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Raphael Montes fala sobre escrever para o streaming no Salão Carioca do Livro (LER)

O escritor conta sobre projetos em andamento e abordagem de elementos culturais no suspense de suas obras

Na última sexta-feira (13) ocorreu o quinto dia do festival literário Salão Carioca do Livro (LER), evento que reúne autores e entusiastas de literatura, no Píer Mauá. Dentre as atrações, o autor Raphael Montes foi convidado para a mesa “Do rascunho ao stream” no Palco Voz & Vez, mediada por Jackson Jacques. 

Sendo considerado um dos maiores nomes do suspense e horror contemporâneo nacional, o escritor carioca estreou na literatura em 2009, sendo publicado em uma antologia policial. Seu primeiro romance, “Suicidas”, foi lançado em 2012. Após sua estreia, publicou “Dias Perfeitos” em 2014, “Jantar Secreto” em 2016 e “Uma Mulher No Escuro” em 2019. Além disso, também participou de diversas coletâneas.

O livro ‘Dias Perfeitos’ foi traduzido para 14 países (Foto: Reprodução/Amazon)

Em conjunto com Ilana Casoy, Raphael escreveu “Bom Dia Verônica”, ambos sob o pseudônimo Andrea Killmore. Esse livro deu origem à série nacional de mesmo nome na Netflix, roteirizada por ele. Como roteirista, Raphael também foi colaborador da novela “A Regra do Jogo” (2016) da Rede Globo, e dos filmes “A Menina Que Matou os Pais” e “O Menino Que Matou Meus Pais”, ambos inspirados no caso Von Richthofen, lançados na Amazon Prime em 2021.

Raphael abriu a mesa compartilhando que, no início de sua carreira como escritor, ouviu muitos dizerem que escrever suspense no Brasil nunca daria certo. Raphael persistiu, e contou que seus livros abriram caminho para o cinema e a televisão, que eram grandes sonhos do autor.

“Não escrevo pensando nem em sucesso, nem em fracasso. Acho que no fim é tudo uma consequência. Creio que especular essas situações pressupõe uma soberba de saber o que o público quer, e você só sabe o que você quer. A pessoa que eu devo agradar sou eu”, conta Montes.

O autor conta que enxerga o caminho de suspense e horror nacional sendo bem escasso, mas que aos poucos tem sido expandido com o surgimento de novos autores. Sobre a competitividade no mercado, Raphael aparenta estar bastante seguro de suas obras, acreditando que o fato de ter mais autores no gênero não contribuirá para que o público deixe de ler seu trabalho. 

No fim de 2021, Raphael fechou um contrato de produção de obras originais com o serviço de streaming HBO Max , atuando como criador e produtor executivo de séries, filmes e novelas recheadas de suspense, drama e reviravoltas, incluindo adaptações de alguns de seus livros. No momento, Raphael revelou estar escrevendo uma novela para o streaming.

A série ‘Bom dia, Verônica’ estreou em outubro de 2020 e foi um grande sucesso em diversos países (Reprodução: Netflix)

O Brasil é o cenário de todas as suas obras. Raphael contou que gosta de escrever histórias ambientadas no espaço nacional sem se preocupar com a tradução de seus projetos e como serão adaptados em outras línguas. Ele conta que acha que o preconceito do leitor brasileiro com a obra nacional está se quebrando aos poucos, quando começam a descobrir os prazeres de ler livros nacionais contemporâneos e de se identificar com eles.

“Quando olho para o mundo, o que me interessa contar são as violências e questões familiares. No mundo em que vivemos, não é completamente realista uma história onde o mocinho vence e o vilão perde no fim”, contou Raphael.

No momento, Raphael tem projetos em andamento com os principais serviços de streaming no mundo — contrato com HBO Max, a nova temporada de “Bom Dia, Verônica” na Netflix, a adaptação de “Dias Perfeitos” para o Globoplay e uma comédia romântica para o Disney+.  Raphael se abriu dizendo que os projetos audiovisuais o garantem um retorno financeiro muito maior que a literatura, mas que procura encontrar o equilíbrio entre os dois processos, por achar que não se satisfaria por completo apenas como roteirista. Ele conta que gosta de mesclar os gêneros textuais para dinamizar sua rotina de escritor, alternando entre narrativas em prosa e roteiros.

O escritor contou que os serviços de streaming buscam criar conteúdo nacional baseado em livros pela garantia de uma boa história, e esse foi um dos fatores pelo qual ele foi convidado para o universo de roteiros. Ele diz que o projeto audiovisual dá maior alcance para o autor, e atrai os leitores em busca do livro originário. O exemplo disso é “Bom Dia, Verônica”, que teve um aumento de vendas gritante após o lançamento da série, o que impactou outras obras literárias de Raphael.

Respondendo a pergunta tema do Palco Voz & Vez (“qual é a sua voz e para quem ela fala?”), Raphael diz acreditar que sua voz é a de alguém que tem um olhar irônico para a violência no mundo. 

“Eu quero que minhas histórias entretenham, mas que também provoquem e façam refletir.”

Raphael conversa com o mediador Jackson Jacques sobre escrever para o audiovisual (Foto: Agência Uva/Malu Danezi)

O festival LER tomou conta do Píer Mauá durante toda a semana de 9 a 15 de maio, e recebeu diversos autores nacionais. 

Foto de capa: Agência Uva/Malu Danezi

João Pedro Agner (2º período), com revisão de Gabriel Folena (5º período)

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