Responsável por filmes como “Ad Astra” (2019), estrelado por Brad Pitt, e “Z: A Cidade Perdida” (2016), com Tom Holland, o diretor e roteirista James Gray lança “Armageddon Time”, drama inspirado em sua própria infância e adolescência. Com estreia no dia 10 de novembro nos cinemas brasileiros, o filme acompanha o jovem Paul Graff (Banks Repeta) e sua família, descendente de imigrantes judeus, bem como o melhor amigo do garoto, Johnny Davis (Jaylin Webb), na periferia de Nova York, entre os anos 1970 e 1980. O conflito entre as expectativas de Esther (Anne Hathaway), a mãe de Paul, e Irving (Jeremy Strong), seu pai, com as experiências de vida do filho sensível e curioso são a força motriz do longa.
Entre os conflitos, o maior é, sem dúvida, o desconforto preconceituoso gerado nos pais de Paul pela amizade do filho com Johnny, um adolescente negro. Próximos, os rapazes trocam risadas e se oferecem companhia em uma rotina escolar opressiva. Hathaway e Strong entregam performances críveis para as figuras que lhe são dadas: dois adultos frustrados que mantém uma família disfuncional, incomodados com os questionamentos maduros propostos pelo comportamento do filho, o qual começa a dar sinais de que não se encaixará tão fácil no lugar que lhe é esperado na família. O maior contraponto, e a possível única referência de Paul no seu núcleo familiar, parece ser o avô, Aaron (Anthony Hopkins), que nutre a imaginação do neto criativo e não repreende seus jovens planos — como o sonho de ser artista.

A proposta não é nova. Produções recentes têm explorado o “ser criança” em cenários politicamente potentes, como em “Moonlight”, que acompanha diferentes fases da vida, inclusive a infância, de um homem negro homossexual, e “The Florida Project”, que busca a docilidade na rotina de um grupo de crianças residentes na periferia de Orlando, vivendo nos arredores empobrecidos dos parques Disney. Em “Armageddon Time”, nada do que é dito sobre classe e raça é inédito, mas a cultura judaica oferece a possibilidade de uma outra perspectiva para o tema, e o cineasta não a desperdiça.
O maior crédito do filme repousa no fato de Gray não se acanhar da ferida que faz parte também da conservadora comunidade judaica, e que colaborou para acontecimentos políticos recentes, como a eleição do ex-presidente Donald Trump, baseados em ideais puristas: o supremacismo branco. No seio da família protagonista do filme, o preconceito — principalmente o racial — se manifesta como parte da retórica do dia a dia, e, na vida escolar do personagem principal, de modo mais explícito.

É interessante perceber que, ao mesmo passo em que a família se esforça para instalar em Paul a ideia de que, por ser judeu, o rapaz terá menos oportunidades na vida, o mesmo ingressa em uma escola particular de elite, onde todo o corpo estudantil, além de branco, comprovadamente conquista altos cargos e posições após concluída sua formação. O “merecimento” inspirado nos alunos, aliás, é projeto intencionado da instituição, como dito pelo próprio diretor da escola enquanto discursa para os alunos: “vocês se tornarão CEO’s e legisladores”. Entre os doadores que ajudam a manter a escola está, como James Gray optou por destacar em uma das cenas, a família Trump.
Confira o trailer oficial abaixo.
Ficha técnica – “Armageddon Time”
Direção: James Gray
Roteiro: James Gray
Gênero: Drama
Ano: 2022
Foto de capa: Divulgação/Focus Features
Reportagem Gabriel Folena com edição de texto de Daniel Deroza
LEIA TAMBÉM: ‘Mais que Amigos’: é hora de tirar sarro da “brotheragem”
LEIA TAMBÉM: ‘Não se Preocupe, Querida’: polêmica nos bastidores e reflexões sociais
0 comentário em ““Armageddon Time”: filme mostra as descobertas políticas da infância”