Conhecidos no Brasil desde os anos 90, os animes se tornaram um sucesso tão grande que hoje têm um mercado com grandes investimentos pelo mundo, e no Brasil não poderia ser diferente. Atualmente, as adaptações dos mangás japoneses têm recebido por aqui grandes investimentos por parte de canais de TV e também dos serviços de streaming.
Os animes começaram a ter um grande sucesso primeiramente no Japão em meados dos anos 80 com animes como Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball. Porém só teria sucesso por aqui quase uma década depois com animes que fizeram história, como o próprio Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball Z e Yu Yu Hakusho.
Devido ao sucesso em sua chegada ao Brasil nos anos 90, os animes continuaram sendo comercializados por aqui, e, nos anos 2000, muitos animes que hoje são considerados icônicos para quem foi criança naquela época, como Pokémon, Digimon, Inuyasha, Naruto e Yu-Gi-Oh, só fizeram com que este tipo de mídia conseguisse seu devido lugar no país como parte da cultura pop.
Muitos canais abertos brasileiros abriram suas portas para investir em animes cujos episódios eram disponibilizados em programas infantis em que havia um apresentador, que era uma mulher na maioria das vezes, e aconteciam brincadeiras entre o espaço de um desenho e outro. Teve a TV Globinho na Rede Globo, Bom Dia e Cia no SBT e um dos mais importantes canais lembrados no Brasil por passar animes era a atualmente extinta Rede Manchete, que teve seu auge passando Yu Yu Hakusho, Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon e Super Campeões, entre outros.

Um dos pontos principais para a ascensão dos animes no Brasil com certeza se deve à sua dublagem única que marcou gerações. É possível dizer que, se não fosse pela dublagem, os animes não teriam essa força que têm até hoje no Brasil. Entre outros aspectos que fazem os animes serem tão queridos são a trilha sonora, seja com a música de abertura, de encerramento ou que acontece no meio de um episódio, a história que é contada e seus personagens marcantes.
“A meu ver, os animes são como as séries que de uns tempos pra cá têm se popularizado cada vez mais. A diferença é que, como se trata de animação, fica aberto a acontecerem coisas surreais, o que traz mais emoção às histórias. Meu favorito no momento se chama ‘Tokyo Ghoul’, e o principal para mim foi a trilha sonora do desenvolvimento do personagem principal. Com certeza o fator emoção está presente na maioria dos animes e acho que isso é o principal motivo de gostar tanto, além de muitos ensinamentos sobre nunca desistir, defender as pessoas, confiar em si mesmo, etc.”, afirma Caio Fernandes, que sempre curtiu animes desde criança, porém voltou a se identificar com os animes mais recentemente, virando uma paixão de vida.
Apesar deste grande sucesso que fez nos ano 1990 e 2000 no Brasil, os animes depois de um tempo foram perdendo sua força na televisão brasileira, que já não tinha mais tantos programas infantis como no passado. Com a ausência de espaço dos canais abertos, os animes conseguiram passar por uma nova etapa: ir para os serviços de streaming. Hoje, serviços como Netflix e Amazon investem pesado nas produções. A Netflix traz animes originais produzidos pela empresa, como Castlevania, por exemplo, e faz o processo de dublagem de alguns animes que nunca chegaram a ganhar uma versão em português por aqui, como Beastars, Baki e One Piece. Este último foi um sucesso tremendo, fazendo com que ficasse no ranking dos 10 mais vistos atualmente da plataforma. Já a Amazon prefere trazer animes apenas como distribuidora, com áudio em japonês, como Dororo e Vinland Saga, ou trazer animes que foram sucesso no passado com dublagens memoráveis, como Inuyasha, Fly e Shaman King.
Com o sucesso nos serviços de streaming, os animes conseguiram uma popularidade que não era vista nem na época em que surgiu no Brasil pela programação televisiva. Devido à internet e ao marketing, muitas obras ficam bem mais populares por aqui, além do fato de chegarem tantas dublagens boas e recentes. Mas isso não se deve apenas a serviços como Netflix e Amazon.
Devido à ascensão dos animes, existem hoje streamings especializados no assunto, como é o caso da Crunchyrool, que hoje tem mais de 3 milhões de assinantes no Brasil, oferecendo mais de 800 séries de anime, mais de 200 doramas asiáticos e a opção de pode ler mais de 50 títulos de mangás. Apesar desses pontos positivos, o streaming também tem seus pontos negativos, como nem toda a programação da plataforma estar disponível em todos os países por causa das regras de licenciamento dos animes. Ou seja, para cada região, a Crunchyrool tem os direitos de distribuição de alguns animes mas não de todos. Outro ponto que faz o serviço de animes ser tão popular se deve às dublagens originais que ele mesmo fez por aqui, com obras como Re Zero, Youjo Senki e Black Clover, entre outras recentes e de muito sucesso.

