A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou em 5 de maio o fim da Emergência Sanitária Global da Covid-19 após mais de três anos desde o início da pandemia. Em conferência transmitida online, o diretor-geral da instituição, Tedros Adhanom, revelou que a recomendação partiu do Comitê de Emergência. A autoridade em saúde pública, no entanto, ressaltou que a pandemia ainda é uma realidade, destacando o fato de o vírus matar uma pessoa a cada três minutos — considerando apenas os dados conhecidos.
Mas, apesar da declaração de Adhanom, assim que o anúncio foi feito, inúmeros comentários se proliferaram nas redes sociais em comemoração a um suposto “fim da pandemia” — o que, aliás, levou alguns perfis de grande alcance a publicarem erratas e retratações. O diretor-geral da OMS chegou até a afirmar em coletiva de imprensa que, se a sociedade voltar a viver aos moldes pré-vírus, será uma demonstração de fracasso no aprendizado e uma falha com as futuras gerações, conforme noticiou a Agência Brasil.
Ainda assim, no caso do Brasil, as taxas de aplicação da vacina bivalente não atingiram as metas estabelecidas pelo Governo Federal. Até a data do decreto, somente 13,5 milhões de pessoas foram aos postos para receber a nova dose, de acordo com dados do Ministério da Saúde — inclusive, foi por essa razão que a pasta decidiu liberar a vacinação para toda a população maior de 18 anos. Todos esses fatores ocasionaram um pronunciamento em rede nacional da Ministra da Saúde, Nísia Trindade, sobre a decisão da Organização Mundial da Saúde e alertando sobre a necessidade das vacinas.
No entanto, apesar dos esclarecimentos realizados pela OMS e pelo governo brasileiro, ainda restam algumas dúvidas acerca deste momento pós-encerramento da Emergência Sanitária Global, como lidar com a circulação do vírus e os riscos de um novo crescimento do número de contágios caso as recomendações médicas não sejam seguidas. Por isso, a Agência UVA realizou uma entrevista com Paulo Machado, professor do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Veiga de Almeida, com especialização nas áreas de Gestão em Saúde e Gestão em Saúde da Família, para sanar as inseguranças e incertezas sobre a atual situação da Covid-19. Confira:
Agência UVA: A OMS decretou o fim da Emergência Sanitária Global para a Covid-19, mas isso não significa que o vírus deixou de existir. A partir de agora, como fica a situação da Covid? Ela vai passar a ser uma doença sazonal com vacinação anual, como a gripe?
Paulo Machado: A declaração pela OMS do fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional referente à Covid-19, não significa o fim da Pandemia, mas, sim, uma mudança significativa nos fatores que levaram à decretação de emergência, como o declínio nas infecções e formas graves da doença, tendo como consequência a diminuição das hospitalizações e internações em UTI, bem como queda nos indicadores de mortalidade. O aumento dos níveis de imunidade da população, decorrentes da vacina, foi fundamental para a mudança do quadro epidemiológico. Apesar da melhora, é preciso continuarmos com os alertas, pois o vírus continua circulando e com possibilidades de mutar.
Agência UVA: Embora a vacina bivalente já esteja liberada para toda a população maior de 18 anos, os números da vacinação ainda não atingiram a meta estabelecida. Quais são as possíveis consequências disso?
PM: A propagação mundial da doença continua caracterizada como pandemia. As infecções, doenças, internações e mortes, apesar da menor quantidade, continuam ocorrendo, principalmente em indivíduos não vacinados ou com esquema vacinal incompleto.
Agência UVA: Do ponto de vista da saúde pública, qual é o motivo ou quais são os motivos dessa baixa aderência à vacinação, especialmente em um país com histórico de décadas sendo referência nesse setor?
PM: A cada ano, aumenta a queda da cobertura vacinal, decorrente, principalmente, do desconhecimento; medo de que as vacinas causem a doença ou alguma reação grave, traumas de agulha, que a administração de elevado número de vacinas aplicadas sobrecarregue o sistema imunológico; falta de tempo, as diversas Fake News sobre vacinas, e, mundialmente, os movimentos antivacinas que ganharam força desde 1998. Como consequência da baixa cobertura, podemos citar o ressurgimento de doenças erradicadas, avanço (descontrole) de doenças imunopreveníveis, indivíduos mais suscetíveis ao adoecer e morte.
Agência UVA: Há o risco de um novo aumento de casos, pelo menos a nível regional ou nacional?
PM: Os múltiplos fatores que interferem na saúde humana, tais como os sociais, econômicos, políticos e ambientais, mantém a população sob risco e vulnerável a diversas doenças. Ainda vamos ter que conviver com a doença, que continua evoluindo e sofrendo mutações. Portanto, não podemos baixar a guarda. É preciso aprender as lições passadas por essa pandemia para não sermos mais surpreendidos. Temos que continuar vacinando os grupos vulneráveis e investir em pesquisa e vigilância sanitária para poder detectar rapidamente uma nova pandemia ou alguma alteração no quadro epidemiológico. O Brasil, pelo seu perfil, com vários biomas, pode vir a tornar-se endêmico.
Agência UVA: A vacinação contra a Covid-19 é uma questão de saúde pública. Quais ações poderiam ser feitas para aumentar a adesão à vacina?
PM: Para melhorar a baixa cobertura vacinal, é preciso unir os diversos agentes envolvidos com a saúde da população, ampliando a informação para desconstruir os mitos relacionados à vacinação e buscar estratégias ativas de aproximação com os grupos prioritários, indo vacinar em escolas, praças, igrejas, clubes, comunidades.
Agência UVA: Existe o risco de uma nova Emergência Sanitária Global de Covid em decorrência do não cumprimento do esquema vacinal?
PM: Com todo o exposto, são várias as possibilidades com relação à COVID-19: pode recrudescer com mutações do vírus; pode ser controlada e tornar-se endêmica; podemos ter a vacina incluída na rotina do calendário vacinal ou campanha anual. Conduta é expectante.
Foto de Capa: Rovena Rosa/Agência Brasil
Reportagem por Daniel Deroza, com edição de texto de João Pedro Agner.
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