Cultura

Opinião: quem cobriu o Rock In Rio?

Diferenças entre as críticas a artistas homens e mulheres atiçaram as redes sociais

Por Gabriel Folena

O Rio de Janeiro se tornou a capital mundial da música durante o começo de setembro. O Rock In Rio, festival idealizado por Roberto Medina, tomou conta das imediações dos bairros de Jacarepaguá e Barra da Tijuca por oito dias distribuídos em dois finais de semana.

Do dia 2 ao dia 4, artistas nacionais e internacionais como Jota Quest, Demi Lovato, e Iron Maiden (em sua quinta participação no festival) fizeram parte da festa. Entre os dias 8 e 11, grandes nomes como Ivete Sangalo (mais de dezessete participações em diversas edições da marca), Coldplay e Dua Lipa agitaram o Parque dos Atletas, transformado em Cidade do Rock.

A repercussão do evento, que mobiliza toda a mídia, cria proximidade para os fãs que não puderam comparecer. Esse ano, além disso, a cobertura também gerou críticas.

A agitação começou nas redes sociais no primeiro sábado do festival (3), após a performance de Luísa Sonza. Nome em ascensão no cenário pop brasileiro, figurando em listas nacionais e internacionais de músicas mais tocadas nas plataformas de streaming, a estreante do Rock In Rio foi pauta do jornal “Folha de S. Paulo”. Divulgada no Twitter, a matéria da repórter Marina Lourenço apontava o desafino da voz da cantora e a energia “morna” da apresentação.

Pouco tempo antes, a banda Jota Quest, atração do Palco Mundo antes de Sonza comandar o Palco Sunset, recebeu destaque diferente, no mesmo veículo, para a surpresa dos espectadores pouco impressionados que comentavam o festival nas redes sociais. Para o repórter Carlos Albuquerque da Folha, o show “reverteu a antipatia” do público para com o grupo mais antigo.

Na mesma rede social, a reação foi instantânea. Questionamentos surgiram a respeito das matérias, e especificamente colocavam em cheque a parcialidade dos comentários para dois artistas nacionais, que representam o som do mesmo país. Internautas alegaram “bait” por parte do veículo, prática comum em conteúdos na web para angariar engajamento, e anexaram trechos em vídeo da performance e do público de Luísa. Por outro lado, quem confia na tradição da publicação pontuou sua história no mercado jornalístico ante a opinião dos leitores — e do público captado em vídeo.

Dias depois, no mesmo palco de Sonza, esteve Avril Lavigne, uma das atrações mais aguardadas na segunda sexta-feira do evento (9). A apresentação da canadense, famosa por hits como “Complicated”, “Girlfriend” e “What The Hell”, também rendeu cobertura de veículos jornalísticos, mas a recepção por parte de espectadores e fãs foi semelhante à da Folha. No tweet abaixo, foram compiladas manchetes do portal “GShow”.

A comparação do show de Avril a outros artistas homens não foi o único assunto relacionado ao ícone pop punk a mobilizar a rede social. A revista “Veja” comentou sobre a qualidade da estrutura do palco onde a canadense se apresentou, o Sunset, tido como o secundário do festival. Para os repórteres Felipe Branco Cruz e Kelly Miyashiro, Lavigne possui público superior e digno do palco principal.

A discrepância entre os estimados 100 mil espectadores presentes para a canadense e o palco onde conduzia a performance, segundo o próprio Roberto Medina em entrevista para a “Veja”, não era a intenção do festival. O empresário afirmou que “queria Avril Lavigne no Palco Mundo”, mas não houve confirmação da artista a tempo do fechamento de todos os nomes que pisariam na estrutura principal.

No domingo (11), último dia do evento, a polêmica em torno do Palco Sunset e suas performances voltou a movimentar a rede. Dessa vez, a brasileira Ludmilla, primeira artista negra da América do Sul a atingir 2 bilhões de streams nas plataformas digitais, atraiu quantidade de espectadores similar a Avril Lavigne. Em tempo real, um visitante da Cidade do Rock filmou o momento da apresentação da cantora (estreante no evento) enquanto a assistia da roda gigante do festival. No vídeo, é possível ouvir o comentário: “O palco é muito pequeno para ela”. O tweet chamou a atenção da própria Ludmilla.

Tira-teimas como esse exemplificam que, em tempos de rede social, não só nas mãos de grandes veículos repousa a capacidade de realizar uma cobertura. Estrutura, equipe e distribuição certamente profissionalizam o trabalho jornalístico dispensado a eventos como o Rock In Rio. Entretanto, um teclado, uma câmera e uma tela, por vezes in loco, podem ser concorrentes diretos de quem cobre o ocorrido por outros meios.

Foto de capa: Divulgação/Lana Pinho

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Agência UVA é a agência experimental integrada de notícias do Curso de Jornalismo da Universidade Veiga de Almeida. Sua redação funciona na Rua Ibituruna 108, bloco B, sala 401, no campus Tijuca da UVA. Sua missão é contribuir para a formação de jornalistas com postura crítica, senso ético e consciente de sua responsabilidade social na defesa da liberdade de expressão.

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