Próximo de completar três anos dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, o Instituto Marielle Franco e a Anistia Internacional Brasil lançaram, na última sexta-feira (12), em uma coletiva de imprensa online, uma série de ações contra a impunidade do caso.
Entre elas, um dossiê sobre as investigações do crime e uma petição com mais de 1 milhão de assinaturas cobrando por justiça. Neste domingo (14), o crime completará três anos sem esclarecer quem mandou matar Marielle e Anderson, e por que.
O dossiê produzido pelas instituições contém uma linha do tempo com o histórico das investigações e diversas ações de lutas por justiça, além de uma lista com 14 perguntas sem respostas sobre os assassinatos, cobrando das autoridades atitudes para que o caso seja solucionado e seus mandantes punidos. O documento completo está disponível no site casomarielleeanderson.org.
Ele também será encaminhado ao atual governador Cláudio Castro e ao procurador-geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Luciano Mattos, junto à petição.

Foto: (reprodução / site)
“Percebemos que as investigações do caso passaram por dezenas de mudanças e mesmo após três anos a gente não consegue uma resposta sobre quem foi o mandante do crime e a motivação real que vem por trás desse crime tão grave, tão brutal e tão bárbaro”, disse Anielle Franco, irmã da ex-vereadora e diretora do instituto.
Jurema Werneck, diretora da Anistia Internacional Brasil, destaca que foram no total cinco trocas, entre governadores, procuradores gerais da justiça, delegados e promotores.
“É inadmissível que três anos depois não tenhamos uma solução definitiva deste caso. A gente não pode aceitar que as autoridades brasileiras não deem uma resposta clara a essa tentativa de silenciamento”, completou ela.
Memória a Marielle Franco
Em defesa para manter viva a memória de Marielle e seu legado, neste mês de março, o instituto apresenta também alguns projetos e ações para homenagear a vereadora, como a criação do Dia Marielle Franco de Enfrentamento à Violência Política Contra Mulheres Negras, LGBTQIA+ e Periféricas para todos os dias 14 de março e a construção da estátua da vereadora.
Além disso, mais 12 projetos de leis apresentados por Marielle em pouco mais de um ano de mandato na Câmara do Rio devem ser replicados em outras cidades, adaptadas às realidades locais.

“Hoje milhões de pessoas falam o nome da Mari, evocam sua luta, lembram sua trajetória, cobram por justiça para ela e o Anderson. E o Brasil não pode ser o país da impunidade para este tipo de crime, a gente não pode ser visto como um exemplo de impunidade”, reforçou Anielle.
Para Agatha Arnaus, viúva de Anderson Gomes, motorista que foi morto por estar com Marielle no momento do crime, a criação de uma Força-Tarefa específica no Ministério Público para investigar o caso demorou muito.
“Levou tempo demais. Essa força-tarefa devia ter sido criada lá no início. Eles falam tanto para gente que tinham técnicas inovadoras deste caso, que vão ajudar a solucionar outros casos, inclusive. Então sim, é importante que tenham um olhar diferenciado”, contou a viúva de Anderson.
Marinete da Silva, mãe de Marielle, relata sobre a dor que compartilha com outras mães que já perderam seus filhos. “Nenhuma mãe merece passar por isso. A dor que eu sinto é a dor de todas as mães que perderam seus filhos também. Nós estamos aqui diante de um crime que não tem como achar normal em nenhum lugar do mundo. Continuamos juntos para homenagear essa mulher que é um ícone no mundo todo e saber quem são os mandantes do assassinato de Marielle”, disse.
Perguntas sem respostas
Uma série de perguntas que permanecem abertas no caso Marielle e Anderson, segundo o Instituto e a Anistia Internacional, fazendo parte do dossiê que busca apresentar de forma sistematizada as questões mais importantes a respeito das investigações:
1- Quem mandou matar?
2- Qual a motivação do mandante do crime?
3- Por que ainda não se avançou na investigação sobre a autoria intelectual do crime?
4- Qual é a ligação do responsável pela clonagem do carro com o crime e o grupo de milicianos ligado a Adriano Nóbrega e o Escritório do crime?
5- Qual é a conclusão das investigações sobre o extravio das munições e armas da Polícia Federal usadas no crime?
6- Quem desligou, como e a mando de quem as câmeras de seguranças do trajeto que Marielle e Anderson percorreram não estavam funcionando?
7- Por que não existe uma atuação coordenada das instâncias em níveis estadual e federal sobre a elucidação do caso de Marielle e Anderson?
8- Por que até agora a Google não entregou os dados solicitados pelo MPRJ e a Polícia Civil para a investigação?
9- Por que houve tantas trocas no comando da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, responsável pela investigação do caso Marielle?
10- Houve tentativa de fraude nas investigações? Por quem?
11- Foi aberto um inquérito pela Polícia Federal para apurar as interferências na investigação do caso. Por que em meio a estas investigações, o superintendente regional da Polícia Federal do Rio de Janeiro foi trocado?
12- O presidente Jair Bolsonaro informou que Ronnie Lessa foi ouvido pela Polícia Federal sobre o caso do porteiro. Este interrogatório foi entregue ao Ministério Público e à Polícia Civil do Rio de Janeiro?
13- Por que o Governo brasileiro não forneceu todas as informações demandadas pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas?
14- Por que as recomendações da Comissão Externa Realizada no âmbito do Congresso Nacional no ano de 2018 ainda não foram implementadas?
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Indaya Casthorina de Morais – 7 Período
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