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Músicos da Banda Uns e Outros comentam trajetória do grupo e planos para o futuro

Marcelo Hayena e Nilo Nunes dividem os palcos há mais de 30 anos levando rock nacional aos fãs

Na década de 80 o rock nacional vivia o seu auge, grupos como Legião Urbana e Ultraje a Rigor marcaram a trajetória musical do país. E outro conjunto de sucesso é a banda Uns e Outros, do Rio de Janeiro. O grupo de rock acumula diversas músicas famosas, como “Dias Vermelhos” e “Carta aos Missionários”, ambas de 1989. As exibições nos palcos continuam até hoje, mas muita coisa mudou no grupo dos anos 80 até os dias atuais.

Sendo os únicos integrantes juntos desde a primeira formação da banda, o vocalista Marcelo Hayena e o guitarrista Nilo Nunes, contaram à Agência UVA, os detalhes sobre a composição das canções mais populares, como é a relação com outros artistas e os planos para o futuro do grupo. Acompanhe a entrevista:

Agência UVA: O que mudou do Uns e Outros da década de 80 para os dias de hoje?

Nilo Nunes: Mudou quase tudo, começando pela formação. Dos fundadores, só eu e o Marcelo insistimos em manter a banda na ativa. Quem acompanhou nossa trajetória, viu o baterista Ronaldo Pereira voltando à formação para gravar um single, mas não durou muito tempo. Essa coisa de “ter banda” é coisa para maluco mesmo. Hoje quem segura as baquetas por aqui é o Bruno Baiano. Além disso, a proposta também mudou. Na primeira fase as composições vinham, em sua maioria, do Cal e do Marcelo, com uma pegada mais voltada para a crítica social e política. No segundo momento, já com outra formação, onde faziam parte os irmãos André e Zarmo Mainiere e China no baixo, a coisa continuou pesada, porém com uma maior diversificação dos temas. Mas a partir desse ponto assumi de vez a reponsabilidade de compor, gravar, arranjar e produzir as novas músicas em parceria com o Marcelo. A formação atual, com Bruno Baiano e Gueu no baixo ainda não tem trabalho autoral registrado, mas tende a calmaria. Com a idade, aprendemos a trocar a “força” pelo “jeito”. As guitarras já não são tão distorcidas e os temas são mais suaves. São realmente três fases bem distintas.

Bruno Baiano, Nilo Nunes, Gueu Torres e Marcelo Hayena são os atuais integrantes da Banda. Foto: Beto Padilha

AUVA: Qual o melhor momento que a banda viveu durante toda a carreira?

NN: Eu diria que tivemos poucos momentos ruins. Cada etapa com sua intensidade e peculiaridades, os bons momentos foram muitos. Sem dúvida, estar em evidência, frequentar os primeiros lugares das paradas, ser o mais executado do rádio em determinado dia e gravar para os principais programas da TV brasileira foram momentos incríveis! Sem falar dos momentos de gravação dos CDs, viagens, conhecer gente e lugares novos! Acho que toda nossa trajetória está recheada desses bons momentos. Sempre tivemos uma relação interna sadia e muito bacana. Somos uma família, desde a equipe, membros, músicos e agregados. Sempre fizemos tudo com muito amor e dedicação.

AUVA: Você e Marcelo são os únicos integrantes que permanecem na banda desde o início, em 1983. A relação de vocês vai além dos palcos?

NN: Eu e Marcelo temos uma amizade consolidada de 30 anos. Durante todo esse tempo que trabalhamos juntos, desenvolvemos admiração e respeito mútuo, que foi o fator determinante para manter a banda por todos os anos. Passamos por bons e difíceis momentos, dividimos grandes palcos e tudo isso nos aproximou, de forma que considero o Marcelo um irmão. Baseamos todo o trabalho nessa amizade de longa data e se não fosse por isso já teríamos parado pelo caminho, porque a estrada é difícil.

Nilo e Marcelo são amigos há mais de 30 anos. Foto: Flávio Saturnino

AUVA: Quais são os próximos planos do grupo?

