O presidente Jair Bolsonaro se descontrolou e xingou a TV Globo na noite desta terça-feira (29). Em uma live no Facebook, o presidente atacou a emissora em resposta à exibição no Jornal Nacional de uma reportagem sobre as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ocorrido em março de 2018, e ainda sem resolução.
Segundo o telejornal, o porteiro do condomínio onde morava Bolsonaro à época disse em depoimento que alguém com a voz “do seu Jair” autorizou a entrada de um dos suspeitos da morte da vereadora no dia do crime.

(Foto: Reprodução/Facebook)
Por que, TV Globo, revista Época, essa patifaria por parte de vocês? Essa coisa que não dá pra definir. Deixe eu governar o Brasil! Vocês perderam. Vocês vão renovar a concessão em 2022. Não vou persegui-los. Mas o processo vai estar limpo. Se não estiver limpo, legal, não tem renovação da concessão de vocês, e de TV nenhuma. Vocês apostaram em me derrubar no primeiro ano. Não conseguiram. Estou fazendo uma viagem, sacrifício, dez dias longe da família. Ralando o dia todo. Estamos recuperando a confiança no mundo. E vocês, TV Globo, o tempo todo infernizam a minha vida, p*! Onde vocês querem chegar eu sei. Vocês não têm vergonha na cara. Essa patifaria 24 horas por dia contra a minha pessoa. Agora, Marielle Franco, querem empurrar pra cima de mim.”, disparou o Presidente
Em mais de uma ocasião, durante os 23 minutos de transmissão, Bolsonaro reconheceu estar “exaltado” e fora do tom. “Não deveria perder a linha. Sou o presidente da República. Mas confesso que estou no meu limite com vocês”, disse, dirigindo-se à emissora.

Em sua nota, a Globo rejeitou as ofensas. “A Globo não fez patifaria, nem canalhice. Fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade”. A emissora ainda afirmou não estar preocupada com a renovação de sua concessão. “Sobre a afirmação de que, em 2022, não perseguirá a Globo, mas só renovará a sua concessão se o processo estiver, nas palavras dele, enxuto, a Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude”.

Durante toda a transmissão, realizada durante a madrugada saudita, Bolsonaro mostrou-se bastante irritado e falou de forma incisiva. Ele disse estar à disposição para falar com a polícia na investigação sobre a morte de Marielle. “Eu gostaria muito de falar neste processo, conversar com esse delegado”, disse. Bolsonaro afirmou que, “pelo que tudo indica”, o processo sobre a morte de Marielle está “bichado” e pediu ao Conselho Nacional do Ministério Público que “supervisione o processo”.
Witzel
Ainda na live, realizada em Riad, na Arábia Saudita, onde está em viagem oficial, Bolsonaro atacou o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC). O presidente acusou o antigo aliado de ter vazado o inquérito sobre Marielle, que “está em segredo de Justiça”. Bolsonaro acusou o governador do Rio de querer “destruir” a sua família para “chegar à Presidência da República”. “Por que essa sede pelo poder, senhor governador Witzel?”, questionou.
O governador também usou as redes sociais para responder:
Veja o vídeo completo:
Repercussão
Toda a história caiu como uma bomba na internet e milhões de usuários repercutiram a matéria do JN, a live de Bolsonaro e todas as questões envolvendo a polêmica. A pauta ficou no topo dos Trending Topics, do momento da veiculação da matéria até o fim da tarde desta quarta-feira (30).
O professor de Comunicação Social da UVA, Guilherme Carvalhido, avalia que esse problema é fruto de um governo que não processa críticas, e ataca, desde a campanha eleitoral, a imprensa, quando esta não fala o que fortalece o atual governo. Segundo o professor, isso representa um despreparo para a negociação política, tendendo ao perfil ditatorial.
“A imprensa tem como uma das suas principais funções colocar em xeque o poder de estados. Se isso é verdade, a resposta da Globo foi protocolar, colocando-se como instituição que defende a descrição dos fatos, independentemente de quem estiver no governo”, afirmou Carvalhido.
Segundo o professor, a polêmica deve ter como consequência o aumento da polarização política da opinião pública. Em sua visão, essa polarização é um dos principais objetivos do governo Bolsonaro, que alimenta-se dela para se manter vivo no jogo eleitoral.
O vereador do Rio, e filho mais novo do presidente, Carlos Bolsonaro (PSC), assim como o pai, usou o Twitter para se defender de qualquer relação com o assassinato de Marielle Franco, acusar a imprensa e lançar ofensas. Ele divulgou vídeos que supostamente servem de provas para suas teses.
Outras opiniões
Confira a nota da Globo na íntegra:
“A Globo não fez patifaria nem canalhice. Fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade. Revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília, naquele dia, com dois registros na lista de presença em votações.
O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação.
A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro. Sobre a afirmação de que, em 2022, não perseguirá a Globo, mas só renovará a sua concessão se o processo estiver, nas palavras dele, enxuto, a Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude. Há 54 anos, a emissora jamais deixou de cumprir as suas obrigações.”
Matheus Marques – 8° período
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