O seriado “Malhação” foi cancelado definitivamente pela Rede Globo e não vai fazer mais parte da grade de programação da emissora a partir de 2022. No ar desde 1995, a série teve 27 temporadas e foi responsável por revelar nomes da teledramaturgia brasileira, como Marjorie Estiano, Cauã Reymond, Mariana Rios e Caio Castro, e servia como um pontapé inicial para a carreira de atores estreantes.
A Globo revelou, em comunicado, que o principal motivo para o cancelamento é a nova grade de programação planejada para a faixa vespertina da emissora em 2022. A notícia pegou muita gente de surpresa e causou comoção nas redes sociais. A Agência UVA conversou com especialista e fãs do programa para repercutir o tema.
Na opinião da jornalista Nathalie Maia, criadora de conteúdo da página Novelíssimas, trata-se de uma perda tremenda, principalmente por conta da questão da diversidade, que começava, cada vez mais, a ser pauta do programa. Segundo ela, a temporada 2022 contaria com 70% do casting formado por atores negros, antes de ser cancelada.
“A TV busca, nos últimos anos, se encontrar na questão da diversidade. Faz parte da necessidade do brasileiro se reconhecer na tela, seja nos gêneros, corpos, raças e formatos. Era uma ideia interessante. Com uma narrativa bem executada atingiria jovens do Brasil todo, que têm acesso a um produto gratuito e acessível para todos eles”, analisa a jornalista.
Para a jornalista Bruna Habinoski, também criadora de conteúdo do Novelíssimas, atores estreantes que usavam “Malhação” como uma porta de entrada para a carreira vão ter outras oportunidades para mostrar seu talento.
“Novas e boas oportunidades vêm surgindo em outras vertentes, o Globoplay (streaming da Globo) está aí, com novas temporadas e produções exclusivas, quem sabe comece a dar mais oportunidades a esses jovens e eles não fiquem órfãos de possibilidades no início de carreiras”, destaca.
O estudante de Jornalismo da UVA, Daniel Deroza, 24 anos, autor de uma grande reportagem sobre novelas usando jornalismo de dados, lamentou a decisão da emissora e acredita que é um erro de estratégia, pois o público de hoje é muito volátil.
“As pessoas podem escolher entre TV aberta, canais de assinatura e dezenas de plataformas de streaming, então se uma emissora não quer ter dificuldades com o IBOPE, ela precisa cultivar uma audiência com programação infantil, juvenil e adulta. Dependendo do que entrará no lugar de ‘Malhação’, existe o risco de a Globo parar de cultivar um público mais jovem e ter problemas com a audiência daqui a alguns anos”, explica.
Daniel reitera que houve um desgaste do formato com o passar dos anos, mas quando a emissora ousou a inovar, o público do horário cresceu. “A ‘Malhação Sonhos’ (2014/15) e, principalmente, ‘Viva a Diferença’ (2017/18) são os exemplos mais claros disso. ‘Viva a Diferença’ ganhou um Emmy (Oscar da TV), teve ótimos índices de audiência e foi justamente a temporada que mais se afastou da fórmula tradicional. O que falta mesmo é disposição para inovar”, diz.
O estudante João Pedro Agner, 18 anos, ressalta que ficou muito chateado com o fim de “Malhação”, por ter sido a única obra dramatúrgica que conseguiu se identificar.
“Era muito mais fácil me ver em questões abordadas nessa novela do que em uma voltada para o público adulto, como a das 21h”, explica.
Na opinião de João, o maior legado que “Malhação” pode deixar para a teledramaturgia é a abertura para conversa com o público jovem, que precisa ser visto e compreendido.
“Tendo como exemplo a temporada de 2017, que teve o primeiro beijo entre meninas da série, grande abordagem de pautas raciais e sociais, mães adolescentes, transtornos mentais, autismo e outros tópicos recorrentes na vida do jovem. Não é a toa que a temporada venceu o Emmy Internacional, e até ganhou spin-off (história derivada de uma obra já existente) no Globoplay”, finaliza o fã.
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Maria Eduarda Duarte – 6° período
Com revisão de Aline Meireles – 4° período
Foto de capa: Globo/Renato Rocha Miranda
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