A produção cultural drag e a literatura transexual são parte da vida e da pesquisa de Rita von Hunty, professora, drag queen e influenciadora; de Amara Moira, Doutora em Teoria Literária, escritora e ativista e de Helena Vieria, professora e escritora transfeminista. “É muito importante resgatar as memórias e a história da transexualidade e da cultura drag. Grupos minoritários e não dominantes precisam ter sua voz ouvida”, reforçou Helena, com a concordância de Rita e Amara.
As três fizeram parte de um dos bate-papos durante o Salão Carioca do Livro (LER), no meio do mês de maio, na Praça Mauá. As convidadas contaram suas experiências e discutiram literatura trans, a manipulação de narrativas, sistemas de opressão, e educação.
“A história que nós conhecemos é também um grande trabalho de imaginação, porque a história dos poderosos é contada como verdade, e a nossa como superstição, crendice, delírio e relato. Nós temos que descolonizar a memória, temos que falar dos nossos ancestrais e das nossas histórias”, expõe a professora Helena Vieira.

Para ela, uma vida sem literatura se torna insustentável, algo automático. A professora destaca a importância da literatura em ofertar capacidade imaginativa.
“Lendo fui conseguindo conjugar instrumentos para pensar o mundo. A literatura e a escrita nos ofertam uma relação de ‘desfilamento da realidade’, como diz Paulo Freire, mas também de instrumentos que compõe a realidade e tornam nossa vida mais ‘vivível”, expressa a professora.
Igualmente, a professora e ativista Amara Moire trouxe como referência literária as obras de Marquês de Sade, nas quais o autor buscava retratar diversos corpos e gêneros com naturalidade. Ela acredita que estas obras ainda têm muito a ensinar nos dias atuais.
“Uma obra de uma figura considerada doida, que passou a maior parte da sua vida internada em manicômios, de repente está sendo recuperada 100, 200 anos depois tendo muita a ensinar sobre gênero e questões LGBTQIA+”, relata Amara.
Em contraponto, Rita von Hunty cita como a narrativa é suscetível a um poder vigente, afirmando que um sistema de opressão pode promover não apenas uma “miséria material” de grupos tidos como subjugados, mas também uma “miséria subjetiva”, que desvaloriza o conhecimento produzido por integrantes desses grupos. De qualquer forma, a artista é otimista:
“Desejem o impossível, porque um povo que deseja o impossível, é um povo impossível de controlar”, manifesta Rita.
auto construção em um sistema de opressão
(Vídeo: Indaya Morais/Agência UVA)
Em encerramento, Helena reforça que todas as histórias são dignas de serem contadas, e incentiva os ouvintes a escreverem, pois acredita que a escrita é, de certa forma, a extensão do ato de falar:
“Saiam daqui hoje pensando: ‘que poesia há na minha vida, que pode ser escrita?’, e a transmitam de alguma forma”, convida a professora.
Foto de Capa: Divulgação/Salão Carioca do Livro (LER)
Indaya Morais (8º período), com revisão de Leonardo Minardi (7º período) e Gabriel Folena (5º período)
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