As mídias sociais têm influenciado todas as áreas da sociedade, e no jornalismo não é diferente. A partir desta ideia central foi realizado o painel “Como ganhar corações e mentes com as redes sociais”, durante o Festival 3i deste sábado (6), na Casa da Glória, no Rio. No encontro mediado por Pedro Doria, editor chefe do “Canal Meio”, foram apresentadas perspectivas de jornalistas com diferentes atuações no mercado: Ademara Barros, atriz, jornalista e criadora de conteúdo nas redes, Rene Silva, fundador do “Voz das Comunidades”, e Tamara Gil, editora assistente da “BBC”.
Os convidados discutiram os diferentes alcances das plataformas digitais. Tamara Gil, editora assistente da “BBC Mundo”, por exemplo, explicou que o TikTok é um meio fácil e eficiente para levar o conteúdo do veículo a um público mais jovem. Porém, para ser mais eficaz, a linguagem do site precisa ser adaptada, tornando-se mais simples e utilizando alguns recursos visuais.
Ela explica que a “BBC Mundo” busca trazer conteúdos não só relacionados à política, mas de outras editorias também.
“Não damos importância apenas a temas políticos, também trazemos conteúdos de ciência, saúde, história e de linguagem, porque são tão importantes quanto a política e nos ajudam a entender o mundo em que vivemos”, expõe a jornalista.

Para complementar, ela reforçou a importância de se buscar histórias inspiradoras e dar voz a seus protagonistas:
“A melhor forma de conquistar corações e mentes é entender o público com quem se fala, porque o trabalho não acaba quando se publica o vídeo. De certa forma ele começa de outra maneira”, compartilha Tamara.
Outro que falou sobre a adaptação da linguagem nas diferentes plataformas foi Rene Silva, fundador do “Voz das Comunidades”. Ele fala que dividiu a equipe em diferentes grupos para que cada um pudesse produzir especificamente para cada linguagem.
“Quando a gente olha para a nossa audiência no Twitter, por exemplo, a maior parte dos seguidores são de pessoas que não moram nas favelas, de fora da realidade das favelas, mas que seguem para entender qual é a realidade”, diz Rene.
O jornalista diz que apesar de ser jovem e ter certa facilidade, tem que se adaptar o tempo todo para acompanhar as mudanças do mercado. “O Voz das Comunidades é um veículo de comunicação que surgiu dentro do Complexo do Alemão [Zona Norte do Rio] com objetivo de mostrar as realidades das favelas, de contar um pouco esta realidade a partir da nossa própria perspectiva”, revela.
“Enfrentamos um desafio gigantesco porque a gente começou com o impresso, e com o passar do tempo, tivemos que criar site, criar aplicativos e criar plataformas para que a gente pudesse seguir fazendo o trabalho”, conta.
Durante a mesa, ele apresentou o aplicativo que tem sido utilizado como um meio de comunicação interna na favela. Nele, os moradores podem contribuir com fotos, vídeos, áudios e textos sobre atualizações do que está acontecendo em tempo real em cada uma das suas vielas e ruas.
Rene não deixa nada passar e explica que o veículo possui uma rede de apuração e checagem para garantir a veracidade das informações.
“O Voz surge para contrapor a narrativa que é dada todos os dias pelos grandes veículos de mídia. Para que as pessoas da favela também consigam ter acesso às informações, mas não de uma forma estereotipada, não da forma que ainda hoje é narrada por alguns veículos de forma preconceituosa”, desabafa.
Outro ponto de vista apresentado foi o da jornalista, apresentadora, criadora de conteúdo e atriz pernambucana, Ademara Barros, que utiliza suas redes para falar de temas como xenofobia, machismo e outras problemáticas. Sempre com muito bom humor.
Ela conta que já trabalhou em diversos campos da comunicação. Hoje, tendo foco no audiovisual, tenta transformar pautas relativamente pesadas em conteúdos mais lúdicos, buscando informar e ao mesmo tempo entreter.
“Sempre tentei no meu conteúdo na internet e na minha presença em lugares como esse [festivais e palestras] falar sobre pautas que me atravessam. Mas da forma mais didática e acessível porque são públicos muito diferentes”, expõe.
Ademara começou fazendo conteúdos sobre a cultura pernambucana, mas em certo ponto incorporou tópicos como machismo. “É um desafio para mim conquistar as mentes e os corações porque as pessoas vão sempre ser tocadas de maneiras muito diferentes por esses conteúdos. Mas tento sempre me adaptar às pessoas novas que vão chegando”, diz.
“Se não fosse jornalista meu conteúdo não seria o que ele é hoje. Tento falar das coisas de forma lúdica, tento envelopar a estética fácil e rápida que é a do meme. Apesar disso, se eu não tivesse o rigor da apuração jornalística cada conteúdo não comunicaria da forma que necessito”, declara Ademara.
Sobre o Festival 3i
O festival acontece desde 2017 e é considerado o primeiro evento nacional focado na inovação e liderança para jornalistas e empreendedores. A última edição aconteceu de forma virtualizada em março de 2022, devido às consequências da pandemia da Covid-19, e contou com a participação de aproximadamente 3 mil pessoas. Os ingressos já estão esgotados, mas alguns painéis e mesas serão transmitidos ao vivo pelo YouTube, de forma gratuita. A programação completa do evento está disponível aqui. Para mais informações, basta acessar o site do Festival 3i.
Foto de capa: Luiz Guilherme Reis/Agência UVA
Reportagem Malu Danezi com edição de texto de Daniela Oliveira
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