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Rio2C: movimento afrofuturista surge como um refúgio para pessoas pretas

Discussão sobre preconceitos na ficção científica se aprofundou durante masterclass no Rio2C neste fim de semana

A questão da representatividade nas telas vêm ganhando força graças às redes sociais. Muito se fala sobre o o gênero cinematográfico “ficção científica” ser repleto de preconceitos e estereótipos, mas pouco se fala sobre como é possível mudar isso e uma das respostas é por meio do “afrofuturismo”.

Em uma das masterclass de domingo (16) no Rio2C, a maior conferência sobre inovação e criatividade da América Latina, Janaína Damasceno, fotógrafa e pesquisadora contou um pouco do trabalho que vem fazendo no grupo de pesquisas “Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra”, onde se dedica a pesquisar os modos de inscrição e autoinscrição visual de pessoas negras na África e em países de diáspora, como o Brasil.

Segundo o “Nexo Jornal”, “o afrofuturismo é um termo usado para definir a convergência da visão afrocêntrica com a ficção científica, inserindo a negritude em um contexto de tecnologia e projeções sobre o futuro”. Para Janaína, falar deste conceito é também remeter ao passado e às suas primeiras imagens como criança retratada em fotos feitas por seus pais.

Janaína faz parte do corpo docente do Programa de Pós-graduação em Cultura e Territorialidades (PPCult) da UFF. Foto: Divulgação/Rio2C

“Minha família era pobre e não tinha como reproduzir imagens sobre ela, mas o racismo limitava sua inserção visual no mundo público. E por isso, a população negra vem construindo um arquivo grande de “afrovisualidades”, fotos de famílias pretas vindas de meios privados, que entram nesse arquivo para se tornarem públicos”, comenta.

A palestrante mostrou várias imagens, todas do cotidiano de pessoas pretas que provam suas existências. 

“Muitas pessoas dizem que nossas imagens não existem, mas mesmo que de maneira menor, em fundo de caixas e gavetas, elas são as únicas provas da nossa existência na época”, pontua a pesquisadora.

Janaína citou seu trabalho com a premiada artista visual brasileira Rosana Paulino, outra mulher negra, onde construíram um patuá como forma de proteção. Ela também fala sobre a curadoria da exposição do fotógrafo Walter Firmo, que vem há 70 anos fazendo fotografia e pensando no seu processo fotográfico como uma memória do povo negro brasileiro.

Nesta imagem de Walter Firmo, seus pais e filhos são retratados por suas lentes. Foto: Walter Firmo/Acervo IMS

“Uma boa parte das imagens do Firmo são pensadas na presença do próprio pai e trazem, também, a presença de famílias majoritariamente pretas e o afeto entre elas. Suas musas são mulheres negras mais velhas”, conta. 

Afrofuturismo no cinema
Além de Janaína, a curadora e roteirista da TV Globo, Kariny Martins, também integrou o painel e mostrou um pouco do que estudou em sua dissertação de Mestrado. “O afrofuturismo é um conceito multicultural, que faz parte de uma grande rede de curadores negros que se apropriaram de imagens privadas e fazem estas imagens circularem como públicas”, define.

Kariny Martins (esquerda) pesquisa ficção especulativa no Cinema Negro brasileiro. Foto: Divulgação/Rio2C

Pelo afrofuturismo, o próprio sentido de humanidade é refeito e usado para construir uma nova ótica. A partir de uma ausência, diz a pesquisadora, são criados estereótipos e por isso influenciadores e artistas pretos precisaram criar suas próprias narrativas.

“O afrofuturismo chega para pensarmos sobre pessoas negras no futuro. Não só num sentido temporal, mas também o de se quebrar uma lógica moderna”, diz Kariny.

Também foi apontado a forma que a realidade atual atribui uma agressividade ao povo preto. Como ver o futuro agora? Onde estão as imagens de pessoas negras no futuro?

“Pessoas negras foram tiradas de seu espaço para outro. A partir do momento que ocorre a escravidão, um mundo para de existir e outros passam a mudar. Existiu uma quebra onde todos precisaram criar seu próprio mundo para sobreviver. Assim surge ideia de um fim de mundo a partir do afrofuturismo. É sobre recriar outro conceito de existência. Esse processo não seria parecido com uma abdução de ficção científica?”, questiona.

Se você quiser saber mais sobre afrofuturismo no audiovisual, Kariny deu a dica de do curta-metragem “Cartuchos de Super Nintendo”. Veja abaixo:

Reportagem de Hunter, com edição de texto de Daniela Oliveira

Foto de capa: Rio2C/Divulgação

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Sobre Hunter

Eu me escolhi chamar Hunter e usar a arte como refúgio. Escrevo ficções especulativas; em 2021, publiquei Colmeia e A outra, porém após problemas com a editoração retirei A outra de publicação. Em 2022 publiquei Rompendo Akai Itos, um livro de poesias que fala sobre rompermos laços tóxicos. E hoje em dia, sou formada em gastronomia, estudo jornalismo com uma bolsa na UVA e sou repórter na Agência UVA, onde tenho minha própria coluna de crônicas e cuido das matérias culturais e internacionais. E no meu Instagram @hunterlivros, monto um acervo de fotos estilo 2000 junto de meus textos chamado "Caixinha de papel debaixo da cama".

1 comentário em “Rio2C: movimento afrofuturista surge como um refúgio para pessoas pretas

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