Ciência

Especialistas comentam sobre a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas

O evento em Glasgow está previsto para terminar na próxima sexta (12) e discute temas relacionados à luta ambiental, bem como negociações acerca da preservação do meio ambiente

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) que começou no dia 1° de novembro em Glasgow, na Escócia, está prevista para terminar na próxima sexta (12). Neste encontro estão presentes os líderes dos países signatários do Acordo de Paris, que devem apresentar dados comprovando o cumprimento das metas acordadas por meio de suas ações e propostas.

Além do balanço feito das metas estabelecidas com o objetivo de diminuir as emissões de dióxido de carbono até o ano de 2030, a COP26 também recebe ativistas e instituições de todos os lugares do mundo, que se unem para discutir os mais variados temas referentes à luta ambiental.

Segundo o Instituto Brasileiro de Sustentabilidade (Inbs), o evento da COP26 é estratégico pois busca acompanhar e inibir as mudanças climáticas, além de possuir um momento de conferência das metas anteriormente acordadas no Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC).

Flávia Targa é engenheira agrônoma e Mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e atua como professora e coordenadora do curso de Engenharia Ambiental na Universidade Veiga de Almeida. A professora, bem situada no assunto de sustentabilidade, enfoca na importância da discussão das mudanças climáticas, pois acredita que elas trarão impactos a atividades importantes para a raça humana.

“Creio que discutir as mudanças climáticas é essencial para a manutenção das nossas vidas, meios de produção e manutenção da vida humana. As mudanças climáticas trarão reflexos na produção de alimentos e na ocupação e uso do solo. Precisamos refletir e apontar estratégias para a minimização dos impactos causados por essas mudanças”, disse Flávia.

No que tange ao cumprimento das metas anteriormente acordadas, a posição da profissional não é muito otimista, pois crê nas consequências irreversíveis da mudança climática. De qualquer modo, ela defende que honrar com esse compromisso é indispensável: “Os países nunca conseguem, mas deveriam cumprir, uma vez que estamos cada vez mais afetados pelas consequências das mudanças climáticas”, comentou.

Além disso, ela alerta para o fato de que, caso medidas não sejam tomadas, o futuro não será agradável. A engenheira explica que mudanças são necessárias, a fim de algo mais coeso.

“Se não tomarmos as medidas adequadas para evitarmos a continuação das mudanças climáticas, o cenário será muito desfavorável para nós. Precisamos efetivamente de ações estratégicas que ajudem a frear, interromper, as mudanças climáticas. Isso passa por modificações profundas no nosso modo de produzir e consumir. Não podemos ficar limitados apenas a plantios de árvores e desmatamento, que também são importantes”, ressaltou.

Embora o tema esteja cada vez mais em alta, as ações das mudanças climáticas são um tanto quanto silenciosas. Contudo, os efeitos se mostram cada vez mais perceptíveis. O relatório do IPCC, publicado em agosto deste ano, demonstra que a temperatura do planeta terá subido cerca de 1,5°C nas próximas décadas, com um aquecimento maior no Ártico – cerca de duas a três vezes maior.

O documento ainda diz que o aquecimento global antrópico vem registrando um aumento de 0,2°C por década, consequência de emissões do passado e presente. “Estima-se que as atividades humanas tenham causado cerca de 1,0°C de aquecimento global acima dos níveis pré-industriais, com uma variação provável de 0,8°C a 1,2°C. É provável que o aquecimento global atinja 1,5°C entre 2030 e 2052, caso continue a aumentar no ritmo atual”, afirma o relatório.

A ação das indústrias leva à atmosfera gases prejudiciais, gerando um acúmulo de poluentes (Créditos: Marcin Jozwiak)

Cleyton Martins da Silva é Pós-doutor na área de Química Atmosférica, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também carregando consigo títulos de Doutor e Mestre pela Universidade do Rio de Janeiro (UERJ). Ele é pesquisador do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, Professor Docente da Universidade Veiga de Almeida – onde ministra o Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente.

O pesquisador, que também é vice-coordenador do Grupo de Pesquisa de Cinética Aplicada à Química Atmosférica e Poluição, afirma que antes mesmo da COP26 ocorrer, esse relatório do IPCC demonstrou uma divergência com as metas estabelecidas no evento anterior, o Acordo de Paris.

“Ainda no Acordo de Paris, estabelecia-se a necessidade de limitação do aumento da temperatura média global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, devendo-se somar esforços para a limitação de 1,5°C. Contudo, e infelizmente, o último relatório divulgado pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) de 09 de agosto de 2021 aponta um aquecimento médio global acima de 1,5°C, o que contraria as metas estabelecidas no Acordo de Paris.”, explicou o pós-doutor.

