Das epopeias gregas aos folhetins, da pulp fiction ao cordel, a Literatura é um importante elemento cultural da sociedade. Classificada como a Quinta Arte Clássica no “Manifesto das Sete Artes”, publicado pelo crítico italiano Ricciotto Canudo em 1923, a escrita de histórias se apresenta em diferentes formatos e passou por inúmeras transformações ao longo do tempo, tornando-se, inclusive, um ofício.
Para iniciar as comemorações do Dia da Literatura Brasileira, celebrado no dia 1° de maio, a Agência UVA traz a primeira parte de uma reportagem especial sobre a literatura brasileira contemporânea, o mercado editorial e as novas iniciativas independentes. Afinal, entre tantos tipos de narrativas, rotinas de leitura e formas de publicação, os bastidores da produção literária — com todas as suas peculiaridades e contradições — podem parecer confusos ou, até, misteriosos.
E as complexidades do setor não se resumem a hábitos, gêneros e plataformas. Existe, ainda, a questão mercadológica que, basicamente, dita os rumos das grandes editoras, unindo esses fatores. No entanto, o ator de mais fácil contato para o público está na ponta dessa corrente: o preço. O que muitos desconhecem é o fato de as etiquetas nas capas dos livros esconderem uma série de variáveis com influência sobre o valor final.
Segundo Bruno Zolotar, diretor comercial e de marketing da Rocco, o elemento que mais afeta a quantia cobrada por uma publicação é o preço do papel.
“A celulose é um commodity regulado pelos preços internacionais, ou seja, é dolarizado. A partir de 2019 e 2020, com a pandemia e a subida do dólar, o preço dela também aumentou muito, pois as empresas têm margem maior produzindo celulose para embalagem, por causa do boom do e-commerce em 2020 e 2021, do que fazendo papel para impressão, como eles chamam papel de livro”, revela.
Bruno, porém, salienta que o processo inflacionário pelo qual o Brasil passou nos últimos anos afeta todas as categorias, inclusive a editorial, tendo, assim, sua parcela de responsabilidade. Além disso, a desvalorização do real gera outra desvantagem aos compradores, pois os direitos autorais de obras estrangeiras — grande força no Brasil — e os adiantamentos feitos a autores internacionais são pagos em dólar. Isso faz várias editoras investirem em escritores nacionais, por ser mais barato, afinal, os adiantamentos de direitos autorais para um livro de média repercussão no exterior são de US$ 7 a 10 mil — de R$ 35 a 50 mil.
“Com autores locais, além de os pagamentos serem feitos em Real, não precisa de tradução, e, muitas vezes, há o benefício de o autor brasileiro ter alguma influência nas redes sociais, no YouTube, o que ajuda nas vendas. Além da possibilidade de participação em eventos de lançamento, entrevistas para imprensa”, Bruno detalha.
Obras brasileiras
Ele também cita a Editora Planeta como um exemplo de casa editorial que trabalha bastante com obras brasileiras justamente por gerar custos menores e mais opções de divulgação. “Existe um mito de que as editoras não investem em autores nacionais; elas investem, sim. Eu trabalhei por 12 anos na Record, que investia bastante nisso, inclusive, em marketing. Mas existe certa rejeição de parte do público ao autor nacional desconhecido”, Bruno explica.
Entretanto, essa foi uma mudança recente. O diretor conta que, nas décadas de 80 e 90, diversos escritores brasileiros de ficção figuravam nas listas dos mais vendidos e tal cenário só começou a mudar a partir da segunda metade dos anos 2000. “Eu vejo, agora, um momento de recuperação. Já tem alguns autores, como a Carla Madeira [criadora de “Tudo é Rio”, “Véspera” e “A Natureza da Mordida”], que entram na lista dos mais vendidos”, ele cita, lembrando, também, do best-seller “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior.
Todavia, esses casos ainda são exceções quando comparados a livros traduzidos. Bruno esclarece que, conforme observou ao longo de sua carreira na área, no caso de um mesmo valor investido em uma obra nacional e em uma estrangeira, esta última tende a responder melhor ao marketing, já que, na visão de uma parcela do público, o autor brasileiro desconhecido tem que “se provar muito mais” para merecer ser lido.
