Na última quarta-feira (17), a medida econômica preparada pelo Ministério da Fazenda foi colocada em regime de urgência, ou seja, o texto não terá que passar previamente pela análise de uma comissão e dispensa o cumprimento de prazos. Com votação agendada para esta semana, necessita da maioria absoluta para obter aprovação na Câmara, pelo menos 257 dos 513 parlamentares devem votar a favor para que a medida seja aprovada. Caso avance, ainda passará por análise do Senado Federal.
Conhecido como Arcabouço Fiscal, o Regime Fiscal Sustentável é um mecanismo de controle do endividamento com foco no equilíbrio entre arrecadação e custos que, por sua vez, entra no lugar do Teto de Gastos ainda vigente. Além de evitar despesas acima de um limite, a medida proporciona que o governo tenha mais gastos conforme o cumprimento das metas primárias, deste modo encaminhando a contenção das dívidas e a geração de condições para a redução de juros e garantia de crescimento econômico.
“Nós entendemos que temos que recuperar uma trajetória de credibilidade. Se cumprirmos essa trajetória com esses mecanismos de controle, vamos chegar a 2026 numa situação de bastante credibilidade”, declarou Haddad.

(Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Anunciada ainda no final de Março, a proposta passou por alterações feitas pelo relator, o deputado Cláudio Cajado (PP-BA). De acordo com ele, a versão mais atualizada possui gatilhos e sanções para situações de descumprimento de metas fiscais.

(Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
Previsão do texto
A ideia do projeto é que seja feita uma avaliação a cada bimestre sobre receitas e despesas. Em caso de execução bem sucedida dos objetivos, o crescimento dos gastos públicos fica limitado a 70% do aumento da arrecadação do governo, ou seja, se o rendimento subir 2%, os custos podem chegar até 1,4%. Por outro lado, na condição de não ter alcance do que foi estipulado, a elevação das despesas limita-se a 50% da expansão dos ganhos da gestão, isto significa que se as receitas atingirem 2%, as contas vão até 1%.
Na eventualidade de um crescimento exorbitante da arrecadação do governo, um intervalo fixo no crescimento real dos gastos com variação entre 0,6% e 2,5% sem considerar a inflação do período terá que ser respeitado. Entretanto, na hipótese de não haver os avanços conforme projetados, o governo terá que determinar a contenção de despesas. Caso o problema persista, gatilhos graduais serão acionados.
Se as metas fiscais não forem realizadas, no primeiro ano haverão proibições como:
- a criação de cargos;
- alteração de estrutura de carreira;
- elaboração ou expansão de auxílios;
- formação de custos essenciais;
- reajuste de despesa obrigatória acima da inflação;
- ampliação de subsídios e subvenções; concessão ou extensão de benefício tributário.
Com a continuação do descumprimento pelo segundo ano consecutivo também serão impossibilitados:
- acréscimo e correções na despesa com indivíduos, como aumento de salários;
- admissão ou contratação de pessoas, com exclusão da reposição de cargos vagos;
- realização de concurso público, exceto para recolocação de cargos vagos.
Estão fora das regras de contingenciamento dos gastos os repasses ao Fundeb; custos com eleições; transferências para fundos de saúde; investimentos em universidades; o reajuste real do salário mínimo, com aumento acima da inflação; além de despesas com recursos oriundos dos deslocamentos dos estados e municípios para a União a fim de realização de obras e serviços de engenharia.
“De fato qualquer medida, seja o Teto de Gastos, o Arcabouço Fiscal ou projeto fiscal, ela limita, vamos dizer assim, a intervenção do estado na economia. Isso não ocorreu por acaso, vários governos perdulários acabaram brincando com os recursos públicos gastando muito mais do que deveriam, aumentando a dívida pública etc”, explica o Professor Durval Meireles.
Doutor em Ciências Econômicas e Ciências Sociais, ele alega que deveria existir um conjunto de projetos que de fato trouxessem segurança jurídica, econômica, financeira e que seus recursos fossem apoiados com a finalidade de desenvolver o país especialmente na área de infraestrutura onde há empregabilidade sem necessidade de muita capacitação.
“Evidentemente temos que ter um governo responsável, eficiente e maduro que tenha suas funções sociais, mas ao mesmo tempo crie junto com a iniciativa privada e com investimentos do exterior, projetos que, de fato, façam com que o Brasil diminua seus problemas sociais”, finaliza o professor.
Vale lembrar que a violação dos objetivos não é considerado crime para os gestores. Todavia, nos dias atuais, descumprir os contingenciamentos e os gatilhos já classifica-se como infração à Lei de Responsabilidade Fiscal. A intenção do governo é de que a nova regra fiscal esteja em vigor para a elaboração do Orçamento da União no ano de 2024.
Foto de capa: Lula Marques/Agência Brasil
Reportagem de Gustavo Pinheiro, com edição de texto de Gabriel Ribeiro
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