Com isso, o objetivo da COP26 torna-se não ultrapassar esse aquecimento de 1,5°C a mais, onde uma das propostas dadas envolve o campo do mercado de carbono, com compra e venda dos chamados “créditos de carbono” entre os agentes mais e menos emissores de um dos gases que mais retêm calor.

“Essa tática de precificação do carbono e evolução deste mercado poderia impulsionar a busca por novas tecnologias e estratégias para o alcance de “carbono zero” para as atividades econômicas”, comentou Cleyton Silva.

O especialista ainda fala que a conferência sinaliza, dessa maneira, que os países devem se debruçar sobre as metas da Agenda 2030, relacionadas à população em geral, prosperidade, paz, parcerias e planeta. Em concordância, complementa que o documento final deverá indicar que os países deverão eliminar gradativamente a utilização de combustíveis fósseis, para reduzir as emissões de dióxido de carbono.

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Imagem do Brasil no mundo

O Brasil passou a ser malvisto pela comunidade científica, por outros países e entidades, já que a política ambiental atualmente tomada pelo governo não apresenta harmonia com as metas acordadas. Os anúncios de metas adotadas e cumpridas pelo país não apresentavam estratégias ou explicações plausíveis, fazendo com que especialistas as colocassem em dúvida.

A situação piorou sobretudo depois dos acontecimentos mais recentes, envolvendo queimadas, desmatamento, falta de regulamentação, carência de fiscalização e outras questões políticas, tais como alteração e extinção de secretarias e de comitês. O pesquisador e professor Cleyton Martins explica a situação.

“Durante a COP 26, o governo brasileiro anunciou a ampliação da redução de emissão de CO2 antes estabelecida no Acordo de Paris, passando de uma redução de 43% a 50% até o início da próxima década e com a promessa de zerar as emissões do país em 2050. No entanto, o governo brasileiro não informou as bases de cálculos utilizadas e tampouco definiu as estratégias para o atingimento destas metas, o que leva à incerteza e dúvidas quanto ao estabelecimento real das metas, bem como ao cumprimento delas”, alegou.

Mesmo com toda a consciência do perigo, um relatório publicado em 17 de setembro deste ano sobre as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) revela que o esforço permanece insuficiente. Sendo assim, para conseguir evitar o aumento da temperatura global acima de 2°C, seria necessário redobrar as medidas.

Considerando isso, como consta o site da Organização das Nações Unidas no Brasil, os países mais ricos precisam ajudar aqueles em desenvolvimento, para que estes consigam reduzir as suas emissões.

A plataforma do BDQueimadas, do Inpe, informa que do começo de setembro ao final de outubro a Amazônia teve 28291 focos de queimadas (Créditos: Guduru Ajay bhargav)

Em seu livro “Terra Inabitável”, David Wallace-Wells, jornalista ambiental norte-americano, conversa com o leitor de forma simples, todavia sem faltar força de vontade para informá-lo sobre os riscos das alterações climáticas. Em poucas palavras, ele diz que “uma cultura urdida em pressentimentos do apocalipse deveria saber como receber notícias das ameaças ambientais”, mas que ainda assim os cientistas, por diversas vezes, acabam sendo vistos como histéricos.

Nesse sentido, cabe a reflexão da importância do papel da sociedade na construção de um mundo melhor e mais sustentável. Para o professor pós-doutor, Cleyton, é possível que decisões individuais impactem beneficamente o planeta, a ponto de mitigar as emissões dos gases intensificadores do efeito estufa, e efeitos das mudanças climáticas.

“Diversos estudos apontam que determinadas ações podem contribuir para a redução das emissões de gases do efeito estufa, tais como revisão da dieta e hábitos de alimentação, revisão de hábitos e comportamentos referentes à mobilidade urbana e uso de combustíveis fósseis, promoção e adoção de práticas de reciclagem e reuso, bem como a economia de energia”, informou.

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Natally Valle – 2° período

Com revisão de Bárbara Souza – 8° período

Apenas uma estudante de jornalismo que, reconhecendo sua finitude perante a grandiosidade do Universo quando se lembra de olhar para as estrelas (Stephen Hawking), torna-se cada vez mais apaixonada pelos seus livros, pela natureza e por palavras.

2 comentários em “Especialistas comentam sobre a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas

  1. É difícil acreditar que algo de positivo possa sair de uma reunião, onde os representantes dos principais países envolvidos, foram flagrados dormindo sentados solenemente, demonstrando total desinteresse pelo tema.

  2. Pingback: Micro lixo é um pequeno grande problema | Agência UVA

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