Além das rotinas de populações mundo afora, o mercado financeiro também sente o duro golpe da pandemia de Covid-19. Após sucessivas quedas nas bolsas de valores, a ameaça de uma recessão econômica se torna cada vez mais próxima. Se a cura para o vírus permanece desconhecida, assim também está o futuro econômico do globo.
É justamente a incerteza um dos principais catalisadores da crise. Como analisa o economista Cristiano Chiocca, à insegurança dos investidores soma-se a paralisação da atividade econômica nas cidades, fator decisivo na queda de faturamento e resultado negativo das empresas. “Ainda é muito difícil mensurar quanto e como cada setor e cada empresa vão perder, mas os investidores se antecipam e estão precificando essa perda potencial”, completa.
Ou seja, a preocupação com o coronavírus não é simplesmente relacionada à saúde. Inúmeras empresas no mundo estão quebrando nesse momento, com perdas gigantes. O especialista em marketing, Douglas Gomides, analisa também os mercados crescentes por conta da pandemia: “Alguns serviços tendem ainda a crescer muito nos próximos meses”, comenta o especialista, referindo-se a fornecedores de benefícios e comodidades para as pessoas em isolamento — canais de streaming, por exemplo.
Sobre os vários investidores que têm perdido milhares de reais em investimentos e os microempresários afetados pela pandemia, Douglas resume: “Não sei se essa crise vai ficar conhecida como a que matou mais pessoas em todo mundo, mas tenho certeza que vai ficar conhecida como uma das que mais quebrou pessoas financeiramente”.
O mercado financeiro tem motivos de sobra para receio, principalmente, no contexto de cicatrização das feridas da recessão de 2008. A despeito de tais temores, Cristiano não vê risco de quebras semelhantes a momentos da história como a Crise de 1929. Para ele, “mesmo que houvesse [uma quebra], não seria por conta do vírus. Tudo indica que a queda recente é fruto da exaustão das políticas monetárias que inflaram o valor dos ativos na última década”, conclui o economista.
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Há poucos meses, a China figurava nos noticiários por conta da guerra comercial com os Estados Unidos. Agora, em tempos de pandemia, surgem debates e teorias envolvendo o gigante asiático. Para Douglas Gomides, a situação revela a dependência econômica que o mundo tem da China. “O país oriental faz o mundo girar e muita a gente ainda não percebeu isso”, comenta. Ele explica, ainda, o risco de empresas estrangeiras não terem produtos ou peças para continuarem as vendas, pois várias fábricas chinesas mantiveram funcionários em isolamento durante o surto do coronavírus no país: “Como resultado, várias entregas não foram feitas, o que assustou empresários de todo o mundo”, ressalta Douglas.
Tais dificuldades geradas ao resto do globo ainda geram discussões sobre uma suposta vantagem da China, originada pela disseminação do coronavírus. Cristiano Chiocca discorda da teoria: “Não vejo benefícios em ser pioneiro nesse ciclo de contágio e contenção, uma vez que o ciclo está acontecendo para todos os países”, comenta.
O economista revela outro lado das relações de mercado. Ao lembrar da dependência do parque industrial chinês em relação ao consumo do Ocidente, ele afirma: “sem esse consumo, não adianta retomar prontamente a produção”. Segundo Cristiano, não haveria vantagem alguma para a China.
Douglas Gomides discorda: “A China se recuperou primeiro, e agora vai aproveitar de uma calmaria local para se reerguer mais rapidamente”. Para o especialista, não demora muito para a China superar a economia dos EUA. Apesar das opiniões divergentes, ambos concordam sobre a necessidade de esperar os resultados.
As previsões e conjecturas sobre o futuro de países alheios são de fato relevantes para a economia brasileira. Contudo, as empresas nacionais já possuem urgências a serem resolvidas. Da falta de clientes à manutenção das atividades, são diversos os empecilhos gerados pelas medidas de prevenção do contágio pelo Covid-19. Douglas Gomides vê na crise uma oportunidade de evolução dos modelos de gestão empresarial praticados no Brasil: “Todas as empresas devem aproveitar esse momento para analisar a performance dos colaboradores no trabalho a distância. Esse é o futuro”, acredita.
O trabalho remoto é permitido pela legislação brasileira:
Gigantes internacionais como a Disney já adotaram o home-office como medida, mas o modelo ainda é pouco difundido na cultura brasileira. “Algumas empresas têm medo do home-office porque não confiam nos funcionários”, revela Douglas. Mesmo nas que já liberaram a prática, o especialista questiona se não poderiam ter adotado o modelo antes da crise. “Várias pesquisas mostram uma grande evolução de performance com a utilização do trabalho em casa, porém várias empresas ‘dinossauras’ preferem fechar o olho pra isso”, conta.
Como profissional dedicado ao universo digital, Douglas Gomides ressalta a importância da comunicação em momentos de crise. “Sempre falei uma coisa: informações qualificadas relacionadas à saúde em mídias sociais podem salvar vidas. Hoje, antes de irem a médicos, as pessoas sempre procuram na internet, e cabe a nós, produtores digitais de conteúdo, esse trabalho”, afirma.
O especialista destaca a relevância de fontes de referência no momento, como a Fiocruz, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Sírio-Libanês e o Ministério da Saúde. Em caráter técnico, ele inclui a necessidade de uma editoria própria para isso, onde conteúdos possam ser publicados em ritmo constante.
O Ministério da Saúde tem feito participação ativa nas redes sociais:
Apesar das carências na adaptação ao formato digital, Douglas enxerga a carência do público por dados consistentes nas redes sociais. “Diferentemente da ignorância da censura chinesa de informações sobre a epidemia, devemos utilizar o nosso amor pelas mídias para salvar vidas aqui no Brasil”, conclui. A verdade, seja para esclarecer dados científicos ou desfazer o pânico, é um dos maiores tratamentos para a crise gerada pela pandemia.
(Gráfico: Isabela Jordão/Agência UVA)
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Isabela Jordão – 7º período
Parabéns pelo artigo, em um trecho você menciona a China como super potência, li um artigo nesses dias que dizia justamente isso: “A China pega um resfriado e o mundo fica com febre”, alusão à sua importância econômica. Este mau momento irá passar e mesmos com esses abalos econômicos, grandes empresa ainda irão prosperar com ganhos mais elevados do que suas perdas.
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