O quinto dia da Bienal do Livro do Rio, que ocorreu na terça-feira (07), foi marcado por discussões sobre o futuro tanto do Brasil, quanto da literatura. O evento literário mais importante do País, que desde o fim de semana vem sendo realizada no Riocentro, Zona Oeste do Rio de Janeiro, recebeu Teresa Cristina, Luiz Antônio Simas e as Pretinhas Leitoras (Duda e Helena Ferreira) para a mesa-redonda intitulada “Ainda sobre o futuro”.
A jornalista Ana Paula Lisboa, que fez a mediação da palestra, sugeriu que os convidados falassem um pouco a respeito de suas respectivas relações com a escrita. Teresa Cristina contou que seu processo está bem veiculado a sentimentos mais profundos. O historiador Luiz Antonio Simas afirmou que, em seu caso, a relação sempre esteve em um lugar mais leve.
“Minha primeira atividade sempre foi o magistério, então, a escrita veio num lugar de diversão, evidentemente comprometida. De certa maneira, sentar para escrever sempre me relaxou”, disse o autor, que durante a conversa afirmou que diante às dificuldades da pandemia da Covid-19, a escrita o ajudou, a partir de um mergulho na identidade do Brasil.
No caso das gêmeas Duda e Helena Ferreira, donas do canal “Pretinhas Leitoras”, a escrita possui um outro caminho. O livro lançado pelas irmãs chamado “Fa-vê-Las!” nasceu a partir de um projeto de incentivo à leitura em diversas comunidades do Rio de Janeiro e contou com a participação de 100 crianças. De acordo com Duda, a colaboração foi muito prazerosa.
“A alegria de vê-las escrevendo e desejando, era contagiante. Foi uma experiência maravilhosa. E sinto que abrimos portas para as crianças. A gente ficou super feliz com o resultado, ainda mais sendo nosso primeiro livro”, disse Duda.

Para Luiz Simas, que em muitos dos seus livros fala da capacidade do brasileiro e da cultura brasileira de resistir, falou sobre o País:
“Quando eu falo Brasil eu penso em estado e nação, que eu considero um projeto de governo que deu certo. Pois esse Brasil oficial não deu errado, ele foi projetado para ser o que ele é. Ele foi projetado para ser excludente, concentrador de renda, para aniquilar os corpos que não são brancos… Esse Brasil oficial é um projeto bem sucedido de horror, mas o que nasce nesse país mesmo com esse horror, me fascina”, diz Luiz Antonio.
Com um olhar mais otimista, a cantora Teresa Cristina menciona seu encanto ao ver as jovens autoras como Duda e Helena, pois nelas a cantora diz que consegue ver outras mulheres que já existiram e que continuam vivas e batalhando por um mundo melhor.
Ao lembrar das lives famosas que fez durante a pandemia, Teresa também destaca a alegria em poder celebrar certas pessoas e temas, mesmo em tempos tão difíceis. A cantora, a partir da afirmação de Simas, declarou que a persistência do brasileiro é uma verdadeira resistência.
“Mesmo com esse Brasil que temos, estamos numa Bienal do Livro, com crianças buscando leitura… me deu uma esperança. Eu sou viciada em esperança. Vendo todas essas histórias que eram para dar errado, e não deram, não tem como ser pessimista”, conta Teresa.
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Ana Paula Lisboa contou também sobre sua própria experiência com a literatura. A jornalista começou sua trajetória contando histórias, assim como as Pretinhas leitoras, aos 14 anos. A partir disso, ela questiona as irmãs sobre a responsabilidade de ocuparem esse papel.
“É um pouco difícil falar para crianças, pois nem sempre elas prestam atenção, elas nos distraem… mas quando elas estão interessadas, elas olham para você fixamente. E para mim, o olhar da criança é muito importante”, diz Helena.
Ao final da conversa, questionado sobre o futuro do País, principalmente no âmbito político, o autor e professor Luiz Simas afirmou que têm expectativas positivas, guiadas por uma mobilização de viés progressista, mesmo com a presença de movimentos perigosos.
Ele completa dizendo, que apesar da situação, o que está sendo feito, de transformações e reinvindicações, não tem volta. “Esse Brasil que esta aí é das mulheres pretas, é o Brasil que critica o padrão patriarcal heteronormativo, é o Brasil dessas meninas, do samba, da Teresa… esse Brasil está fora do buraco, não tem como voltar. E isso me enche de esperança”, finaliza.
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Bárbara Souza – 8° período
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