Na sexta feira (8), um grupo de 26 alunos precisou ser atendido de emergência devido a uma crise de ansiedade coletiva na Escola de Referência em Ensino Médio Ageu Magalhães, no Recife. Dentre os sintomas, os alunos relataram falta de ar, tremores, crises de choro e um nível de ansiedade elevada. A repercussão do caso reacende o debate sobre responsabilidade afetiva e os cuidados necessários com a saúde mental.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM-5), o transtorno de ansiedade configura inquietação e preocupações excessivas com os mais variados temas. O manual, entretanto, aponta a causa da doença como desconhecida, ainda que seja comum em pessoas com alcoolismo, depressão maior ou transtorno de pânico. O tratamento, segundo o DSM-5, consiste em psicoterapia, terapia medicamentosa, ou ambos.
No caso dos jovens a ansiedade é um problema comum, como ocorre com a estudante de direito Gabriela Paiva (20), que foi diagnosticada com o transtorno. Ela conta que a doença afeta seus estudos, seu trabalho e até momentos de lazer, como sair de casa. “Muitas vezes não consigo fazer essas coisas porque estou tendo crises de ansiedade muito pesadas”, conta.
A estudante faz acompanhamento semanal com uma psicóloga e mensal com um psiquiatra, além do uso de medicamentos. Apesar de já possuir o transtorno antes da pandemia, Gabriela diz que as situações de isolamento social potencializaram as demais crises.
Para a psicóloga Cristina Navalon, especialista em psicanálise do adolescente, o isolamento pode, sim, agravar ou iniciar um quadro ansioso. “A partir do momento em que não há mais aquela necessidade de contato humano, é preciso começar a se preocupar um pouco mais e dar mais atenção aos jovens”, aponta. Para ela, o fortalecimento das relações familiares e sociais é um dos principais meios de conter a ansiedade.

(Foto: Acervo pessoal/Cristina Navalon).
As dificuldades encontradas com o ensino à distância também auxiliaram no agravamento e no aumento de casos. Cristina comenta que isso acarretou, inclusive, uma número maior de tratamentos com uso de remédios. “Hoje tenho apenas dois pacientes que não se medicam”, acrescenta. Segundo a psicóloga, o aumento do número de pessoas com transtorno de ansiedade já estava em crescimento nas últimas duas décadas, em parte por conta das modificações no núcleo familiar.
“O trabalho faz com que haja uma falta de afetividade dos pais com os filhos, o que faz com que o adolescente viva com uma certa indiferença. Mesmo com a família presente de forma física, existe uma carência mental muito forte, que acaba gerando crises de ansiedade”, afirma.
A psicóloga diz que não é possível reverter transtornos já desenvolvidos, mas que o tratamento por meio da psicoterapia é eficaz. Além disso, a profissional realça a preparação e conscientização dos responsáveis para lidar com a doença: “As salas de aula apresentam alunos extremamente ansiosos e professores que não sabem lidar com essa questão, o que resulta em uma crise de pânico coletiva”.
Malu Danezi (3ª período), com revisão de Leonardo Minardi (7º período)
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