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Arte e cultura se reinventam durante o isolamento

Setor fortemente atingido pela pandemia usa a tecnologia para resgatar o contato com o público e produzir novas expressões artísticas

O show tem que continuar. Foi com esse pensamento que os produtores de arte e cultura tiveram que buscar maneiras de produzir durante a pandemia da Covid-19. Com as regras de distanciamento social e as demais medidas de saúde implementadas, atividades como teatro, espetáculos de dança, museus e shows foram suspensos, desde março.

Os setores culturais e criativos, um dos mais afetados pela pandemia, costuma movimentar R$ 171,5 bilhões por ano, o equivalente a 2,61% de toda a riqueza nacional. Segundo resultados preliminares da pesquisa Percepção dos Impactos da Covi-19, divulgados em junho deste ano, mais de 40% dos trabalhadores da área tiveram perda da receita entre 50% e 100%.

Depois de um tempo de paralisação, artistas, produtores culturais e instituições viram na tecnologia a melhor forma de iniciar ou manter a conexão com o público durante esse momento. O setor musical, por exemplo, começou a fazer muito sucesso com as lives shows, mas os outros segmentos aprofundaram as possibilidades da internet.

Foi com esse intuito que o espetáculo “Negra Palavra: Solano Trindade” permaneceu no formato online, após se consolidar em uma série de temporadas presenciais em grandes teatros da cidade do Rio de Janeiro. Conforme o período do primeiro impacto do isolamento foi passando, os diretores se reuniram para elaborar uma nova versão para as plataformas digitais.

Depois de avaliarem as alternativas adotadas por outros produtores, decidiram então por transmitir a sessão ao vivo, usando um aplicativo de vídeo conferência. O ator e diretor Renato Farias, que assina o roteiro da peça e coordena a direção geral junto com o ator Orlando Caldeira, conta como foi o processo inicial de retomada de ensaios e reformatação do espetáculo, remotamente.

“O processo de adaptação foi muito rico, com uma confluência muito grande de criatividade entre os diretores e com os atores também. O desafio foi, para os atores, de sozinhos em casa com o celular ou o computador, manter a mesma essência teatral de corpo vivo e estado de presença, sem a troca com a plateia e com essa nova linguagem. Então os desafios, para os atores e para quem dirige, foram tanto artísticos e emocionais, quanto no processo de compreensão dos limites e possibilidades dessa nova ferramenta”, explica Renato.

Assim como o teatro, a dança também utilizou dos recursos online para transmitir apresentações em tempo real. A bailarina Giovanna Oliveira, de 18 anos, participou de duas apresentações de dança durante a quarentena, uma delas chamada “Petite Fleur”, parte de um projeto que surgiu durante a pandemia, que se propõe a levar a arte para as casas das pessoas.

Ela conta que apesar das dificuldades com a distância, o trabalho artístico pôde transformar tanto o processo de isolamento dos artistas, quando das pessoas que assistiam.

“Com toda certeza esses espetáculos virtuais foram perfeitos para manter a arte viva nesse momento, abrindo portas para novas formas de manifestações artísticas. É muito gratificante continuar dançando e estabelecer conexões com os outros integrantes, mesmo que virtualmente. Para o público foi um meio de se manter bem nesses tempos”, afirma Giovanna.

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Para muitos a arte e a cultura foram realmente essenciais para tornar o período da quarentena o melhor possível. O ator, bailarino e professor Fellipe Carlos, de 29 anos, já era um intenso frequentador de teatros antes da pandemia e foi um dos que consumiu esse tipo de atividade durante o isolamento também.

Para ele os trabalhos ao vivo não substituem o “frescor do palco, e do presencial” mas colaboram para a sensação de estar no ambiente, com parte daquela essência que já estava acostumado. “Eu achei bem interessante, duas peças que assisti eu simplesmente amei! Foi um experiência incrível por ser ao vivo mas com recurso digital, onde o teatro estava ali intrínseco no trabalho”, conta Fellipe.

Durante a pandemia também foi possível visitar alguns museus virtualmente, como no caso do Museu Nacional, administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com gravações do acervo feitas antes do incêndio que atingiu o museu em setembro de 2018, a administração resolveu reestruturá-la em uma Visita Guiada online, para o momento da quarentena. O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, conta um pouco desse trabalho.

“Já existe uma iniciativa antes da pandemia, por parte de vários museus, de colocar o acervo online tanto para democratizar o conhecimento e o acesso, e gerar público. No nosso caso, uma vez que o incêndio levou uma parte do nosso acervo, nós usamos o trabalho feito anteriormente e usamos a estratégia de fazer parceria com outras instituições para mostrar suas próprias exposições também. Com a pandemia nós pretendemos ampliar essa proposta”, conta o diretor.

Com novas exposições e visitações virtuais sendo preparadas para o futuro, o diretor ainda conclui falando sobre o maior objetivo de todo esse projeto. “Para nós principalmente, o mais importante é não sermos esquecidos. Apesar de hoje não termos um lugar para as exposições, não queremos ser esquecidos e queremos colaborar para essa tarefa de disseminar cultura e ciência, e só podemos fazer isso online. É importante, principalmente agora”, finaliza o diretor.

Até que as atividades possam retomar presencialmente por completo, a classe artística e cultural permanece utilizando das ferramentas digitais para elaboração e transmissão do seu trabalho, levando um suspiro de esperança em tempos tão difíceis.

Bárbara Souza – 8° período

5 comentários em “Arte e cultura se reinventam durante o isolamento

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