Baseada no jogo homônimo mundialmente famoso, a série da HBO conta a história de Joel, um contrabandista que, durante um apocalipse zumbi, é convocado pelos Vagalumes, um grupo revolucionário, para levar a jovem Ellie até o centro de pesquisa que fica além dos portões da FEDRA, a milícia.
No percurso, Joel precisa fugir e sobreviver aos estaladores, como são chamados os infectados pelo fungo, e zelar pela menina que pode ser a cura para a pandemia. E o que diferencia essa série das outras produções sobre zumbis é sua proximidade à realidade, pois o Cordyceptis, o fungo do jogo, ultrapassa os limites da tela e pode ser encontrado na natureza.
O Ophiocordyceps sinensis é um endoparasita comum em artrópodes, como as formigas, e infecta as vítimas com seus esporos, mantendo seus hospedeiros vivos por um período, o que provoca alterações comportamentais para que eles infectem outras formigas.

E quando o público tomou conhecimento dessa informação, muitos fãs começaram a se perguntar quais as chances de a pandemia fúngica da ficção acontecer na vida real. Por isso, a Agência UVA pediu ao Dr. Márcio Bóia, médico infectologista e professor titular de Doenças Infecciosas e Parasitárias da FCM/UERJ, para sanar as dúvidas sobre o assunto.
Agência UVA: Na primeira cena da série vemos dois epidemiologistas conversando sobre pandemias. O primeiro fala sobre vírus e o outro concentra sua preocupação na possibilidade de pandemia fúngica, caso a temperatura do mundo aumente e os fungos evoluam; imediatamente, todos consideraram suas falas absurdas. Como você avalia essa cena?
Dr Márcio Boia: Para mim, ele falou de uma forma meio incoerente. Ele espera a temperatura do mundo aumentar, mas a questão é, na verdade, a temperatura do corpo humano.
AUVA: Como assim a temperatura do corpo humano?
DRMB: Cada bactéria tem uma cultura; a gente põe um alimento na geladeira, numa temperatura baixa, que não é ideal para uma bactéria se proliferar. O fungo não infecta humanos hoje em dia porque, às vezes, a temperatura de proliferação dele é, por exemplo, 27 graus e, num corpo humano, que tem 36º, sua proliferação seria impossível.
AUVA: E se o fungo pudesse infectar humanos, é possível ter uma ideia de como ele reagiria?
DRMB: Já existem anemias que fazem as pessoas comerem pedras e coisas estranhas, por exemplo. Nós temos uma coisa chamada “Perversão do Cheiro”, que é quando um tumor no hipotálamo faz a pessoa ficar com alterações no cheiro, ou seja, tem um comportamento cognitivo. Se o fungo se instalar nessa área ou produzir substâncias que se instalam a distância, pode, sim, provocar na vítima uma agressividade, ou uma vontade de comer carne humana, por exemplo. O fungo não se alimenta da pessoa em si, como é dito na série; ele absorve as substâncias dos organismos das pessoas.
AUVA: Na série, o fungo se espalhou pela farinha; fora isso, nos jogos, temos os esporos, que infecta as pessoas pelo ar. Essas coisas são possíveis na vida real?
DRMB: Bom, existem muitas coisas na série que são possíveis na vida real, não existe um “nunca” na medicina; se o atual Cordyceps evoluir a ponto de entrar no nosso organismo, por que não evoluir a ponto de ser pego pelo ar? No caso da proliferação em uma fábrica de farinha, talvez fosse um fungo abundante no local, tem a questão de temperatura também, vários podem ter sido os fatores.
AUVA: Você falou muito sobre coisas possíveis, e as impossíveis?
DRMB: Uma coisa que me intrigou foi a forma que eles falam do fungo, como se ele fosse algo humano, algo inteligente. Que nem naquela cena onde os infectados acham os sobreviventes se comunicando com a terra. Isso é totalmente errado, o máximo que ele pode fazer é ter comunicações químicas entre si. Fora isso, claro que há uma fantasia, um aumento nas coisas; é uma série de terror, normal isso acontecer.
AUVA: O Joel tem a missão de levar a Ellie para um centro de pesquisa porque ela é imune ao fungo. Mas, por várias vezes – especialmente na cena em que um corpo infestado pelo Cordyceps é dissecado pela imunologista -, eles afirmam não haver uma vacina, e, portanto, a única saída é massacrar as cidades contaminadas. Por que não temos vacina para esse caso? É possível alguém ser imune a um fungo?
DRMB: Nosso conhecimento sobre fungos ainda é muito limitado, então, não temos vacina porque não houve uma pesquisa. Sobre ser imune, na própria pandemia Covid-19, convivi com médicos que estavam na linha de frente e nunca contraíram o vírus. O motivo, atualmente, é desconhecido.
AUVA: Por último, como um médico infectologista, o quão longe estamos de um “apocalipse” como o da série?
DRMB: Não enfrentamos recentemente uma pandemia? Volto a dizer, pode ser que já exista uma cepa do Cordyceps que sobreviva no corpo humano por aí e ela só não se multiplicou por fatores externos.
Foto de capa: Divulgação/HBO
Reportagem Hunter, com edição de texto de Daniel Deroza
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