Falar de museus é falar somente de obras de arte e galeria? No Museu Nacional de Belas Artes, o trabalho vai muito além. Todo esse conjunto não seria possível sem os curadores e os museólogos, e o MNBA tem a sorte de ter a competente e sempre elogiadíssima Cláudia Rocha. Ela ocupa o cargo de chefia da Divisão Técnica, área responsável pela pesquisa e processamento técnico dos acervos museológicos, arquivístico e bibliográficos do museu.
— Em 2018, completo oito anos que entrei por concurso no Ibram, lotada no MNBA. Mas já trabalhei como contratada e também como estagiária. Aliás, foi aqui o meu primeiro estágio em Museologia.

Cláudia está sempre atenta e antenada em seu local de trabalho. Foto: Felippe Naus
Oito anos parece pouco, mas já é muito para Cláudia. Estagiária, colaboradora concursada, que antes de se tornar a chefe da Divisão Técnica, trabalhou por um bom tempo na Seção de Registro.
— Fui responsável durante sete anos pela Seção de Registro do MNBA. O setor lida com as aquisições de obras de arte e com os empréstimos de curta e longa duração. A seção documenta as aquisições cuja maior parte é pelo modo de doação, bem como as identifica e insere no banco de dados. Também documenta as solicitações de empréstimos nacionais e internacionais, atividade de grande fluxo de ações que mobiliza setores da Divisão Técnica e da Coordenação de Conservação — conta.

Cláudia mediando uma reunião em seu espaço de trabalho no museu. Foto: Felippe Naus
Cláudia explica que a função do museólogo mudou com o passar do tempo e que, cada vez mais, é necessário que esse profissional identifique e reconheça potenciais repertórios de memória fora dos espaços tradicionais de conhecimento e cultura.
— A ideia de preservação está para além da manutenção do bem cultural. Ela inclui também a imaterialidade do conhecimento, das relações e saberes em torno de um determinado objeto ou bem cultural — afirma.
Perguntada sobre as principais características que um museólogo precisa ter, Cláudia é direta e firme ao responder:
— Sensibilidade para as questões da memória e patrimônio, que se cultiva com a constante busca do conhecimento e aperfeiçoamento.
Trabalhar na área de museus é ter a possibilidade também de exercer a tarefa de courier, como explica Cláudia.
— Se constitui em tarefa de grande responsabilidade, pois o técnico deve supervisionar e acompanhar a obra de arte até a sua instalação no espaço expositivo. O courier é o guardião da obra de arte e identifica se a obra chegou sem alterações no local a ser exposta.
Sobre viagens, ela diz já ter feito várias nessa função, nacionais e internacionais, mas a mais interessante, segundo a museóloga, foi levar uma obra do artista Vitor Meirelles a um museu na cidade de Oostend, no interior da Bélgica, no período das comemorações do Ano do Brasil na Europa, no Festival Europalia.
— Foi interessante ver tantas exposições sobre o Brasil fora do país e ver como se mobilizou pessoas, conversas e matérias na imprensa sobre o nosso país — aponta Cláudia.
Visitar uma instituição museológica é como a leitura, uma visita à história, um hábito a ser cultivado. Mas para Cláudia há um pesar nisso.
— Infelizmente, temos muito museus concentrados na região sudeste, em áreas nobres, e uma população grande com dificuldade de acessibilidade a esses lugares. Distância e preço da condução constituem-se em grandes dificuldades, assim como o desconhecimento desses lugares e consequente ausência de hábito.
Para que seja mudado esse cenário, Cláudia aposta na educação. É a escola que, normalmente, consegue chegar a essa população e proporcionar ao menos uma visita a um museu. E cabe ao museu despertar o encantamento da criança para esses espaços, para bem recebê-la e fazê-la voltar para uma nova visita com a sua família.
Ações Educativas
É a partir desse pensamento que entra a área do Setor Educativo do MNBA, com suas atividades e projetos visando à promoção da cidadania cultural, entendida como o acesso democrático ao universo artístico do nosso patrimônio cultural.
Nesse sentido, ocorrem ações nas Galerias de Arte Brasileira dos Séculos XIX e de Arte Brasileira Moderna e Contemporânea, procurando atender aos mais diferentes públicos, em diversos projetos, de forma a diminuir barreiras, estabelecendo uma relação dialógica.
Existem também quatro projetos para diversos públicos, que são:
- Visita ao acervo do museu: Mediações voltadas para grupos de instituições escolares da rede pública e privada, e ONGs que possuam uma ação educativa. Essas visitas mediadas objetivam promover a construção de significados e novos olhares no espaço expositivo;
- Todo mundo no museu: Este projeto contempla visitas mediadas para famílias, com jogos e brincadeiras, nas Galerias do Museu, com objetivo de articular arte, cultura e lazer. Ao apreciarmos uma obra de arte, nos despimos do olhar cotidiano e abrimos espaço para novos significados;
- Oficina para professores: Discutir sobre o papel do museu na educação, conhecer o MNBA, fornecer subsídios para que o professor crie estratégias pedagógicas para trabalhar o acervo do MNBA em suas aulas e incentivar a visitação ao museu;
- Projetos inclusivos: Ver e Sentir através do Toque: projeto experimental de acessibilidade estética. Consiste em visitas mediadas com grupos de cegos e videntes, utilizando estímulos sensoriais diversos, a fim de provocar o diálogo e a troca de impressões, lembranças, comparações, tornando a visita ao museu uma experiência enriquecedora para todos os visitantes do grupo.
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Esta reportagem é parte do Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo “Arte, pesquisa e conhecimento — Um passeio pelo Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro”, de Felippe Naus, na Universidade Veiga de Almeida
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