Anderson Santos, assinante da Crunchyrool que cresceu vendo animes na TV aberta como Inuyasha, afirma gostar de poder pagar por um serviço que oferece conteúdos para este tipo de público, pois, ao assinar o streaming, ajuda a promover mais os animes no Brasil e diz gostar muito da maneiras que as histórias são contadas por meio dos animes.
“O jeito que a história é contada, elementos fantasia, às vezes até mesmo uma válvula de escape da sociedade, outras um reflexo dela. Meu anime favorito é Inuyasha pelo que ele representa na minha infância, uma história de amor que transcende o tempo, com elementos de fantasia e ação. Acredito que goste tanto de Inuyasha pela nostalgia da infância, além de, para mim, ele ter uma boa história. Acho interessante a proposta da Crunchyrool, pois ter um serviço que fornece esse tipo de conteúdo faz os fãs quererem assinar para ajudar a promover os animes cada vez mais”, comenta Anderson.
Outro serviço de streaming focado em animes chegará no Brasil para rivalizar com Crunchyrool em dezembro. Trata-se da Funimation, serviço pertencente à Sony que contará com mais de 200 animes em sua estreia e inclusive dublagens inéditas como Boku no Hero, Attack on Titan, Overlord, Claymore e outros títulos.
Devido a esse sucesso dos streamings focados em animes, surge um projeto que será lançado em abril de 2021 no Brasil intitulado Anistade. Ela será a primeira plataforma de streaming voltada para animes e animações brasileiras, tendo seu conteúdo de HD até 4K. A ideia de criar este serviço foi de produzir animações originais e com parceria de estúdios independentes, dando chance para inúmeros animadores que são bastante talentosos, mas que não têm muita oportunidade – por conta de pouca visibilidade, esses profissionais não conseguem contatos com grandes empresas que trabalham com animações, como a Disney, por exemplo. A Anistage também contratará dubladores profissionais para seus animes e o marketing feito com suas produções através das redes sociais tem agradado muito o público “Otaku”.

O animador 2D Julio Cezar Santos, que está trabalhando em parceria com a Anistage, comenta que é seu sonho poder trabalhar em um projeto tão importante e isso ajuda a mostrar que tem muitos animadores excelentes no Brasil, tirando um pouco o foco quase que constante do brasileiro nas obras estrangeiras, dando uma chance para que as produções nacionais mostrem seu devido valor.
“O Brasil sempre foi um grande consumidor de animes e outras animações em geral, então não é de se espantar que esse sucesso cresça cada dia mais, e no Brasil há uma imensidão de artistas talentosos, e trabalhar com isso provavelmente é a metas de muitos, ainda mais se for algo do gênero, mas original do Brasil. Acho incrível o projeto, algo ousado mas necessário, para desvincular um pouco essa dependência de que brasileiro tem em apreciar apenas obras estrangeiras e não perceber o potencial que o Brasil pode oferecer nesse ramo. Em relação a dar chance a artistas, uma das intenções da Anistage é justamente esta, mostrar que temos tantos talentos capazes de fazer algo fantástico, mas que na maioria das vezes não temos oportunidades para demonstrá-la, e a Anistage traz esse desafio de entregar algo bom com qualidade de artistas brasileiros”, explica Julio.
A paixão por animes ultrapassa tantas barreiras que um fã que ama tanto uma obra quer ficar o mais conectado possível com este universo. Seja consumindo produtos como camisas, action figures, jogos, mangás, entre outros. Porém existe uma categoria de pessoas que adoram e vivem tão intensamente nesse mundo dos animes que se fantasiam de seus personagens favoritos, são os chamados cosplayers. Há muito tempo, quando a cultura dos animes não era tão presente nos Brasil, essas pessoas eram vistas com maus olhares por se fantasiarem de personagens das animações japonesas. Com a ascensão deste universo, hoje esses cosplayers são vistos como profissionais sérios que se vestem para mostrar o que os animes significam na vida deles. Ederson Queiroz, fã de anime desde criança e que assiste até hoje esse estilo de animação, comenta sobre o filme de anime Viagem de Chihiro, que é tão popular no Brasil, que muitos admiradores e cosplayers se vestem a rigor para homenagear a obra. Para ele, o cosplay é uma forma de arte e não deve ser julgada, pois estes fãs apenas estão demonstrando sua paixão pelo que amam.
“Personagens de animes são icônicos, sua personalidade e história de vida ganham admiração dos fãs. Cosplay não é apenas uma fantasia. Me recordo de ter visto um vídeo em que a pessoa em questão relata estar em um evento de cosplay, e estava presente o Sem-Rosto, personagem do filme A Viagem de Chihiro, oferecendo chocolate em forma de moedas de ouro para as pessoas que passavam. Muitos aceitavam, afinal, qual seria o problema? Mas, na realidade, o correto seria recusar a moeda, pois no filme o Sem-Rosto representa a ganância, oferece ouro às pessoas, mas em troca acabava as engolindo. No filme, o Sem-Rosto oferece ouro à Chihiro, mas diferente de todos, ela recusou, afinal, por que ela precisava de tanto ouro? Essa atitude da menina faz com que o fantasma se tornasse seu amigo e companheiro de viagem. Cosplay é uma arte que dá vida a um personagem”, afirma Ederson Queiroz.
Pela popularidade que alcançou ao surgir aqui nos anos 90, como uma novidade, os animes só se fortaleceram com o passar do tempo, criando laços com seus fãs brasileiros pela forma de contar histórias e surpreender o público com seu rico enredo. E por ter nutrido essa relação positiva com seus fãs brasileiros, hoje consegue haver uma troca entre as empresas de animes, sejam de streaming ou de venda de produtos do gênero, e seus clientes, em que a empresa oferece um serviço que o consumidor vai ficar satisfeito e com isso pagará para tentar fazer com que os animes cresçam mais por aqui. Ainda não existe um limite até onde a cultura japonesa pode chegar no Brasil, mas ela ainda tem muito mercado por aqui para investir nos próximos anos.
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Rafael Barreto – 8º período
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