NN: Primeiramente é dar seguimento à carreira artística da banda, mantendo a unidade. Dar seguimento aos processos que já começamos, como a gravação em formato acústico de músicas autorais e de outros artistas. Além de continuar o Projeto Tordesilhas, que é uma ideia do Marcelo de regravar músicas de bandas da América Latina .

AUVA: Como você avalia o atual cenário da música brasileira?

NN: Eu não me sinto mais inserido dentro desse universo. O mundo que eu conhecia das gravadoras, acabou. Hoje em dia a música é difundida e divulgada de forma diferente. No nicho do rock existem trabalhos bons e medíocres também, que é maioria. A atual geração quer imitar aquele que fez ou faz sucesso ao invés de desenvolver um trabalho próprio, como fazíamos nos anos 80. As bandas dessa época tinham um diferencial no trabalho, como sonoridade ou maneira de se expressar. Hoje em dia eu sinto que os artistas estão preocupados em ter semelhança com quem faz sucesso.

AUVA: Os maiores sucessos do grupo são as músicas “Carta aos Missionários” e “Dias Vermelhos”, de onde veio a inspiração para esses singles?

Marcelo Hayena: A ideia de “Dias Vermelhos” começou no piano, com o irmão do Nilo. Pegamos o tema, desenvolvemos e nos inspiramos na praia do Barão, na ilha do governador, onde meu pai sempre me levava para pescar e passear nos fins de semana. Já sobre “Carta aos Missionários”, a ideia da letra foi do baixista Cal. Apenas mudei algumas frases, pensei na melodia e a deixei métrica. A inspiração foi o Plebiscito nacional do Chile de 1988, que encerrou o regime de Augusto Pinochet no país.

AUVA: Com o isolamento social, ideias podem surgir para composição de novas músicas. A banda se reuniu para pensar em novas canções?

MH: Por conta da pandemia, não foi possível nos reunir, já que estamos seguindo de maneira rígida as medidas de prevenção.

AUVA: Neste período de pandemia, a banda realizou lives nas redes sociais?

MH: Eu fiz live sozinho, com entrevistas e bate-papos.

AUVA: A banda possui mais de 80 mil ouvintes mensais no Spotify, além de 330 mil visualizações no YouTube, contando diferentes vídeos. Com a internet, o sucesso da banda se polarizou para diversas gerações?

MH: Sim, já vínhamos tendo uma renovação de público desde os anos 2000 e já sentíamos isso nos shows. Com as plataformas de streaming, apenas se acentuou. Muitos jovens que conheciam a banda através de discos dos familiares começaram a conhecer a banda por meio da Internet e isso é fundamental para que o trabalho circule, alçando um público mais novo.

Nilo e Marcelo durante um show. Foto: Cléber Júnior

AUVA: Bruno Gouveia, líder do Biquini Cavadão, já participou e regravou músicas do Uns e Outros. Qual o sentimento de ver um dos principais artistas do rock nacional trabalhar em conjunto com vocês?

MH: O sentimento é o mesmo de quando compomos o segundo disco junto com o Bruno. Éramos da mesma gravadora e nos conhecemos em um show, a partir dali começamos a participar das apresentações um do outro e compor juntos. Durante a pandemia realizamos uma música juntos para o Biquíni Cavadão. A gente se admira e tem um respeito mútuo. A admiração maior é pela pessoa, um cara que temos o grande prazer de dividir o palco.

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João Henrique Reis – 4° período

3 comentários em “Músicos da Banda Uns e Outros comentam trajetória do grupo e planos para o futuro

  1. O melhor de tudo ; que além de todo o talento que já é de conhecimento daqueles que sabem desfrutar uma boa musica , é que com todo o tempo de estrada que U&O tem no curriculo não há nada nesse tempo que desabone esses eternos garotos do nosso rock tupiniquim …
    E verdade precisa sempre dita ;
    dignidade é tudo …

  2. Não esquecer da “essência” acredito que traz esta qualidade cada vez mais rara…

  3. Carlos corrêa - Eurides

    NNS eu vi o inicio de como tudo começou,
    Na casa 2865, na Vila da Penha, a Natal na praia do Saco, mangaratiba.
    Muito maneiro. ( adrenalina ) viu aprendi. Kkkkk
    Forte abraço.

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