De qualquer forma, a simples presença de criações locais nos catálogos já desperta a atenção dos leitores — alguns, inclusive, chegando a alegar que a diminuição de publicações estrangeiras no mercado nacional propicia a entrada de livros brasileiros. Segundo Wilson Junior, editor-chefe da editora Escambau, essa é uma declaração delicada.
“Acho complicado afirmar que a não entrada de autores estrangeiros ajude os nacionais. A minha visão de mercado diz o contrário”, comenta Wilson.
O editor avalia que as maiores oportunidades para escritores brasileiros se deram justamente na trilha de sucessos globais, como “Harry Potter”, “Crepúsculo” e “Percy Jackson”. “Esses grandes fenômenos de massa fazem as editoras buscarem obras e autores nacionais dentro desses gêneros; e, com o público ávido por esse tipo conteúdo, escritores locais acabam alcançando os leitores”, Wilson pondera.
Por isso, na opinião dele, crises institucionais e mercadológicas como as enfrentadas hoje pelo Brasil são prejudiciais em todas as instâncias ao setor, principalmente para criadores de ficção — até aqueles que já têm algum destaque —, os quais sofrem com a diminuição das possibilidades de publicação, pois as empresas arriscam menos em períodos assim. Também, segundo o idealizador da Escambau, devido a esse fato, revistas e outros projetos independentes são essenciais para quem está produzindo e tentando se posicionar em um mercado tão concorrido — afinal, nesses espaços, eles acabam sendo percebidos.
“O Brasil tem um mercado ainda em expansão, e sucessos estrangeiros puxam, naturalmente, obras nacionais. Não são elementos excludentes”, Wilson declara.
Já para o escritor Moacir Fio, parceiro de Wilson no conselho editorial da Escambau, é notório que, em momentos de instabilidade mercadológica, mais editoras recorrem à busca por novos talentos dentro do próprio território brasileiro. Ele reitera, também, o papel de iniciativas como a “Escambanáutica” — revista literária do grupo — e outras publicações de semelhante concepção nesse contexto. “Agora, começo a ver um crescimento, ainda tímido, de lançamentos nacionais, e acho que as revistas podem contribuir fazendo um verdadeiro ‘censo’ de autores com potencial para brilhar em publicações tradicionais”, reflete.
E a escritora mineira Karine Ribeiro, autora do premiado livro de horror “Secretária de Satã”, concorda com Wilson ao dizer que há, sim, espaço para ambos os filões, a despeito das crises econômica e do papel, as quais, para ela, vêm impactando o mercado editorial. “O livro estrangeiro, sem a menor dúvida, não perdeu espaço no mercado, apesar do alto custo; basta uma passadinha pelas livrarias ou redes sociais das editoras. Apesar disso, é uma vitória, claro, ver livros nacionais, aos poucos, mas constantemente, dividindo mais espaço e público com as obras traduzidas”, ela comemora.
No entanto, existe outro tópico que precisa ser levado em consideração, tanto pelas casas editoriais quanto pelos escritores: se, em uma conjuntura de crise, produzir uma publicação é mais custoso, consequentemente, é mais difícil vender — seja pelo aumento dos preços, seja pela queda no poder de compra das pessoas. Quem faz tal observação é o autor, também mineiro, Jean Gabriel Álamo, que tem uma visão muito mais crítica ao setor e aponta essa como uma armadilha comum para aspirantes a escritores. De acordo com ele, seu número estável de vendas está atrelado a uma produção prolífica — a qual, anuncia, aumentará em breve —, produzida em um curto período de tempo.
O escritor, ainda, afirma que, caso tivesse lançado apenas os quatro livros já publicados de seu trabalho mais reconhecido — a série “Feiticeiro de Aluguel” —, essas obras seriam somente um complemento de renda em vez de uma fonte de ganhos. “O problema do mercado editorial é: mal se pode dizer que existe um mercado, embora sejamos o 7º maior do mundo. As razões para isso são complexas e atravessam praticamente todas as camadas dessa área”, aponta.
Além disso, Jean frisa que o processo de precarização — ou, conforme define, de “uberização” — do trabalho no setor editorial não é recente. Ele declara, após 13 anos de trabalho em edição, ter conhecido só duas pessoas registradas como CLT. “O marido da dona de uma editora e a filha do dono de outra editora; ou seja, era uma relação de trabalho parental, na qual a carteira havia sido assinada só para que a pessoa agraciada com essa raridade tivesse aposentadoria no futuro”.
