A pesquisadora em mobilidade urbana para pessoas com deficiência no Brasil, Adriana Silva Barbosa, conta que mesmo existindo diversas leis assegurando o acesso dessas pessoas a espaços públicos e privados no País, essas normas não são cumpridas como deveriam na prática.
Para ela, que é Doutora em Política Científica e Tecnológica, a falta de acessibilidade acaba sendo naturalizada dentro da sociedade brasileira, inviabilizando o entendimento de que é um problema de todos e não só do outro. Confira a entrevista exclusiva de Adriana, que também é uma pessoa com deficiência (PcD), para a Agência UVA:
Agência UVA: Quais são os obstáculos, referente à acessibilidade, que as pessoas com deficiência enfrentam diariamente?
Adriana Barbosa: São muitos obstáculos, podemos falar em vários: elevadores para cadeirantes que nem sempre funcionam; a própria escada dos ônibus são muito elevadas e assim muitas pessoas não conseguem alcançar; a falta de acesso às estações de metrô, que só se têm por escada; a falta de sinalização nos terminais de ônibus para cegos.
Eu, como uma pessoa com deficiência física, sempre tive dificuldade para subir nos ônibus, minha perna não alcança o degrau do ônibus, então, sempre foi um transtorno essa questão com os transportes públicos. Infelizmente, em pleno século XXI, muitas pessoas com deficiência acabam tendo dificuldade para ir e vir de suas residências porque não têm as condições adequadas de acessibilidade em suas cidades.

Agência UVA: Quais leis asseguram o acesso à mobilidade urbana hoje?
AB: Na verdade, no Brasil o que não falta é lei que assegure os direitos a pessoas com deficiência, dentro da própria Constituição tem lei que garante o direito de acesso a todos, existem várias legislações e normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que respaldam o direito das pessoas com deficiência na mobilidade urbana, mas infelizmente, na prática essas leis e normas não são cumpridas como deveriam no Brasil.
Agência UVA: Como funciona a fiscalização e atuação por irregularidades?
AB: Na questão da sinalização para que pessoas com cadeira de rodas façam transferência e assegurar as vagas de estacionamento para pessoas com deficiência, quem deve fazer esse tipo de fiscalização é o Detran. Para as vias, calçadas e edifícios acredito que é a própria prefeitura e município responsáveis por isso. Quando se tem um projeto de ambiente público, de convivência, o órgão público responsável tem que verificar se está de acordo com as normas e tem de fazer uma correção se não estiver. Eles não podem deixar passar esses erros. Um ambiente público é de todos e precisa ser acessível.

Agência UVA: Você pode contar alguma experiência que já vivenciou?
AB: Eu tenho uma deficiência física, tenho hemiplegia direita, causada por uma paralisia cerebral, quando nasci, que é uma limitação motora e sensitiva no lado direito do corpo, então, eu tenho uma dificuldade de mobilidade no lado direito do corpo e com isso minha perna direita não se ergue até conseguir pisar no primeiro degrau do ônibus. Passei minha vida inteira, até recentemente quando tirei minha carteira, dependendo de pegar transportes públicos e aí simplesmente eu não conseguia subir nos ônibus e isso me causava uma série de transtornos, até já fui prensada por uma porta de ônibus e me machuquei. Fora que já vi pessoas com deficiência caírem nos ônibus, por não conseguirem se sentar ou pelo arranque do motorista.
Agência UVA: Como é lidar com a normalização da falta de acessibilidade?
AB: A falta de acessibilidade no Brasil acaba sendo naturalizada. Infelizmente, a sociedade brasileira é preconceituosa em relação à deficiência e invisibiliza as pessoas com deficiência. E [a sociedade] considera que elas têm de se virar, que elas que precisam resolver o problema, mas na realidade a falta de acessibilidade é um problema de todos. Locais acessíveis são importantes para todos. Porque, infelizmente, ninguém está livre de ter uma deficiência, pessoas serão idosas algum dia e pessoas idosas também têm problemas de mobilidade, assim como quem tem um carrinho de bebê. A acessibilidade também envolve a questão do ambiente construído. Até porque, a diversidade é o padrão.
Confira uma das pesquisas de Adriana sobre o tema: Mobilidade urbana para pessoas com deficiência no Brasil: um estudo em blogs
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Anne Rocha (5° período), Indaya Morais (8° período) e Vinícius Azevedo (7° período)
Foto de capa: Pixabay
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