fui fazendo essa transição com obras que tivessem isso em comum até consumir horror “puro”. Hoje em dia, é meu gênero favorito, mas foi um processo. 

Escrevendo, fazem uns dois anos. Meu primeiro contato com escrita foi por fanfics de filmes e bandas, depois passei a escrever em comunidades de web-novela no Orkut, onde passei a escrever ficção mais longa. Os textos que tenho publicado têm essa temática de horror, com referências ao caso brasileiro do bebê diabo e a mitologia, por exemplo.

AUVA: Quais suas principais referências no horror, sejam obras ou autores?
GF: Minha maior influência é a Anne Rice, que escreveu “Entrevista com Vampiro” e outras histórias vampirescas, e a Cassandra Clare que, mesmo não escrevendo horror, suas histórias lidam muito com criaturas e seres desse tipo. Nos filmes, o Wes Craven da franquia “Pânico”, que é uma das minhas favoritas da vida, é uma inspiração. Também gosto muito de Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft, e “Buffy, a caça-vampiros”, uma das minhas séries favoritas.

“Praia do Flamengo, 88” fez sua estreia na Amazon no mês de outubro (Foto: Divulgação)

AUVA: Muitas vezes, na mídia, o conteúdo de horror e terror são situados fora do Brasil, e é raro encontrar produções audiovisuais nacionais. Na literatura, a dificuldade permanece, mas um pouco mais aliviada. Sua história é situada no Rio de Janeiro, em um cenário clássico, que são as praias da Zona Sul. Porque era importante para você que seu conto tivesse esse cenário?
GF: O Rio de Janeiro é uma cidade muito propícia para o terror, por ter várias histórias de assombração pelo Centro da cidade, tendo até tours sobre este tema. Existem muitas possibilidades narrativas, neste sentido, que talvez a gente não perceba por consumir horror que se passa nos subúrbios dos Estados Unidos, por exemplo. Foi muito importante para mim trazer essas coisas de que eu gosto para cá. 

Uma das maiores inspirações foi o Edifício Seabra, que fica no Aterro do Flamengo. Ele é um bicho gigantesco, super gótico, feito de pedra, vitrais, varandas cheias de colunas. O edifício captou muito minha imaginação, me fazendo pensar que se eu fosse escrever algo de horror no Rio de Janeiro, este prédio deveria estar presente. Foi uma questão de me aproveitar da estética e do cenário que temos. É só olhar pela cidade que você vai “ser assustado” por alguma coisa.

AUVA: É possível perceber um clima entre os dois personagens. O instinto de criar um romance queer foi algo que fluiu naturalmente ou foi algo pensado?
GF: Por eu ser um homem gay, sempre que for escrever um romance isso virá naturalmente. Não foi inteiramente natural, por eu ter planejado o conto para ter essa atração evidente, por achar que ainda falta diversidade na literatura. Mas isso veio de forma fluida, exatamente porque quando penso em romance, minha referência é o romance entre dois caras.

AUVA: Quais foram os maiores desafios da auto publicação na Amazon?
GF: Uma das grandes dificuldades é toda essa burocracia que, quem é publicado por uma editora, não precisa lidar, porque eles resolvem tudo. Nós, autores independentes, precisamos ver tudo sozinhos, desde direitos autorais e ISBN, ler contrato do Kindle e da Amazon, ver a questão de preços. Não é um processo fácil, requer que você pare para analisar tudo isso, entrando em um lado mais administrativo. A Amazon facilita muitas coisas, mas pede uma certa exclusividade. 

Para mim, o maior desafio é a divulgação. Quando você lê o contrato, você entende que é só você. Os leitores estão majoritariamente no Twitter e no Instagram, e para alcançar as pessoas nessas redes, você precisa ter seguidores, e para isso você precisa ter conteúdo bom. Para isso rolar as pessoas devem gostar de você e do que você produz, e isso não dá para controlar. A divulgação é o que mais demanda estratégia e dá mais trabalho, além de, possivelmente, ser um custo a mais. É uma bolha muito difícil de furar.

AUVA: Como você lida com a decisão de expor sua arte e sua escrita de forma tão pública?
GF: Sou muito inspirado por autores que acompanho e eles se jogam sem medo, pois estão satisfeitos com seu trabalho. Isso me encoraja muito, e me faz ir atrás do meu “corre”. Até porque, com o mercado literário que temos no Brasil, se não começarmos fazendo por nós mesmos, não vamos chegar a lugar nenhum. É um misto de necessidade, vontade e sonho que me impulsiona. 

“Praia do Flamengo, 88” é um conto de horror adulto, e está disponível em formato digital na Amazon. Você pode acompanhar o autor em seus perfis no Instagram e no Twitter.

Foto de capa: Arquivo pessoal/Gabriel Folena

Repórter João Pedro Agner, com edição de texto de Daniela Oliveira

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