O escritor ressalta, também, que vários profissionais, tais quais leitores críticos, revisores, capistas, diagramadores e preparadores de texto — fundamentais para uma publicação — não têm quaisquer direitos trabalhistas; eles nem, ao menos, têm a relação de trabalho firmada em contrato, e, por isso, é comum viverem como freelancers, às vezes, trabalhando para mais de uma editora. Jean avalia que esse é apenas um dos problemas criados pelo mercado para si mesmo, resultando em uma massa de trabalhadores exaustos cujas rotinas de sono são consumidas pelo exercício profissional — como acontecia com o próprio escritor.
“Eu mesmo, quando acordava, não sabia a que horas poderia dormir, sabendo apenas que, provavelmente, não seria naquele dia”, relembra.
Então, para o escritor e profissional de edição, sair do mercado — ou, pelo menos, reduzir a carga de trabalho — nessa última ocupação, mesmo ela sendo sua fonte de renda à época, “foi mais uma questão de urgência pela saúde física, mental, emocional, e até mesmo do casamento e a relação com meu filho, do que uma realização como escritor”, conta. Porém, ao deixar o mercado “oficial” — realizando apenas edições esporádicas de obras independentes —, tornou-se necessidade primordial fazer com que a venda de livros obtivesse retorno suficiente para suprir a vacância monetária provocada pela decisão.
Mas Jean revela não ter sido pego de surpresa. “O que vemos hoje era algo anunciado muito antes da crise econômica, que apenas acelerou o processo e teve como estopim para a implosão do setor o calote bilionário que o monopólio lobista livreiro da Saraiva, Fnac e Cultura deram no mercado editorial”, analisa. Ainda, segundo o autor, a tragédia era anunciada desde quando iniciou contato com outros escritores, aos 12 anos — idade em que começou a escrever suas primeiras histórias.
Assim, ele diz ter sabido, já naqueles tempos, de todas as problemáticas que o aguardavam no futuro, caso decidisse atuar na área — o que era um desejo concreto e estabelecido. “Fica a sensação de que os burros não são aqueles que nada fizeram para evitar a situação, mas eu, que via os problemas crescendo e decidi trabalhar com isso mesmo assim”, Jean constata. De fato, em análise mais profunda, o campo literário apresenta questões complexas. Uma delas é o descompasso entre setores e atores, conforme indica Bruno Zolotar, diretor comercial e de marketing da Rocco.
“2020 e 2021, mesmo com o aumento de preços, foram anos muito bons para o mercado editorial; não para as livrarias, mas para as editoras. Com o isolamento por causa da pandemia, as pessoas começaram a ler mais e comprar no e-commerce, que, geralmente, tem preços mais baixos do que as livrarias tradicionais”, Bruno explica.
Por outro lado, o diretor conta que 2022 — apesar das notícias sobre a alta no comércio de livros — foi um ano de empate nesse quesito devido à retomada das atividades externas. “Na verdade, eu acho que [o mercado] está flat, foi um ano de 0 a 0. Porque uma parte do dinheiro usado para comprar livros durante a pandemia começou a ir para outras coisas; as pessoas voltaram a sair, a viajar. Então, para mim, o mercado de livros de interesse geral caiu um pouco”.
Segundo o profissional, a sensação de crescimento se deve à elevação no faturamento por causa da escalada dos preços. Há, também, outro fator a ser considerado: o livro didático, destaque nos levantamentos mais recentes, após queda em 2020 e 2021 por ocasião do fechamento de escolas e da virtualização das aulas. “Houve uma recuperação. Também teve o setor universitário, que estava meio parado e, este ano, voltou; então, tem os livros de Medicina, Administração, Direito, categorias importantes para o mercado editorial”, complementa.
Porém, apesar da melhora no quadro, é preciso ter em mente o contexto histórico do mercado livreiro no Brasil, pois, de acordo com a Pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial, realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional Dos Editores De Livros (SNEL), com base em dados apurados pelo provedor Nielson Books, o faturamento real da área editorial, na verdade, diminuiu entre 2005 e 2021, com queda acumulada de 39%.
Esses números dão uma resposta às previsões feitas no começo da década passada a respeito do impacto que a acessibilidade dos livros virtuais teria no mercado — cogitando-se, inclusive, que eles, rapidamente, substituiriam as versões em papel. Contudo, como Bruno explica, não foi o que aconteceu. “Seria uma alternativa [financeiramente], as pessoas comprarem e-book em vez de físico. Mas esse é um mercado muito pequeno aqui; sendo muito otimista, de cada 10 livros vendidos no Brasil, um é e-book, mas não chega nem a isso”.
