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Vitor Martins aborda romances LGBTQIA+ e a pandemia no Salão Carioca do Livro (LER)

O escritor falou sobre seu mais novo sucesso "Se a casa 8 falasse" e a importância da representatividade em suas obras

Na última sexta-feira (13), o quinto dia do festival de literatura Salão Carioca do Livro (LER) se instalou no centro do Rio, no Píer Mauá. Um dos autores convidados do evento foi Vitor Martins, na mesa “Era uma casa muito engraçada…”, mediada por Jackson Jacques, para uma conversa sobre seu romance mais recente, “Se a casa 8 falasse”, publicado pela Editora Alt em setembro de 2021.

Natural de Nova Friburgo, Vitor começou sua jornada na internet com blogs e logo migrou para o YouTube, onde não é mais ativo. Sua exposição online favoreceu a publicação de seu primeiro romance “Quinze Dias”, em 2017, pela Editora Alt, parte da Globo Livros. Em 2021, o livro foi traduzido para os Estados Unidos sob o título “Here The Whole Time”, com mais traduções a caminho. Desde sua estreia, o escritor publicou mais dois romances e alguns contos. Seu mais recente, “Se a casa 8 falasse”, de 2021, também tem tradução para inglês prevista para esse ano sob o título “This Is Our Place”.

O terceiro livro de Vitor se tornou um dos mais vendidos de 2021. (Reprodução: Amazon)

Narrado em períodos temporais diferentes — anos 2000, 2010 e 2020 —, o novo romance de Vitor traz três protagonistas que vivem na mesma casa, em anos distintos. Os arcos trazem características icônicas de cada período, como o bug do milênio, o auge das locadoras e Blockbusters e o surgimento das redes sociais. Um dos arcos abordados é o reflexo da pandemia de Covid-19 em jovens. A narração do livro fica por conta do local em que os personagens vivem, a Casa 8. Essa escolha implica em apenas contar o que acontece dentro da casa, tornando a história acolhedora, sendo reflexo do isolamento social do próprio autor durante a pandemia.

Inicialmente, o livro que Vitor publicaria não era esse. O projeto se chamaria “Fred e Fred”, e começou a ser escrito no fim de 2019. Segundo o autor, o romance era animado e fervoroso, e ele não se via capaz de escrever cenas em uma balada ou ambientes de trabalho durante a pandemia. O livro foi colocado de lado, e “Se a casa 8 falasse” nasceu. Entretanto, o escritor ainda tem planos de retomar a história.

Todas as histórias de Vitor contém protagonismo LGBTQIA+, que acolhe grande parte de seu público. Presentes no evento, estavam as leitoras Meliana e Duda, ambas com todos os livros do escritor em mãos, assistindo a conversa entusiasmadas e esperando para autografar seus livros. Meliana acredita que representatividade sempre foi muito difícil de encontrar em romances, e que isso a atraiu para o conteúdo de Vitor. Ela ainda cita seu segundo romance, “Um milhão de finais felizes”, que aborda questões como religiosidade e problemas familiares causados pela sexualidade do personagem.

“O que mais me atraiu foram as histórias tranquilizadoras. Histórias LGBTQIA+ não precisam ter um final trágico, e trazem esperança enquanto se está lendo.”, conta Meliana.

Duda comentou sobre como as obras acabam atingindo pontos sensíveis, como no romance de estreia de Vitor, “Quinze Dias”, que fala sobre gordofobia com um protagonista gay. “Todos os livros dele tem algo que toca em um ponto muito pessoal para nós, como “Quinze Dias” foi importante para mim, que sou gorda e LGBTQIA+, e assim como o protagonista, sempre me senti insegura de entrar na piscina e situações como essa.”, disse.

Vitor e Jackson conversaram sobre literatura LGBTQIA+ no Palco Voz & Vez. (Foto: Agência Uva/Malu Danezi)

Quando perguntado sobre o que considera ser literatura jovem, Vitor foi assertivo em dizer que a interpretação do assunto foge do conceito datado do que é ser adolescente.

“Existem coisas fáceis de identificar, como o primeiro beijo e coisas do tipo, mas também perder os pais ou uma situação mais pesada não deixam de ser algo que adolescentes estão suscetíveis a viver. Para mim, literatura jovem é sobre pensar como seria a reação de um jovem nessa situação”, explicou Vitor.

Foto de capa: Agência Uva/Malu Danezi

João Pedro Agner (2º período), com revisão de Leonardo Minardi (7º período)

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