Comportamento

Especialista comenta sobre a adoção de animais na pandemia e motivos por trás do abandono

Tanto a adoção quanto o abandono apresentaram aumentos durante a pandemia. Médica veterinária comenta sobre a questão

Ter um animal na família é ótimo, e com a pandemia não seria diferente. Devido ao isolamento social e limites na interação, por conta da Covid-19, uma mudança foi apresentada na adoção de animais, fazendo o mercado pet crescer. É o que dizem dados do Instituto Brasil Pet, além de ONGs e protetores de animais. Segundo eles, a área de pets cresceu cerca de 13,5% em 2020, e a procura pela adoção de animais aumentou em até 50%.

Contudo, pouco é ponderado sobre o impacto dos pets. Quando a ação é feita de forma impensada, o animal que antes foi acolhido, passa a ser reinserido no sofrimento do abandono. Com isso, o Ampara Animal alerta para o fato de que o abandono de animais domésticos subiu 70% durante o período atual.

A veterinária clínica Elizabeth Severo diz que o cerne da questão é a carência, que ultrapassa a reflexão de se há condições para arcar com essa nova vida.

“O principal motivo do abandono de animais foi porque eles os pegaram numa hora de carência, com os filhos e pessoas de idade dentro de casa, para suprir uma necessidade. Depois viram que não tinham condições de manter os animais e então abandonaram. Sustentar um animal é muito caro”, disse a profissional.

Os desafios não são poucos. É preciso responsabilidade antes de levar um animal para casa, pois são precisos cuidados especiais. Algumas pessoas, ao tentar usar o animal para preencher outras necessidades, como a ausência de um bebê, podem deixar um pet com alguém sem o preparo físico e emocional necessário e prejudicar a saúde do animal.

Como por exemplo a retirada antes do tempo certo da ninhada, que além de expor o pet a diversas doenças, pode prejudicar a socialização e o psicológico desse filhote. Para Elizabeth, o bichinho só tem condições de ir para a nova casa a partir dos 45 dias. “O animal só deve ir a sua casa com 45 dias, pois ele já bebeu todo o colostro da mãe, está imune a algumas doenças e pronto para começar as vacinas”, explica.

Três das doenças mais comuns em cães são parvovirose, cinomose e raiva. A fim de evitá-las e dar ao animal uma vida mais longa e plena, a veterinária diz que é preciso seguir o processo de vacinação, vermifugação e acompanhamento veterinário. Algumas fases requerem mais cuidados do que outras e variam, por exemplo, entre animais filhotes e idosos.

“A pessoa tem que estar ciente de que vai adotar um animal, no caso de filhotes, que precisa de uma vacinação, de vermífugo e que precisa de cuidados veterinários. Agora, um animal idoso precisa de cuidados eternos, pois entra problemas de coração, artrite, artrose, displasia… é preciso pensar nos prós e nos contras”, contou a especialista.

Para quem deseja adotar um animal, a especialista recomenda a consciência antes de tudo, pois os pets têm sentimentos, precisam de cuidados e carinho condições financeiras apropriadas, já que eles também precisam ser levados para passear, de ração de boa qualidade, água, vacinações e um cantinho. A especialista também explica o cuidado a mais necessário quando tem crianças envolvidas.

“Todos os animais têm as suas necessidades também, então, para adquirir um animal é preciso ter muita paciência. Em casas com crianças, é necessário educá-las. Todo animal sente dor, todo animal tem as suas carências por amor e, às vezes, necessidade de ficar sozinho”, concluiu.

Animais disponíveis para adoção. Foto: Fábio Pozzebom / Agência Brasil

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A adoção

Ao pensar sobre tudo o que foi abordado e percebendo que há condições, adotar pode ser uma boa decisão a ser tomada. O estudante de Geografia, Raphael Cardodo, de 21 anos, nunca teve contato com cães e teve como animal de estimação um pássaro, que acabou morrendo, e abalando a família. Na pandemia, em conversa com os pais, ele resolveu adotar um filhote. A Penélope.

“Para ter a certeza de que o cachorro seria pequeno, era preciso comprar, e eu queria adotar porque não acho legal esse mercado de compra de cães. Muitas vezes colocam para procriar apenas para vender, tratando como mercadoria”, falou.

Com um relato sincero, Raphael diz que por nunca ter tido contato com um cão, a primeira experiência foi bastante desafiadora mas também muito prazerosa.

“Nos primeiros dias a gente sofreu um pouco com ela, pois a Penélope não gostava de ficar sozinha, nem mesmo à noite. Ela tinha um sono picotado e queria brincar, como um filhote. O momento pós-adoção foi bem legal, porque a gente quebrou bastante a cara e não sabia exatamente o que esperar. Foram muitas novidades, e ao mesmo tempo em que é um filhote, então acaba sendo mais fofo e acabamos apegando demais”, contou Raphael.

Quanto ao aspecto da sua vida que mais mudou depois da chegada de Penélope, o tutor diz: mobilidade. Para ele, filho único, não era possível deixar o animal sozinho em casa, dado os cuidados.

“A gente nunca teve algo a se prender em casa, nunca tive irmão pequeno. Então, no começo, os três não podiam sair ao mesmo tempo. Eu sei que isso pode parecer algo negativo, mas não necessariamente, porque a gente está cuidando de uma vida que retribui com carinho”, compartilhou.

Penélope fará 4 meses e já é a alegria da casa (Foto: Raphael Cardoso/Acervo Pessoal)

Raphael finaliza encorajando o ato de adotar e conta que, para quem nunca teve um animal, se deparar com essa nova rotina será uma boa aventura. Ele ainda desabafa sobre como fez bem a todos de sua casa a adoção de Penélope, apelidada de Pê.

“Sustente essa ideia de adotar, não de comprar. Se nunca teve um animal, não é fácil, mas é um processo interessante demais. Essa mudança de rotina, às vezes, é muito boa. Um cachorro sempre traz um tipo de novidade: a cada dia ou semana ele apronta alguma coisa, exige que você brinque e acaba fazendo com que você crie uma rotina diferente. Agrega muito no dia a dia. Então, não me arrependo de jeito nenhum e fez muito bem para a gente aqui em casa ter um quarto ser”, concluiu.

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Natally Valle – 2° período

Com revisão de Bárbara Souza – 8° período

Apenas uma estudante de jornalismo que, reconhecendo sua finitude perante a grandiosidade do Universo quando se lembra de olhar para as estrelas (Stephen Hawking), torna-se cada vez mais apaixonada pelos seus livros, pela natureza e por palavras.

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