Com muito glamour e alegria, o Carnaval, uma das festas mais populares e animadas do Brasil, é, sem dúvidas, também a mais esperada pelos foliões. Seu significado está relacionado a liberdade e desde o século XVII quando os desfiles urbanos, as máscaras e fantasias já tomavam conta das ruas. Dentre um dos elementos mais marcantes das escolas de samba estão os carros alegóricos, que surgiram através de carros comuns decorados pela população.
Na década de 1960, a figura carnavalesca começou a prevalecer em setores significativos do desfile, como por exemplo, os que se referem à plástica (fantasias e alegorias) e, por consequência, ao enredo. A partir da ideia do carnavalesco e após o aval dos diretores da escola, os carros alegóricos começavam a ser produzidos. Com um tamanho bem menor comparado com os de hoje, eles não tinham destaques e nem os componentes secundários, por isso assemelhavam-se aos tripés, alegorias menores que não contam como carros alegóricos que desfilam até hoje.
A quantidade de alegorias elaboradas naquela época era muito menor, somente três alegorias comparadas às de hoje; e, se antes mediam em média 4m por 3m, ou 4m por 4m, agora os carros chegam 12m por 20m. As alegorias eram construídas com papel machê e gesso, criando formas e sempre feitas por artistas populares. A escola de belas artes passava longe, o carnaval era bem rústico. Grandes sociedades eram o ponto forte do carnaval carioca.
E se tratando das diferenças do carnaval naquela época para o de hoje, atualmente é muito comum que os desfiles na avenida retratem problemas diários, mas em 1968, não era rotineiro que os problemas vividos no Brasil contemporâneo fossem levados pelas escolas, afinal o país era governado por militares.
O presidente da Portela, Luís Carlos Magalhães, explica que o ano de 1968 foi o que precedeu o Ai-5, e que, naquela época, a escolha dos temas não era feita pelas escolas de samba.
“Em 1968, a folia era só diversão e alegria. Muitos estudiosos dizem quem 1968 só começou em dezembro, após o Ai-5. Nessa época, a UNI e o Comitê de Defesa Nacional assumiram o carnaval, porque a prefeitura não financiava. Então, os temas eram escolhidos por eles e as escolas apenas desenvolviam os enredos, os carros alegóricos e as fantasias”, conta.
Luís Carlos também diz que os carnavais daquela época não abordavam assuntos relacionados aos acontecimentos militares.
“Não havia problemas na avenida relacionados ao que acontecia no Brasil. O carnaval estava relacionado a união e alegria dos foliões em celebrar. As pessoas se reuniam para enfeitar os carros alegóricos, criar fantasias e máscaras, curtir as marchinhas… era só alegria”, acrescenta Luís.
E quem viveu aquela época carrega consigo lembranças vivas. Dona Miriam, de 60 anos, e seus irmãos se recordam do carnaval. Ela conta que toda a família se reunia para celebrar e fazer as ornamentações.
“Eu era muito nova, mas lembro que toda vez que o carnaval ia se aproximando, eu e os meus irmãos ficávamos ansiosos para a movimentação dos vizinhos e amigos, porque já fazia parte da tradição do bairro decorar as ruas, criar fantasias, ensaiar as marchinhas e danças para os desfiles. Hoje em dia não temos mais isso, somente as escolas fazem ornamentações e estimulam os foliões”, diz Dona Miriam.
Ela também relata que sente saudade da época. “Era tudo feito à mão, mas todo esforço e trabalho valiam a pena. Sinto muita falta da emoção de ver um carro alegórico pronto ou uma fantasia costurada. Felicidade não era somente o glamour, era a união”, conclui com um sorriso no rosto.
As fantasias
Quando o assunto é carnaval não há como não pensar nas fantasias, que carregam com elas um ar animado dando maior significado ao grande evento. Tradição não só nas avenidas, mas também nos blocos e festas de rua, os adereços utilizados na folia possuem contexto histórico que vem de muitos anos atrás.
As fantasias passaram a ter importância em 1870, trazendo festividade para a comemoração. As fantasias de escolas de samba, em especial, são essenciais para o carnaval. Não se escolhe uma fantasia impunemente ou por acaso, a intenção, com auxílio do alegórico, é expressar ou revelar algum conteúdo. Nos desfiles, elas traduzem também as histórias contadas pelo samba enredo.
Formadas por alas menos compactas em que as pessoas ficavam mais dispersas e com liberdade para desfilar, as diferenças do carnaval atual para o de 1968 são demasiadamente nítidas. Além desta questão, naquela época, os próprios componentes das escolas de samba produziam suas fantasias na qual não era utilizada a arte do nudismo como nos dias atuais, é o que relata o carnavalesco Luiz Fernando Reis.
“Não se pensava na questão do nudismo, não havia nem como, nem porquê, já que naquela época se tinha uma população muito mais recatada do que hoje. O nudismo começou a aparecer nos anos 80, onde tudo já era mais liberal. O samba sempre foi conservador, e naquela época era ainda mais”, conta Luiz Fernando.
Com todo o tradicionalismo, foi nos anos 60 que criou-se a expressão “genitália desnuda”, de acordo com o sociólogo e jornalista Bruno Filippo. “A expressão era utilizada para denominar a proibição da nudez total e as passistas desempenhavam o papel de, por meio do requebro sensual, chamar a atenção do público. As ‘cabrochas’, como eram denominadas na época, costumavam desfilar de biquíni, com um adereço na parte de baixo. Com o tempo, os panos foram diminuindo, até chegar ao topless, nos anos de 1980”, explica Bruno.
E quem aproveitou a folia nos anos 60 não esconde a animação ao contar sobre as lembranças dos antigos carnavais. A dona de casa Jane Maria relembra os tempos que saía nas festas de rua e como se ornamentava. “As fantasias daquela época não eram tão peladas como agora, nem tão cheias de brilhos e detalhes. Elas eram enfeitadas, mas com os recursos que tínhamos na época, que não eram muitos”, relata Jane.
Mesmo com as restrições impostas contra o nudismo naquela época, Dona Jane conta que não deixava de desfrutar dos topless e as mini saias. “Eu e minhas amigas aproveitávamos que era carnaval para usar e abusar das roupas mais curtinhas, porque meus pais me proibiam muito na época, e eu sempre respondia com ‘é carnaval, pai, carnaval é liberdade’. Para mim carnaval é isso, liberdade de expressão”, finaliza ela.
Roberta Ferreira e Tamires Santos
Reportagem realizada para a disciplina de Oficina Multimídia
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