O palco Arts&Crafts do Rio2C promoveu neste sábado (15) um debate sobre moda e economia circular com a consultora de moda e CEO da is.nau, Letícia Galatti, a designer e pesquisadora Sulamita Ferr, e a diretora criativa do projeto Re-Roupa, Gabriela Mazepa. As três falaram sobre panorama do mercado no contexto da sustentabilidade e da urgência da criação de novos meios para evitar o desperdício de material na produção das peças.

Letícia iniciou a conversa pontuando sobre o impacto ambiental da moda e a dificuldade de controlar esse desperdício na produção, pois é algo longo que passa por muitos processos até o produto final. Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpezas Pública e Resíduos Especiais), cerca de 4 milhões de toneladas de lixo têxtil são descartadas por dia, e a economia circular seria uma das soluções para diminuir esse problema, reutilizando e trazendo novos usos para aquele tecido que foi jogado fora.
Foi o que Sulamita fez na sua coleção de upcycling em parceria com Enel, usando como matéria prima o tecido dos uniformes dos funcionários da empresa de distribuição de energia. Após trabalhar em grandes marcas de varejo e perceber o desperdício de material, começou a utilizar esses retalhos para criar novas roupas. Atualmente, também possui uma startup, a Sois, para ensinar sobre a técnica de reutilização de roupas para outras pessoas.

“Eu não faço uma coisa pra mim, faço uma coisa pra espalhar, pra que cada um que esteja aqui olhar essas peças e fazer algo parecido, façam. Pegar essa ideia e utilizar de uma maneira produtiva, isso é muito interessante e vai ser muito benéfico para todos.”
Gabriela Mazepa possui um trabalho parecido na Re-Roupa, que se define como um “laboratório itinerante de produção de roupas”. Através de oficinas, ela usa peças de segunda mão e tecidos usados para criar novas, trabalhando com costureiras locais. O projeto também colabora com marcas, a exemplo da Farm, fazendo collabs, além de possuir uma coleção própria de roupas e produtos para casa.
Ao ser questionada em como esse tipo de moda local e sustentável pode competir com um contexto atual marcado por tendências rápidas e descartáveis popularizadas em redes sociais como o TikTok, o famoso “core”, ela responde que não dá, pois são dois comércios e públicos diferentes. O que é possível é fortalecer e viralizar essa a moda circular nas redes sociais, usando influenciadores que usem sua voz para propagar isso, com uma estratégia semelhante a que as grandes marcas já fazem.
O uso dos market places, principalmente os virtuais que produzem roupa na lógica do fast fashion, também estiveram no debate. Leticia comentou que a sustentabilidade deve estar na cadeia de produção dessas grandes lojas, não como uma competição contra a moda circular, mas que esse tipo de comércio também pense em sustentabilidade na sua cadeia de produção, pois os efeitos da falta dela lhe impactará de forma negativa.
“Já está acontecendo, se a gente não fizer por precaução, vai fazer porque vai começar a faltar insumo, vai começar a existir problemas que vai acarretar em custos”, finalizou a consultora.
Reportagem de Karla Maia, com edição de texto de João Pedro Agner
Foto de capa: Karla Maia/Agência UVA
LEIA TAMBÉM:“A tecnologia é um meio para um fim”, diz Aline Souza no Rio2C
LEIA TAMBÉM: Produtores e pesquisadores debatem autenticidade como chave para sucesso
Pingback: Rio2C: movimento afrofuturista surge como um refúgio para pessoas pretas | Agência UVA