A Universidade Veiga de Almeida (UVA) realizou na última terça-feira (19), véspera do feriado do Dia da Consciência Negra, o evento ‘Negros, Pretos e Afrodescendentes: Culturas, Discursos e Lugares Sociais’. Durante o dia, três documentários sobre a temática foram exibidos, seguidos, cada um, de rodas de conversas sobre a representatividade negra, ou falta dela, na sociedade e nas artes. Nesses debates, figuras renomadas do movimento negro partilharam suas histórias de luta e vivências com os alunos presentes.

(Foto: Leandro Victor/Agência UVA)
No período da tarde, a mesa ‘Negro, preto e afrodescendência, os discursos e as letras’ contou com a participação da roteirista e escritora Alice Gomes; da diretora do Departamento Cultural e Artístico do Renascença Clube, Nanci Rosa; da escritora e poetisa Celeste Estrela; da atriz e pedagoga Jana Guinond; e do escritor e ativista negro, Ele Semog. A mediação ficou por conta da professora de Literatura Africana do curso de História da UVA, Cristina Prates (1ª à esquerda na foto).
Abrindo o debate vespertino, Ele Semog afirmou que a literatura e os demais conhecimentos difundidos nas escolas esteriotipam a cultura negra. Para ele, há ainda uma demonização dela feita, sobretudo, por evangélicos. O ativista também ressaltou outras problemáticas atuais enfrentadas pela juventude negra na sociedade, como a evasão escolar e as altas taxas de mortalidade provenientes da violência.
“Todos os anos mais de 70 mil crianças negras são assassinadas no Brasil”, comentou Semog.
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Na sequência, Celeste Estrela dividiu com o público suas próprias poesias, que contavam as histórias de preconceito do tempo que estudava em um convento católico. “A madre perguntava pra professora do teatro: por que que ela (Celeste) ganha os melhores papéis? A professora respondia: porque ela é inteligente, aplicada, talentosa. Ela é uma preta de alma branca. Eu me entristecia e pensava: por que não sou branca como a minha alma?”, recitou Celeste. Em outro momento, ela narra sobre os julgamentos que por muito tempo recebeu por não ter curso superior.
“Sou uma poeta humilde. Não precisei da faculdade pra fazer o que eu faço com muita facilidade”, leu Celeste.
Também destaque na mesa, Jana Guinond falou da importância de discutir o racismo. “Não vamos mudar o mundo se não falarmos dele. Não podemos permitir que o sistema diga que o problema é nosso e que não somos capazes de eliminá-lo. O problema é de todos e somos capazes disso sim”, ressalta. Para Jana, os avanços conquistados pelo movimento negro desde sua ascensão no período da redemocratização da década de 90 são uma prova disso.
“Se não fosse o movimento negro, hoje eu não estaria aqui”, declarou Jana.

O evento foi uma iniciativa da UVA por meio da Comissão de Diversidade Humana, do Núcleo de Experiências ao Aluno e do Curso de Licenciatura em História. Coordenador do curso, Giovanni Codeça afirma que a ideia dos encontros surgiu ainda no início do ano. “Estamos realizando bimestralmente eventos com a temática. Este de hoje é o que encerra o ano de 2019, mas já estamos construindo outros para 2020”, conta o professor. Para Giovanni, a importância de debates como esse está ligada à conquista de espaços.
“A universidade, assim como outros campos sociais, precisa ser conquistada. Afinal, o movimento negro é uma luta contra o racismo estrutural e, ao mesmo tempo, uma ponte para a tolerância e para o respeito mútuo entre diferentes etnias, religiões e culturas”, conclui.
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Leandro Victor – 7º período
Parabéns pela iniciativa e excelente atividade. Sou negra e meu filho estuda na UVA, fiquei muito feliz em saber desse debate na Universidade, vou mostrar pra ele para que ele possa participar no ano que vem.
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