O texto alternativo, também conhecido como “alt text”, é um recurso indispensável para a acessibilidade digital de todos os usuários, mas principalmente de pessoas cegas e com baixa visão. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, 6.5 milhões de brasileiros declaram alguma deficiência visual, e é considerável que, entre esses indivíduos, parte esteja presente na internet. Essa ferramenta não existe apenas para otimizar mecanismos de busca; a descrição escrita do conteúdo das imagens tem função social de democratizar a informação e promover a inclusão desses indivíduos na esfera digital.
As tecnologias assistivas são recursos que otimizam o dia a dia de pessoas com deficiência. Assim, a descrição de imagens deve ser objetiva e deve contemplar todas as informações necessárias para que softwares e leitores de tela – como o TalkBack (Android) e VoiceOver (IOS) – consigam cumprir suas funções. Entretanto, quando não há a preocupação de utilizar o texto alternativo, as ferramentas não são capazes de identificar o conteúdo das imagens nas redes sociais, o que prejudica a troca de informações.

Com a proposta de criar uma plataforma mais acessível, em 2018, o texto alternativo se tornou disponível no Instagram. Esta melhoria não foi a solução para a inclusão digital, já que não se tornou tão popular entre os usuários das redes sociais, como explica Gustavo Torniero, jornalista, pessoa cega e ativista na luta de recursos para pessoas com deficiência, que utiliza as redes sociais para sua vida pessoal e profissional.
“Eu, como uma pessoa cega, utilizo basicamente programas de leitores de tela, que leem todas as informações textuais que estão na tela pra mim. Nas redes sociais eu enfrento muitas dificuldades no acesso ao conteúdo, principalmente em plataformas cujo conteúdo é basicamente visual, como o Instagram, porque nem todas as pessoas conhecem o recurso de texto alternativo, e muitas vezes as pessoas não sabem como descrever e não cultuam esse hábito”, afirma o jornalista.
Para Gustavo, existe uma dificuldade para que pessoas não-cegas entendam a importância de tornar os conteúdos mais acessíveis nas plataformas digitais.
“É um problema que eu diria ser estrutural. Tem a ver com a base, tem a ver com o conhecimento, com o acesso e proximidade com a comunidade de pessoas com deficiência e com assuntos em relação à diversidade”, diz Gustavo.
Não muito distante da funcionalidade dentro do aplicativo do Instagram, um movimento de inclusão tornou-se popular nos últimos anos, trata-se da hashtag #PraCegoVer, criada pela professora e especialista em educação inclusiva, Patrícia Braille. A iniciativa surgiu como uma alternativa com o mesmo intuito do texto alternativo, mas com a descrição da imagem na legenda, que evidenciou uma causa que demanda a atenção da sociedade.
“O projeto #PraCegoVer surge de minha necessidade de me comunicar melhor com meus colegas e amigos cegos. Então tudo que eu postava no meu blog tinha audiodescrição. Para disseminar a prática, decidi criar um evento virtual no Facebook e foi aí que oficialmente o projeto começou”, explica Patrícia.
A educadora conta que no final de sua adolescência conheceu pessoas cegas e estudou braile, assim se aproximando da pauta de acessibilidade na educação como pesquisadora, profissional e criadora de metodologias acessíveis. “Mesmo nos conteúdos mais cotidianos ou de menor relevância, eu incluo a audiodescrição, porque um percentual de meus seguidores têm deficiência e outro percentual deseja aprender”, aponta Patrícia.
Dessa forma, para que pessoas com deficiência vivenciem o direito do acesso à informação, criadores de conteúdos fortalecem a discussão sobre a acessibilidade digital, para que o uso do texto alternativo se torne popular. É o caso de Marcelo Sales, especialista em acessibilidade digital. Em seu perfil no Instagram, há conteúdos relacionados e dicas de quando e como utilizar o texto alternativo nas publicações.
Perspectiva para o futuro
Pessoas cegas ou com baixa visão são indivíduos sociais que também estão presentes no mundo online. Patrícia Braille, afirma que é possível prever a ampliação desse recurso para todos que buscam uma experiência cultural mais ampla e inclusiva.
“Com a obrigatoriedade da audiodescrição em editais de cultura, por exemplo, a acessibilidade não é mais um item que se pode ignorar impunemente”, afirma a educadora.
Gustavo Torniero também é otimista e acredita que empresas e organizações precisam investir na capacitação de profissionais para produção de conteúdo acessível para todos, o conhecimento e a proximidade com a comunidade podem gerar benefícios financeiros para a própria empresa.
“É um trabalho lento de conscientização e que envolve várias temáticas. Há 5 ou 6 anos, quase ninguém descrevia suas imagens. Hoje essa discussão já tem chegado a empresas, criadores de conteúdo e o usuário comum de redes sociais”, finaliza o jornalista.
Foto de Capa: Pexels
Reportagem de Letícia Machado com edição de texto de João Pedro Agner.
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amei a matéria!!!!
Matéria incrível sobre um assunto extremamente necessário!
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Muito boa e necessária essa matéria
Excelente matéria! Parabéns por abordar um conteúdo que ainda carece de conscientização e ampliação nos espaços virtuais. 👏👏👏
Matéria muitíssimo necessária, e abordada de forma excelente! Amei!!!
O assunto abordado na matéria foi bem direto e esclarecedor. Eu também trabalho com pessoas cegas na minha profissão e sei como é para eles a dificuldade de se ter acessibilidade de conteúdos variados. Parabéns para a escritora!
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