O termo “asian fishing” (algo como “farsa asiática”, em tradução livre para o português) é usado quando pessoas não-asiáticas tentam se assemelhar fisicamente a esses grupos. Isso pode ocorrer pelo uso de maquiagem e edição de fotos para modificar o formato dos olhos, por exemplo, ou até mesmo por procedimentos estéticos para ter traços asiáticos. Quem vem sendo alvo de críticas de internautas pela possível prática é a drag queen e cantora Pabllo Vittar.
O jovem Hugo Katsuo, de 23 anos, cineasta e mestrando pelo programa de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (PPGCine-UFF), é descendente de japoneses e por isso alertou a artista nas redes sociais, na sexta (4), em uma série de publicações como uma carta de fã, sobre o possível “asian fishing” que Pabllo tem reproduzido.
Em um dos tweets, ele compartilha que, durante sua infância e adolescência, ouviu de pessoas sobre seus traços asiáticos serem estranhos, exóticos e feios. Por esse mesmo motivo, Hugo luta contra a dificuldade de construir uma boa autoestima. O texto completo pode ser lido no perfil do estudante no Twitter.
Procurado pela Agência UVA, Katsuo afirma que essa prática é vista como uma mercadoria, e que nota um padrão maior que contextualiza a ocorrência: “Isso é sintomático de um fenômeno global onde a diferença racial, seja dada nos traços físicos ou em elementos culturais específicos, é transformada em mera mercadoria. Nesse sentido, é atribuído um valor a ela”, analisa o estudante.
Para a criadora de conteúdo Bruna Tukamoto, de 26 anos, o uso do “asian fishing” é uma problemática principalmente nos dias atuais, com o crescimento das indústrias de K-Pop e dos dramas asiáticos. Em vídeo no TikTok, Bruna também destaca que etnia não é um look para as pessoas usarem e descartarem, e que as pessoas brancas têm o privilégio de voltarem a sua raça, já as pessoas amarelas, não.
Em conversa com a Agência UVA, Tukamoto conta que também recebeu comentários maldosos em relação a seus traços étnicos asiáticos na infância, principalmente sobre seus olhos.
“Era muito comum eu escutar comentários direcionadas aos meus olhos, desde falas como “abre o olho, japonesa” a “olho rasgado”. Eu cresci ouvindo tudo isso e entendendo que eu não era aceita pela sociedade e não era vista como bonita”, recorda a influenciadora.
Hugo Katsuo ainda destaca que não existe nenhum problema em gostar das culturas leste-asiáticas, mas existe um certo limite. “O problema é quando a admiração e o consumo se tornam um fetiche. Digo fetiche em dois sentidos: a transformação da diferença racial em mercadoria e do desejo sexual embasado na objetificação racial”, enumera.
Um usuário do Twitter postou fotos da drag queen fazendo uso do “asian fishing”, e ela o respondeu alegando que o perfil “queria atenção e deveria procurar o que fazer”.
Não houve pronunciamento de Pabllo Vittar ou da equipe acerca da carta de Hugo até a data de publicação desta reportagem. Enquanto isso, Katsuo sofre ataques dos fãs da cantora.
Foto de capa: Reprodução/Instagram
Reportagem de Juliana Ramos com edição de texto de Larissa Teixeira e Gabriel Folena
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Agência UVA 
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