Tal panorama se deve ao fato de que o perfil do consumidor brasileiro de livros de interesse geral — ou seja, os que não estão em categorias técnicas ou acadêmicas — ser formado por jovens de até 25 anos e esse público preferir o formato físico. “Ele até compra o e-book se estiver muito barato, em torno de R$9,90, mas o que ele quer mesmo é livro físico, até para mostrar nas redes sociais; as pessoas gostam da sensação, da experiência sensorial de ter um livro na mão”, detalha.
Além disso, pelas estimativas do diretor, essa parcela de compradores representa cerca de um terço do mercado. Devido ao cenário descrito, Bruno afirma que baixar os preços das publicações virtuais pode até movimentar um pouco o setor, entretanto, a cultura de leitura digital — dentro e fora do Brasil — ainda não tem envergadura o suficiente nem para se equiparar à dos livros físicos, tampouco para substituí-la. “Nos Estados Unidos, os e-books são, mais ou menos, 25% das vendas dos livros físicos; aqui, com muita boa vontade, vou dizer que é 10%, mas não chega nem a isso. E a gente já tem audiobook no Brasil, eles estão sendo feitos, mas as vendas são mínimas, quase irrisórias”.
Contudo, tais números não diminuem a importância do modelo eletrônico, em especial para projetos independentes e autores iniciantes. É o caso das revistas literárias — tipo de projeto cujos objetivos incluem encontrar novos nomes na literatura nacional, e, geralmente, são disponibilizadas de graça ou a preços módicos. Uma delas é a “Escambanáutica”, produzida pelo antigo coletivo — hoje, editora — Escambau, idealizado por Wilson Junior e sediado em Fortaleza.
Focada em histórias de fantasia decoloniais — escola de pensamento que busca se desprender do eurocentrismo —, a publicação periódica também tem como propostas o fortalecimento do gênero fantástico brasileiro e, acima disso, a remuneração dos escritores selecionados em cada edital. O criador relata que manter uma iniciativa com esse conceito não é fácil, pois demanda grande quantidade de trabalho — envolvendo curadoria, edição, revisão e ilustração —, mas sem perder de vista o custo-benefício para o público.
“Nem todas as revistas são gratuitas e eu não acho que deveriam ser; elas podem ser baratas. A nossa, particularmente, é por causa do Catarse [financiamento coletivo] que sustenta a revista. Mas o objetivo é o fomento do gênero, o espaço para escritores, ter um mercado que aposta neles; um espaço de publicação com remuneração, porque somos autores, então, estamos construindo um ambiente favorável para nós”, Wilson revela.
De qualquer modo, sendo uma opção de leitura financeiramente mais acessível, essas publicações acabam por se tornar uma alternativa viável em meio à alta dos preços de capa resultante da crise do papel — em especial, após o fechamento de 764 bibliotecas públicas no Brasil entre 2015 e 2020, conforme dados da antiga Secretaria Especial de Cultura, atual Ministério da Cultura, notícia classificada por Wilson como “terrível”, porque, conforme aponta o escritor, as pesquisas mais recentes atestam que o público-leitor brasileiro está concentrado nas classes C e D, rebatendo, assim, uma visão equivocada sobre quem lê mais no país.
Ele conta que, em Fortaleza, existem projetos para tentar compensar essa carência, como as bibliotecas comunitárias. “A gente tem um movimento forte para suprir esse vazio deixado pelo abandono e pelo sucateamento das bibliotecas públicas”. O autor, ainda, explica que tais espaços surgem dentro de comunidades — tanto na capital quanto no interior —, geralmente, em casas das periferias, onde a população acessa os livros; e, além das doações, já existem editais do estado para alimentar essas bibliotecas e melhorar suas estruturas.
Quem também destaca a importância dos catálogos públicos de livros é Moacir Fio, editor da Escambau, que os categoriza como “insubstituíveis”. “Por mais que as revistas literárias sejam importantes, nada é mais importante para a formação de leitores e autores do que as bibliotecas. Quanto mais, melhor”, afirma. Para ele, as publicações gratuitas são uma possibilidade, mas por serem digitais, apresentam, por si só, barreiras que nem todos conseguem transpor.
