De título instigante e dirigido por uma mulher, Ashley Eakin, “Perdoai-nos as Nossas Ofensas” é um curta que traz uma experiência única e perturbadora, responsável por transformar quem o assiste. Não é preciso de muito para compreender a mensagem que ele passa, afinal os horrores da Alemanha nazista permanecerão para sempre na memória popular como uma história que dispensa repetições.

Em pouco menos de 15 minutos, a trama acompanha Peter Weber (Knox Gibson), um menino que, à primeira vista, conseguiria se encaixar perfeitamente aos padrões arianos do Terceiro Reich. Entretanto, um pequeno detalhe faz com que o garoto não se torne digno: era uma pessoa com deficiência. Para o partido nazista, a raça ariana era uma “raça superior”, e qualquer imperfeição que houvesse deveria ser eliminada. Peter era imperfeito.
A partir deste detalhe se dá o desenvolvimento do enredo, acompanhando o reflexo do Programa de Eutanásia Aktion T4, que tinha como função eliminar e esterilizar esses grupos – estima-se mais que 200 mil mortos, incluindo crianças e bebês, neste processo. O realismo aplicado incomoda, principalmente no tratamento que o protagonista recebe.
A ambientação da obra remete bem ao nacionalismo extremo da época. A sala de aula de Peter é construída de modo a cultuar o líder, com uma foto de Hitler à vista de todos, além de uma enorme suástica, símbolo do partido. O conteúdo didático é feito para que se fertilize o ódio, demonstrando sempre uma luta de “nós” contra “eles”.
O interessante é acompanhar como os ideais do partido funcionavam na prática. Até mesmo as ciências exatas eram usadas para manipular pensamentos. Em determinado momento, a professora (Hanneke Talbot) utiliza a matemática para demonstrar as despesas geradas por uma pessoa com deficiência ao governo alemão.
Não bastasse isso, quando um aluno faz uma pergunta sobre o que deveria ser feito às pessoas com deficiência, Peter é fitado pelo olhar de outro jovem, que diz que a morte seria a solução.

É difícil conter as diversas emoções enquanto se assiste à obra, porque todos agem em harmonia, a ponto de fazer com que a narrativa seja entendida, ainda que sem palavras. A iluminação, trilha sonora, expressões corporais e falas são introduzidas no tempo certo, tornando a experiência orgânica.
A fotografia é impecável. Conforme o tempo passa, as cenas perdem o tom comum e passam a ficar cada vez mais azuladas e escuras, concordando com a tristeza da ocasião. A música toca consistentemente, combinando notas serenas de um piano à rigidez de um violoncelo, com marcações rítmicas que soam como um coração batendo fortemente, quase que saindo pela boca.
A atuação impecável de Knox dá à obra ainda mais vigor. Ele se mostra totalmente imerso na personagem, adotando a sua personalidade e assumindo as suas complexidades. Talvez seja por isso que o final da obra seja tão ofegante, levando a reflexões gigantescas, capazes de gerar insônia.
O curta “Perdoai-nos as nossas ofensas” é uma obra atemporal, trazendo consigo uma precisão histórica, necessária para a manutenção da humanidade. Em tempos atuais, onde o ódio ao diferente vem se tornando cada vez mais comum, a obra se faz obrigatória. Aprender os erros do passado é garantir um futuro próspero.
Ficha técnica – Perdoai-nos as Nossas Ofensas
Direção: Ashley Eakin
Duração: 14 minutos
Classificação: 16 anos
Gênero: Drama
Ano: 2022
Assista o trailer do curta abaixo:
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Natally Valle (3° Período) e revisado por Leonardo Minardi (7ª Período)
Arrasou no texto, tenho muito orgulho de você
Massacre esquecido e pouco abordado. O curta é intenso e muito bem produzido, super necessário nos nossos dias.
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