Foram quase dois anos escondidos sob uma máscara, graças a pandemia que assolou o mundo. Enquanto o acessório serviu como principal recurso de combate à COVID-19, por outro lado escondeu expressões e sentimentos. Com o relaxamento das medidas e o uso opcional das máscaras, a volta a normalidade ainda causa estranhamento, afinal, foi preciso reaprender a reconhecer as pessoas, com ou sem o uso da cobertura.
Para Fabrícia Duarte, coordenadora do curso de fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida, além da afetar as interações sociais, a dificuldade do reconhecimento facial causa problemas de entendimento das expressões e compromete as relações dialógicas.
“Se um indivíduo, de máscara, está com uma expressão mais triste de quem não deseja ser abordado para uma conversa, a pessoa que está tentando interagir recebe menos sinais deste comportamento, pois grande parte da face está tapada. Pode se tornar inconveniente naquele momento”, diz a fonoaudióloga.
A estudante de nutrição Luiza Vianna (21), explica que, quando circula pelo bairro onde mora, não faz mais o uso de máscara, mas ainda coloca o acessório quando entra em estabelecimentos e locais mais distantes e cheios: “A sensação é estranha por ser uma das únicas pessoas usando a máscara, mas me sinto bem mais segura com ela”, afirma.
Luiza ressalta que também começou a ter uma percepção diferente ao reconhecer as pessoas quando tiram as máscaras. A estudante admite que, para além da proteção ocasional e mesmo com a não obrigatoriedade do uso, o faz como uma forma de defesa pessoal contra julgamentos em relação à aparência.
“Eu uso máscara em muitas ocasiões para me sentir segura, pois engordei bastante na pandemia e ela esconde a minha ‘papada’. Por mais que eu não tenha vergonha dela, os olhares alheios me incomodam”, desabafa.
Já Ana Clara Durasio (20), estudante de design gráfico, conta que ainda usa máscara quando sai de casa, mas confessa sentir a diferença quando está sem o acessório e também perceber isso nos demais.
“As pessoas são mais expressivas sem a máscara, e quando estão com ela acabam escondendo o que estão sentindo, porque ninguém vai ver seu rosto. É uma situação estranha, porque nos acostumas a ver todo mundo usando, e agora a maioria da galera abdicou isso”, detalha.
Além de abafar alguns sentimentos com o uso do acessório, a fonoaudiológa Fabrícia Duarte alerta para consequências negativas que a sociedade pode herdar com essa tentativa de se esconder atrás da máscara.
“Não podemos deixar de lado as medidas de segurança adotadas, porém devemos nos conscientizar de que podem trazer prejuízos em outras áreas e tentar amenizá-los através de orientações a sociedade e, caso seja necessário, intervir terapeuticamente”, acrescenta Fabrícia.
A profissional explica ainda sobre a importância da fonoaudiologia no momento de retorno ao normal, depois de um longo período pandêmico.
“Durante esse período, tivemos que nos isolar e adotar o uso de máscaras, atitudes necessárias para minimizar contágios que afetaram diariamente nossas habilidades sociais e comunicativas. A fonoaudiologia, sendo uma ciência da comunicação, pode contribuir para a readequação social dos indivíduos”, afirma a profissional.
Foto de capa- Pexels
Maria Eduarda Spranger (7º período) com revisão de Leonardo Minardi (7º período)
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Agência UVA 
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