Nesta segunda-feira (06), aconteceu o quarto dia da Bienal do Livro do Rio, que desde o fim de semana vem sendo realizada no Riocentro, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Para além dos estandes para compra de livros, o evento também disponibiliza palestras para o público, de forma presencial e também online. Dentre os diversos temas abordados nas atividades ao longo do dia, o autoconhecimento e a cultura negra, se destacaram.
A penúltima palestra do dia, intitulada “Nem tão exotérico assim”, reuniu astrólogas e escritoras do ramo, como Pam Ribeiro, conhecida como A Bruxa Preta, Claudia Lisboa e Verônica Alves, conhecida como Houhou, nas redes sociais. Com mediação da jornalista Ana Paula Lisboa, a mesa falou sobre a astrologia, e também sobre autoconhecimento, sobretudo durante o período da pandemia.
Logo no início da palestra, após as convidadas se apresentarem, a mediadora seguiu com a leitura de um trecho do segundo livro de Claudia Lisboa, chamado “A luz e a sombra dos 12 signos: Histórias e interpretações que ajudam a compreender a força dos astros”, e a partir dele, questiona as autoras sobre seus respectivos trabalhos.
A astróloga A Bruxa Preta falou sobre seu processo de autoconhecimento, seu contato com o mundo da astrologia, e a conexão com a escrita
“Eu era uma criança muito mística, sempre adorei a natureza, então tudo para mim era motivo de escrever poesia e escrever música. E aí a gente cresce, se afasta um pouco desse lado lúdico por conta da vida, da rotina…e foi através desse contato com a astrologia, o tarô e com a espiritualidade que eu voltei a escrever”, contou ela.

Foto: Bárbara Souza/Agência UVA
Após trazer dados divulgados pela Fiocruz que afirmam que durante 2020, cerca de 61% dos brasileiros buscaram terapias alternativas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Ana Paula Lisboa perguntou às integrantes da mesa como foi o ano de 2020 e 2021. Para Houhou, foi um momento bem delicado, não só para ela mas para todos, e a autora faz uma análise sobre.
“O ser humano Ocidental gosta de um terreno seguro, de querer controlar tudo, mas percebemos que não controlamos nada”, disse a escritora.
Por fim, Ana Paula também questionou as convidadas sobre a inserção da política no campo da astrologia e do autoconhecimento. A autora e astróloga Claudia Lisboa afirmou que apesar das discordâncias, é impossível não introduzir a política nesse assunto, assim como em outras esferas da vida.
“Na nossa carreira, que chega no outro, tem que haver política. Qualquer um é um ser político, e é preciso entender isso na hora de interpretar uma carta e orientar aquela pessoa”, explica Claudia.
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Já a última palestra do dia, intitulada “Améfrica” reuniu escritores negros e ativistas como Taísa Machado, Rodrigo França e Tamiris Coutinho. Também com mediação da jornalista Ana Paula Lisboa, a mesa utilizou da ideia da escritora e ativista negra Lélia Gonzalez (1935-1994) sobre retirar o foco da colonização do continente Americano, e focar na potência das populações negras e indígenas.
Com isso, a temática racial foi se desenvolvendo ao longo da mesa, abordando também os trabalhos dos convidados. Neste contexto, a mediadora Ana Paula Lisboa questionou Rodrigo sobre seu processo de escrita, e para quem ele escreve, e ele responde que fazendo parte do Teatro Negro, sua escrita é direcionada pela questão racial:
“A gente precisa aprender a racializar no Brasil, e o meu escrever está para o público negro. […] Eu produzo, escrevo, enceno para os meus e minhas, pois entendo que a arte é uma ferramenta de formação, de processo cultural e valores. […] Escrevo para fazer jus aos meus e minhas, que lutaram e ainda lutam, para que nossas narrativas sejam elaboradas através do nosso pensar, fazer e escrever”, disse Rodrigo França.

De forma descontraída, Ana Paula cita o preconceito contra o funk principalmente quando tocado fora das favelas. Após ler um trecho do livro escrito por Tamiris Coutinho chamado “Cai de boca no meu b*c3t@o: o funk como potência do empoderamento feminino”, Ana Paula perguntou à autora sobre como foi escrever o livro sobre essa temática, sendo uma mulher negra de periferia.
“A gente vive de fato um dilema entre a glamourização do funk e sua demonização, e é um processo que vem desde os anos 90, no senso comum. Falar sobre esse tema com esse viés da mulher chocou pelo uso do palavrão feminino. Recebi um discurso muito sexista e machista que não foi só para mim, mas também para o funk”, conta.
Sobre o processo de escrita, Taísa Machado conta como se descobriu escritora e sobre a falta de identificação com os livros e com os escritores que chegavam até ela. Hoje a criadora do projeto Afrofunk Rio também é colunista e autora do livro “O afrofunk e a ciência do rebolado”.
“Sempre gostei de escrever, mas não via o que escrevia como escrita. E eu usava muito as redes sociais. Era só um texto no Facebook, então, para mim não era nada. Até que eu li um livro chamado ‘Um sol na cabeça’, e eu percebi que podia ir além. E percebi que até ali só havia lido homens brancos, ninguém como eu, e por isso achava que não podia escrever. Mas quando percebi isso, as ideias começaram a fluir e comecei a escrever”, explicou Taísa.
Com isso, a última palestra do dia foi finalizada pela mediadora e também curadora da Bienal de 2021, Ana Paula Lisboa, que informou que o livro “O pequeno príncipe preto” de Rodrigo França, até então, é um dos livros infantis mais vendidos desta edição da Bienal.
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Bárbara Souza – 8° período
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