Em 8 de setembro foi comemorado o Dia Mundial da Alfabetização, data celebrada com o objetivo de evidenciar a importância da alfabetização como fator fundamental de desenvolvimento social e econômico no mundo todo. Entretanto, o número de analfabetos em torno do mundo ainda é alto e a preocupação é de que a pandemia agrave ainda mais esse cenário, considerando que pais e professores têm enfrentado desafios para alfabetizar os alunos nesse período.
O Dia Mundial da Alfabetização, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1967, tem o propósito de trazer debates acerca do processo de alfabetização, especialmente em países com alto índice de analfabetismo, como o Brasil. O Covid-19 tornou essa discussão ainda mais delicada, visto que pais, alunos e professores tiveram que se reinventar para dar continuidade aos estudos em casa.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), apontam que o país possui cerca de 11 milhões de analfabetos. Além disso, 34% das crianças brasileiras chegam ao final do terceiro ano do ensino médio sem ler ou escrever adequadamente, segundo dados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA). A suspensão das aulas logo após o início do ano letivo, desafia a qualidade da alfabetização das crianças que estão passando por esse processo ou que tinham acabado de entrar nessa fase.

A situação se agrava ainda mais tratando da realidade socioeconômica de muitos dos estudantes desse primeiro ciclo do ensino fundamental. Boa parte não tem acesso a um serviço de internet de qualidade, nem a estrutura necessária para estudar com conforto e segurança. Para a Professora e Coordenadora do Curso de Pedagogia, Viviani Anaya, esses alunos são prejudicados de forma irreversível.
“Os alunos das escolas públicas, sobretudo das regiões mais afastadas com problema de vulnerabilidade social e econômica mais acentuadas sofrem mais porque não têm acesso à educação da forma de como ela deveria ser distribuída”, acrescenta a professora.
Tal fato é deveras preocupante, considerando que a educação é responsável por grandes retornos econômicos e sociais, criando países desenvolvidos e com maior igualdade social.
Robson Cardoso de 33 anos, autônomo, é pai de gêmeas de 4 anos que tinham acabado de entrar na escola. Morando em uma área rural do município de Itaboraí, na qual o sinal de internet não é tão estável e, até mesmo o acesso à água encanada e saneamento básico é raro, ele e sua esposa, Viviane Cardoso, encontraram dificuldades para tornar parte da rotina a tarefa de pré-alfabetizar as filhas. Ele conta que o maior desafio dessa nova rotina está sendo conquistar a atenção delas em relação ao estudo.
“O maior problema está sendo manter o foco das meninas, já que elas não conseguem manter a concentração, e com isso não conseguimos dar o dever todo que a professora passa, então só aprendem o que a gente consegue ensinar”, afirma o pai sobre as dificuldades enfrentadas por ele e sua companheira.

Crianças que estão na fase de pré-alfabetização, passam a ter interesse pelas palavras e começam a conhecer vogais e consoantes para que no período de alfabetização, que ocorre em média entre os 6 e 7 anos de idade, elas possam começar a fazer a junção dos sons para a leitura e escrita das palavras.
Para tentar ajudar os pais que estão tendo dificuldades em ensinar seus filhos, a coordenadora Viviani Anaya aconselha: “É preciso que os pais estabeleçam uma rotina de estudos como era na escola e incentivem sempre a criança a conversar com os colegas, além de formular dúvidas para o professor.” Outras atividades que os pais podem fazer junto aos pequenos para estimular o interesse pelo mundo das palavras é a montagem de quebra-cabeças, leitura de livros, fazer desenhos pontilhados com formato das letras para eles completarem, dentre outros.

Para os professores que enfrentam a missão de alfabetizar, mesmo que à distância, o uso da tecnologia tem se mostrado uma ferramenta essencial. A professora Elisa Bragança, do curso de Redação Bebel Pantaleão, localizado em Niterói, diz que o uso da tecnologia pode ser uma forma de despertar o aluno.
“Dando aula conseguimos recursos mais facilmente. Quando quero passar um vídeo, por exemplo, o aluno consegue ver rapidamente, fica mais dinâmico”. Entretanto, a professora ressalta que as aulas em ambiente virtual podem atrapalhar o rendimento de alunos que se dispersam com facilidade. “O uso da tecnologia pode atrapalhar porque o aluno acaba tendo muitas possibilidades na frente do computador e assim se dispersa”.

Apesar das aulas online serem de grande ajuda, a participação dos pais tem um papel fundamental, especialmente na fase de pré-alfabetização e alfabetização, já que há uma insuficiência de alternativas tecnológicas que representem as figuras do professor e da escola no processo de aprendizagem. Robson diz que a importância do papel do professor tornou-se ainda mais evidente para ele. “Agora eu percebi como é difícil o trabalho dos educadores, de conseguir prender a atenção de várias crianças dentro de uma sala de aula, é uma proeza”, e complementa: “Os educadores que conseguem estão de parabéns, porque é muito difícil, muito complicado”.
Certamente o momento é delicado, mas a educação precisa ser priorizada, tanto pelos pais e professores como pelos órgãos públicos. É preciso ter em mente que o maior desafio é alfabetizar e disseminar o conhecimento de forma adequada, visto que as crianças de hoje são os adultos do futuro e possíveis responsáveis por grandes mudanças sociais.
Mateus Almeida Marinho – 8º período
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