A poesia esteve no centro dos debates na sexta-feira (10), durante o oitavo dia de Bienal do Livro. O maior evento literário do País, realizado no Riocentro, na Zona Oeste do Rio, contou, desta vez, com a presença dos poetas Luciene Nascimento, Tom Grito, Michel Melamed e João Doederlein, que assina com o pseudônimo Akapoeta, sob mediação de Gabriela Gomes, na mesa intitulada “Poesia para Re (existir)”.
Em tempos incertos, disseram os poetas, a poesia é uma forma de resistir e de existência.
“Quando a gente se apresenta na literatura, a gente existe de uma forma específica para quem lê. Escrever é existir, comunicar é existir”, diz Luciene Nascimento, que é poeta e escritora, e seus vídeos de “pedagopoesia” somam mais de três milhões de visualizações na internet.

Para Tom Grito, do coletivo Slam das Minas (RJ), a poesia tem um papel também de resistência política.
“A gente vive em um País onde há disputa de narrativas. Então, eu entendo que a poesia tem se tornado uma das formas políticas de se posicionar, especialmente nesses espaços que eu frequento de slam poético (batalha de poesias), em que se escuta mais das vivências, das resistências, das opressões e das desigualdades por meio da poesia”, afirma Tom Grito.
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Segundo Akapoeta, a existência humana está atrelada ao tempo e por isso, em algum momento, poderá deixar de existir, enquanto para a arte esse tempo jamais se apagará.
“A arte valida a existência do artista, e é intrínseca à resistência. A poesia como arte reafirma o que nós somos, e funciona como um eco que não vai parar. Enquanto existirem artistas, a arte da poesia continuará a ecoar. E assim, eu chego à conclusão de que resistir é passar por um ciclo de resistência, de existência e de permanência”, enfatiza o poeta.
Michel Melamed complementa a fala de Akapoeta. “Só há sentido no poema, no filme, se você consegue criar algo em cima dele, se permitindo estar aberto a outras interpretações”, opina Melamed.

Durante a palestra a moderadora pediu para que os convidados respondessem como foi o percurso traçado por cada um deles e quais os “monstros” que eles tiveram de enfrentar para serem reconhecidos hoje como autores e escritores, apresentando histórias pessoais que, muitas das vezes, podem inspirar o público a formar futuros poetas.
“Me identifico como uma mulher negra consciente do que uma sociedade racista é capaz de fazer, e de uma forma geral, o que uma sociedade machista faz com mulheres. O “monstro” de olhar o trabalho que eu faço e onde eu cheguei, aliado a tudo isso, é bastante importante”, comenta Luciene Nascimento.
Para Tom Grito, talvez o maior “monstro” que tenha enfrentado foi a cisheteronormatividade. Para ele, cada pessoa tem sua individualidade, seu próprio “universo”, e é um desafio seguir seus próprios conceitos de gênero “quando existe toda uma sociedade querendo te “encaixotar” em um padrão”. Além desse, Tom ainda mencionou a branquitude como um outro “monstro” que tenta “matar” diariamente.
Fã de poesia
Ao final da mesa redonda, admiradores apaixonados pelo trabalho do Akapoeta (autor de “O livro dos ressignificados”, “Coração-Granada”, “O invisível aos olhos”, e “Para ressignificar um grande amor”) se dirigiram para fora da Estação Plural para conseguirem ter seus respectivos livros autografados pelo próprio autor. Luiza Lotufo, uma das fãs do poeta, diz se inspirar no autor para seguir escrevendo.
“Sou fã do trabalho do Aka há três anos. Hoje realizei mais um sonho, de encontrá-lo pessoalmente. Eu também escrevo e um dia pretendo ser igual a ele”, diz Luiza.
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Luiz Guilherme Reis – 2° Período
Com revisão de Bárbara Souza – 8° Período
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