Moacir acrescenta que, em virtude disso, o fechamento de bibliotecas públicas é algo que o entristece e irrita. “Iniciativas pessoais como as revistas jamais terão um décimo, um milésimo, da importância e do alcance de políticas públicas de incentivo e fomento à leitura. Precisamos lutar por mais bibliotecas”, ele reforça. Entretanto, dada a conjuntura, os projetos literários independentes ainda figuram na esfera mais acessível para, pelo menos, uma parcela do público. Por isso, questionamentos sobre o futuro dessas edições são comuns, haja vista a dificuldade de produção.
Na visão do editor, essas publicações estão passando por um momento de definição, pois muitas revistas estão conseguindo criar um público leitor cativo; além disso, algumas editoras grandes decidiram se aventurar lançando seus próprios títulos, como a Suprassuma [publicação do selo Suma, da Companhia das Letras]. “No outro extremo, revistas tradicionais, como a Mafagafo, têm optado por uma pausa; isso representa um grande desafio para manter ou expandir o público leitor, sempre difícil e arredio”, define.
E o escritor garante que a equipe do projeto tem consciência da “corda-bamba” sobre a qual uma iniciativa independente atua, subordinando-se ao tempo dos colaboradores e ao interesse do pequeno, mas fiel, público. Em vista disso, Moacir considera o futuro do formato incerto, porém deseja sua popularização. “Espero que mais e mais pessoas sintam essa paixão aflorar e montem suas revistas literárias, seus manifestos, seus grupos; nem que seja para lançar um número super underground e se despedir em grande estilo”, torce.
Já o editor-chefe Wilson Junior, acha a indagação delicada. “É complexo essa coisa de futurologia, né? Eu quero muito acreditar que é um movimento que não vai mais perder fôlego, que revistas vão saindo e novas vão chegando”, ele conta, citando, também, a “Mafagafo” — a mais famosa entre as que remuneram seus autores publicados — e a “Trasgo”, ambas em hiato de duração indefinida, ao esclarecer um impasse comum nesse meio: devido à compensação monetária inversamente proporcional à quantidade de trabalho, quando uma oportunidade de maior retorno financeiro surge, o projeto se fragiliza.
Por isso, ele ressalta a importância de cobrar do Estado políticas públicas — como editais específicos para revistas — e buscar que grandes casas editoriais lancem suas próprias edições do gênero — tal qual a Suma —, a fim de criar um ambiente propício à estreia de autores brasileiros. “Eu quero acreditar que o movimento vai continuar, mas é muito difícil nadar contra a maré, então, quem sabe, né?”, Wilson pondera, lembrando que o cenário das revistas literárias já é bem estabelecido em outros países e foi berço de diversos escritores best-sellers, entre eles, o “Rei do Horror”, Stephen King.
“Se você for olhar o mercado norte-americano, o europeu, a maioria dos autores de grande sucesso publicam bastante nessas revistas antes de ganharem contratos de editoras; as próprias agências sondam essas publicações para prospectar talentos”, reflete o editor-chefe da Escambau.
E esse é apenas o começo da conversa quando se trata de literatura nacional contemporânea, revistas literárias e funcionamento interno do mercado editorial brasileiro. Afinal, os avanços tecnológicos da última década ampliaram o leque de opções e portas de entrada, além de trazerem muito mais autonomia para os escritores, que, hoje, não dependem exclusivamente das editoras tradicionais para chegar ao público e conquistar leitores. Mesmo assim, conseguir se destacar a ponto de fazer da escrita uma profissão não é um caminho tão simples. Por isso, a Agência UVA já preparou a segunda parte dessa reportagem especial — a ser publicada em primeiro de maio — para celebrar o Dia da Literatura Brasileira.
Foto de Capa: Pexels
Reportagem por Daniel Deroza, com edição de texto de Malu Danezi
LEIA TAMBÉM: Fanfics abrem portas para escritores na literatura brasileira
LEIA TAMBÉM: De Hunter para Lispector, Rio de Janeiro 2023
Pingback: Festa do Dia do Trabalhador está entre os eventos do feriado prolongado | Agência UVA
Pingback: Labirinto literário: setor editorial apresenta novos rumos para escritores | Agência UVA
Pingback: Dia das Mães: Procon Carioca divulga pesquisa de preço de presentes | Agência UVA