No Brasil, as mulheres negras representam cerca de 28% da população brasileira. Apesar de serem o maior grupo demográfico do País, elas ainda são subrepresentadas na política, com apenas 18% das candidaturas. Nas eleições 2022, segundo o Senado Notícias, o percentual de mulheres na disputa por cargos políticos soma 33,3% dos registros nas esferas federal, estadual e distrital. E de pessoas que se autodeclararam negras é de 49,49%, registrando aumento de 2,95% em relação a 2018 (44,24%).
Benedita da Silva (PT) é Deputada Federal e disputa a reeleição. Ela já foi Governadora do Rio, Ministra do Desenvolvimento Social do primeiro mandado do ex-presidente Lula (2003/2006) e uma das mais importantes mulheres negras na política brasileira após a redemocratização. A candidata se sente honrada por também inspirar outras negras e negros na política.
“Tenho o compromisso e a obrigação de ajudar outras negras e negros, para que possam chegar em número cada vez maior nesse espaço político”, diz Benedita, que construiu sua vida pública envolvida nas lutas em favor das comunidades empobrecidas do Rio, inclusive o Chapéu Mangueira, onde nasceu e foi criada.
A Deputada foi entrevistada pela Agência UVA enquanto participava de um showmício organizado pelo do candidato a Deputado Estadual, Mombaça (PSB), no último domingo (18), no centro do Rio.
Bené, como é conhecida, está entusiasmada com as eleições do próximo dia 2 de outubro:
“Teremos muito mais mulheres negras e homens negros eleitos nessas eleições”, aposta Benedita, que também é uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT).
Quando perguntada sobre qual legado deseja deixar na política, Benedita afirma que é o combate a todos os tipos de discriminação, seja de orientação sexual, racial contra negros e indígenas, contra a mulher, contra a juventude negra.
“O Brasil não vai andar se não investir na ‘negrada'”, assegura.
O projeto “Estamos Prontas“, criado pelo movimento Mulheres Negras Decidem e pelo Instituto Marielle Franco apoia a candidatura de mulheres negras, periféricas, indígenas e LGBTQIA+.
“O ‘Estamos Prontas’ é um projeto de fortalecimento de candidaturas de mulheres negras que pretendem ser deputadas estaduais. Ele procura apoiar candidaturas que defendam uma agenda programática orientada pelos Direitos Humanos”, explica a porta-voz do Mulheres Negras Decidem, Tainah Pereira.
Impossível falar de candidatas negras e não pensar em Marielle Franco, Vereadora pelo Psol (RJ) que foi assassinada em março de 2018, num crime ainda sem respostas.
Quem confirma é Adriana Gerônimo, candidata a Deputada Estadual (Psol/ CE).
“Marielle impactou a minha vida e me deu coragem para entrar na política institucional. Sua fala, a qualidade nos posicionamentos e o olhar forte me mostram a cada dia que é urgente sermos mais. Precisamos ser uma multidão negra para inverter a lógica do poder, para o poder estar nas mãos do povo” afirmou ela recentemente, para o portal Alma Preta.
Brasil: obstáculos para a paridade política
Segundo o projeto ATENEA, da ONU Mulheres, um mecanismo para acelerar a participação política das mulheres na América Latina e no Caribe, apontou o Brasil como nono colocado em um ranking de 11 países que mais apresentam obstáculos para os direitos políticos das mulheres e para a paridade política entre homens e mulheres.
No Brasil, os partidos com os maiores percentuais de negros são o Unidade Popular (UP) e o Partido Socialismo e Liberdade (Psol), com 63% e 61,3%, respectivamente. Um candidato é considerado negro quando, no ato do registro de candidatura, a pessoa se declarar preta ou parda. Além disso, desde 2009, cada partido deve ter, ao menos, 30% de candidatas mulheres, e devem reservar pelo menos o mesmo percentual do fundo eleitoral para elas.
Para saber dados sobre o perfil demográfico dos mais de 28 mil candidatos aos cargos nestas eleições, clique aqui.
Foto de capa: Reprodução/PT
Reportagem de Thiago Eiras e Daniela Oliveira, com edição de texto de Gabriel Folena
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