Há dois anos, o mundo parou, em face do Coronavírus. Pessoas e empresas tiveram que se adaptar às novas tecnologias, que permitiram o trabalho e o estudo de forma remota. Neste meio, a educação básica sofreu muitos impactos e mudanças: com a proposta de virtualização das aulas, diretores, pais e alunos tiveram que trabalhar juntos para que a aprendizagem continuasse acontecendo. Agora, com novas medidas sanitárias de enfrentamento à pandemia, e as aulas presenciais retornaram totalmente, estudantes jovens e adolescentes vivem novos desafios.
A volta é fundamental para os jovens, devido à socialização. É o que pensa José Franscisco Xavier, educador e diretor do colégio Futuro Vip, em Cabo Frio, na Região dos Lagos.
“Houve uma mudança em toda a sociedade. Passamos por um período de reclusão e perdemos um pouco do convívio social. Estamos um um momento de retomada e de reaprender a lidar com o outro”, explica o educador.
Nas aulas virtualizadas, embora houvesse certa interação, o processo permanecia um tanto solitário. As “bolhas” se consolidavam e faltava para a criança e o adolescente a presença do outro, do diferente. Dentre todos os reflexos do isolamento social, o mais citado pelo educador foi a impaciência dos alunos.
“Sentimos que os alunos mais velhos estão com essa dificuldade de lidar uns com os outros. Voltaram extremamente agitados, e estamos num momento de acalmar esses movimentos, porque tudo era mais rápido”, conta, citando também a inquietude dos alunos diante do medo de uma nova suspensão de aulas presenciais, como aconteceu anteriormente: “Perguntam se vai fechar de novo. A tendência é continuar no presencial até porque, se a gente soubesse o que sabe agora, seria diferente”, explica.

Segundo José Francisco, para as crianças pequenas, voltar à escola foi uma aventura. No começo, foi preciso calma e compreensão, até porque faltava para elas o costume. Porém, no geral, o professor acredita que esteja sendo mais tranquilo do que com os alunos mais velhos.
“Vimos nas primeiras semanas uma dificuldade de adaptação, porque com o home-office muitos pais ficaram em casa com os filhos, então houve uma certa resistência a voltar. Contudo, quanto mais nova a criança, mais rápido ela se adapta. Os pequenininhos estão tirando de letra!”, exclamou.
O contraste entre as idades vem do retrocesso social, além dos dilemas que os adolescentes enfrentam pelo crescimento e mudança de etapas. Com isso, a sensibilidade aumenta e se torna importante a intervenção do corpo docente escolar. Ao notar estas questões, ao lado do corpo docente, José Franscisco ressalta algumas medidas tomadas pela escola.
“Na adolescência tudo é muito agudo e a gente está com ações psicopedagógicas no sentido de mostrar a eles que é com calma, cuidado e respeito ao outro que as coisas acontecem. O preço maior que estamos pagando é isso: reaprender a socializar, que é o grande objetivo da Educação Básica”, detalha.
Samuel Lourenço (11) cursa o sexto ano do Ensino Fundamental II. Ele sonhava em voltar a estudar presencialmente e não conteve a euforia ao relatar isso à reportagem da Agência UVA.
“Voltar para a escola foi uma das melhores coisas para mim. Agora posso estudar com meus amigos e ver meus professores, o que eu esperava antes da pandemia. Sinto que as aulas presenciais estão sendo muito melhores. Estou gostando demais!”, declarou Samuel.
O aluno conta o que mais sentiu falta no período de reclusão: “O que está sendo mais legal na escola é conseguir voltar a estudar na sala de aula e jogar totó com os meus amigos no intervalo. A gente se diverte muito! Senti muitas saudades disso”, confessou.

Tecnologia veio para ficar
E os efeitos da pandemia não afetaram somente os alunos. De uma hora para a outra, os professores foram obrigados a trocar o quadro branco pela tela de um celular e as canetas pelas diversas ferramentas oferecidas por aplicativos. Para José Franscisco nada disso será perdido.
“Os meios digitais vieram para nos ajudar. Aprendemos a criar videoaulas, e trabalhar na questão multimídia. Algumas atividades ainda podem ser feitas on-line, como o aprofundamento de inglês. A tecnologia veio para ficar, presente até no material didático, facilitando tanto para o professor quanto para o aluno. Além disso, temos vários cursos de capacitação ministrados on-line para os professores”, destaca.
Para o educador, a retomada foi vista de forma positiva, e os alunos voltaram academicamente melhores. O primeiro momento de provas presenciais semanais levou à unidade do Futuro Vip a um estado de foco total. Com relação aos alunos que apresentam dificuldades, as medidas tomadas são pautadas numa interação maior entre o aluno e conteúdo abordado.
“O que precisar fazer, fazemos: se o aluno não consegue acompanhar, a gente o coloca para fazer mais trabalhos de reforço, de resgate, no contraturno. Temos ferramentas ágeis para isso”, diz.
A maior estratégia, porém, parece ser o cuidado em preparar aquelas vidas para a fase adulta. Como a adolescência é um momento conhecido pelas suas diversas mudanças, é essencial ensinar aos jovens que todas as coisas na vida são resultado de escolhas, enxergando-as tanto pelo passado quanto presente.
“Quem faz a regra é o conjunto da escola: professores, alunos e pais. Somos uma escola que dá muita liberdade, cobrando responsabilidade, sendo, assim, uma liberdade cara, pois você responde por ela. E é o que fazemos hoje: reforçamos o que eles têm de bom e chamamos atenção quando escorregam”, explica.
Nas telas
Em casa, as crianças estavam cheias de estímulos visuais, vindos de aparelhos tecnológicos. Com a volta às aulas presenciais, diversas ferramentas foram implementadas e aprofundadas para atender aos seus interesses. Um dos meios de captar a atenção desse público é com as chamadas eletivas, matérias que o próprio aluno escolhe, assim se assemelhando, com o novo Ensino Médio, aprovado em 2017 pelo Governo.

A também diretora do colégio Futuro Vip, Ivana Ferreira, conta que, mesmo com as matérias já ministradas normalmente, a intenção dos professores é de trazer os alunos para si, deixando-os totalmente envolvidos pelos assuntos abordados na sala de aula.
“Além das eletivas, temos as matérias disciplinares que, independente de serem diferentes ou não, tentamos fazer com que o aluno não apenas assista a aula, mas participe, porque com a interação fica mais fácil entrar nesse universo e melhora a absorção de conhecimento”, complementa.
E essa capacidade do professor vem dos seus estudos aprofundados, comparados por José Franscisco ao teatro. Por mais que exista o conforto que a modernização proporcionou, o preparo que o profissional tem antes de executar sua tarefa é primordial para que ela se torne bem sucedida.
“O teatro funciona a partir da capacidade do ator em cativar. Nosso modelo de educação é semelhante. A partir da curiosidade e dos interesses dos alunos, desenvolvemos o saber. Sempre que conseguimos isso, é uma história de sucesso”, finaliza.
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Natally Valle (3º Período), com revisão de Leonardo Minardi (7º Período)
Excelente matéria, parabéns Natally
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