Cultura Entretenimento

Aumento de produções nacionais em streamings põe em risco a TV por assinatura

"Maldivas", nova produção nacional da Netflix, adiciona mais um título brasileiro original ao catálogo do streaming

Disponibilizada para os assinantes na última quarta-feira (15), “Maldivas”, nova série nacional da Netflix, vem se tornando um sucesso. Além de se manter no topo das produções mais assistidas no Brasil na plataforma, a série também é a quinta mais assistida no mundo no serviço.

Protagonizada por Bruna Marquezine, Manu Gavassi, Carol Castro, Sheron Menezzes e Natália Klein (que também assina como criadora e roteirista do projeto) a trama gira em torno de um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde acontece a morte misteriosa da mãe de Liz (Marquezine). A personagem então se infiltra entre as madames do condomínio para tentar desvendar o crime. “Maldivas” está longe de ser a primeira vez que a plataforma investe em conteúdo brasileiro.

Desde sua primeira produção nacional, a série distópica “3%” em 2016, o volume de conteúdo original produzido por criadores brasileiros tem aumentado constantemente. Os maiores exemplos são o documentário “AmarELO” de Emicida, lançado em 2020 e indicado ao Emmy Internacional, o fluxo de filmes estrelando Larissa Manoela, as séries jovens “Sintonia” e “Temporada de Verão”, produções de comédia como stand-ups e versões nacionais de realities de sucesso, como “Casamento às Cegas”.

No fim de 2021, a plataforma anunciou mais de 40 produções a serem lançadas em 2022, como “Carga Máxima”, primeiro longa de ação nacional da plataforma e um projeto de animação de O Menino Maluquinho, além de revelar estar estudando a produção de novelas originais para o streaming.

A iniciativa revela uma mudança de comportamento que acontece dentro do mercado audiovisual. Lideradas pela Globo, as emissoras de televisão adotaram um novo modelo de gestão de talento, abdicando da exclusividade de grande parte de seus atores, e abriram as portas para a participação incisiva dentro do streaming.

Dessa forma, estão abertas as portas para que grandes nomes participem de projetos em streamings diversos, como o HBO Max, que também adotará o plano de novelas para streaming. A presença de ícones nacionais da grande emissora na Netflix pode atrair novos assinantes brasileiros, que já conta com mais de 19 milhões de usuários. Essa implicação pode se estender também para os concorrentes, fazendo com que as plataformas cresçam cada vez mais no país.

De acordo com um pesquisa realizada pela Hibou, 7 em cada 10 pessoas no país assinam algum streaming. O mais popular segue sendo a Netflix
(Foto: Dima Moroz / Shutterstock.com)

O coordenador do curso de Cinema da Universidade Veiga de Almeida, Evangelo Gasos, acredita que a relação do streaming com a televisão está numa busca por um meio termo em não ser apenas a procura direta do telespectador por um conteúdo específico, mas também trazer o fluxo que a televisão tem, como transmissões de esporte, muito presentes no HBO Max, Star+ e Prime Video, e conteúdos ao vivo. 

“Diante disso tudo, a TV a cabo realmente tende a desaparecer. Quando surgiu, sua proposta era a segmentação de temas e apresentar conteúdo de nicho, como canais para esporte, para música e para filmes, mas isso será absolvido na nova configuração de streamings.”, disse Gasos.

Ele complementa citando que o número de cancelamentos de TV por assinatura para investimento em streamings é expressivo, e que essa queda pode levar ao fim gradativo do investimento de canais televisivos. O formato de TV paga perdeu quase 56 mil de assinantes em janeiro deste ano, de acordo com a Anatel.

Pode-se tomar como exemplo o Star+, plataforma secundária da Disney+ com foco em produções para diversas faixas etárias, que chegou ao Brasil em fevereiro, fazendo todos os canais do grupo Fox serem renomeados para Star como parte da reestruturação da marca após ser adquirida pelo grupo Disney. A plataforma engloba praticamente todos os conteúdos que eram exibidos nos canais Fox, incluindo todas as temporadas de seu maior sucesso “Os Simpsons”, e pode significar um passo para a descontinuação do grupo de canais na TV.

A estudante Helena Matos (20) era assinante da NET quando morava com a mãe, mas agora que mora sozinha, não tem mais TV a cabo, assistindo apenas canais abertos, e consome conteúdo quase inteiramente por serviços de streamings, sendo assinante da Netflix, Prime Video e Paramount+. 

“Eu sinto falta quando o assunto é notícia. Por exemplo, se eu assinasse o Globoplay, eu só teria acesso ao Globo News e outros programas. Eu acho importante ter mais de um ponto de vista, e na NET eu tinha mais opções de canais de notícias.”, disse a estudante.

Para a estudante, a maior vantagem do streaming sobre a televisão é a escolha da disponibilidade de filmes e séries, e a flexibilidade de horários, quando na TV por assinatura a grade horária de exibição é restrita e fixa. 

Com as principais emissoras do país migrando para um formato híbrido correlacionando o conteúdo de TV e o conteúdo digital, é muito provável que, em um futuro próximo, a televisão por assinatura se torne obsoleta.

Foto de capa: Reprodução/Netflix

João Pedro Agner (2º período), com revisão de Leonardo Minardi (7º período)

LEIA TAMBÉM: A volta dos anos 80: os impactos de Stranger Things

LEIA TAMBÉM: Raphael Montes fala sobre escrever para o streaming no Salão Carioca do Livro (LER)

4 comentários em “Aumento de produções nacionais em streamings põe em risco a TV por assinatura