A aula inaugural “Comunicação e História: Possíveis consequências para o conflito Rússia x Ucrânia”, realizada na última quarta-feira (23), reuniu debatedores experientes, que falaram a respeito das consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia sob o ponto de vista das duas áreas que levam o nome do projeto. O embate completou um mês e traz consigo dúvidas e anseios sobre o presente e futuro.
O evento mediado por Regiane Jesus, jornalista com passagens pela Rádio Globo, Caderno Tijuca e Zona Norte, do Globo, procura mostrar como serão os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia, já que períodos históricos trazem sequelas inimagináveis ao mundo inteiro.

Giovanni Codeça, professor e coordenador do curso de História da UVA e mestre em Ciência Política, abordou o histórico dos dois países protagonistas, além de analisar o contexto geopolítico mundial, sugerindo ainda uma reflexão sobre o cenário atual.
“Nós estamos num mundo em conflito: vários países sendo bombardeados e vivendo guerra civil. Então, é diante desse cenário de caos instaurado que devemos nos perguntar sobre como chegamos até aqui”, assinala o professor.
Quase uma herança da Guerra Fria, os ucranianos passaram por momentos de divisão entre leste e oeste, determinante para o grau de influência, ocidental ou oriental. Embora o conflito ideológico tenha esfriado, a expansão da Otan no Oriente, especificamente na Ucrânia, não foi tolerada por Vladimir Putin, presidente da Rússia, que deu início a algo chamado, por si mesmo, de operação militar especial.
Todos se debruçam sobre o assunto, sobretudo o jornalista. Com a rapidez das informações, novas notícias surgem a todo instante, comprovando a falta de rotina do profissional que resolve seguir nessa área. É o quec cita Thayana de Araújo, coordenadora de conteúdo da CNN Brasil.
“O jornalista tem que ser vinte e quatro horas. Na guerra da Ucrânia, recebemos a notícia de madrugada e toda a programação do dia teve que ser mudada, assim como todos os planejamentos tiveram que ser modificados para que ficássemos em função desta cobertura”, contou a jornalista.

Por mais triste que seja testemunhar uma guerra, quem atua com comunicação precisa ter força para manter a imparcialidade no ato de transmitir ao público as informações desejadas. É necessário entender as motivações para o conflito e mostrar a todos os dois lados existentes, seja a tentativa de conquistar mais independência ao país, por parte de Zelensky, presidente da Ucrânia, ou o medo do cerco ocidental com a Otan, por parte de Putin, além da visão da Ucrânia como uma extensão da Rússia.
“Como jornalistas, não estamos para tomar um partido. Deixamos isso para os especialistas econvidados, que dão seus pontos de vista sobre, por exemplo, a economia e seus impactos, que são variados”, acrescenta Thayana.
Dados divulgados pela Agência nas Nações Unidas para Refugiados (Acnur) revelam que mais de 3,5 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia. Como a cobertura desses eventos conta com registros de imagens, o fotógrafo Bruno Itan, conhecido pela profundidade na documentação do cotidiano nas comunidades, foi chamado para falar sobre o fotojornalismo. Levar a informação à população virou rotina, diminuindo as polarizações e ensinando sobre os conflitos.
“Eu comparo nas minhas redes sociais e traduzo para os moradores que me seguem”, disse o fotógrafo, complementando com a semelhança: “pode parecer distante, mas a gente tem essa noção e sentimento de invasão, de medo, de acordar às vezes com tiroteio, bombas e helicópteros em cima. Essa é uma realidade com a qual os moradores das favelas convivem”.
Um ponto crucial citado no encontro foi a não-avaliação de Putin da guerra como tal. O professor Giovanni Codeça explica que, embora existam essas visões antagônicas, não deixa de ser uma guerra pelo fato de trazer desfechos de um conflito armado, como mortes, bombardeios e impactos gerais, como os relacionados às questões econômicas. Além disso, destaca a dor enfrentada pela população.
“É a população que sempre sofre com a guerra: particularmente, idosos, mulheres e crianças. As mulheres sofrem duplamente nesse processo, tanto por serem refugiadas, quanto por ficarem no país, porque, infelizmente, ainda são alvo de violências sexuais que seguem esse tipo de ocupação”, explicou o mestre em Ciência Política.
Para Giovanni, quando se trata desse conflito, todos os lados cometeram faltas. Contudo, também destaca o cancelamento atualmente aplicado aos russos, algo que não deve ser unido às sanções. A cultura russa não deve ser apagada, nem a sua história.
“Infelizmente, a gente vive um momento na sociedade em que as pessoas vêm ficando surdas para tudo o que acontece. Essa cultura do cancelamento não deve ser confundida com as sanções econômicas e políticas, certeiras para acabar com a guerra e levar a reflexão. A ação de um indivíduo que está na presidência não pode fazer com que se jogue fora todo o arcabouço cultural e histórico desse país”, justificou.
Sobre a aula
A aula inaugural “Comunicação e História: Possíveis consequências p/ o conflito Rússia x Ucrânia” aconteceu no dia 23 de março. Transmitida pelo canal CasaCom Conecta, os interessados podem ter acesso a ela por meio do link:
Foto de capa – Pexel
Natally Valle (3° Período), com revisão de Leonardo Minardi (7º período)
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