Com a falta de informação e a crescente aversão à pauta de educação sexual por parte da sociedade brasileira, entre eles pais e responsáveis de menores, os jovens acabam sendo expostos à propagação de material impróprio devido à curiosidade e ao instinto da puberdade. Esse número cresce na situação atual, em que uma pandemia se instalou no mundo e a reclusão e o isolamento se fazem necessários, destacando a internet como único refúgio para entretenimento juvenil.
Em sua etimologia, a pornografia deriva do grego “pornographos”, que, há cerca de 2.500 anos, seria utilizado pela primeira vez no diário de uma cortesã ateniense para definir a prática sexual despida de afeto. Desde então, a palavra pornografia passou a ser associada pelos gregos aos “escritos das cortesãs”, uma vez que estas eram as principais narradoras de histórias de abusos, excessos e distopia sexual que se consolidariam de forma literária, social e cultural.
Na realidade tecnológica atual, Alyssa Vin, performer e criadora de conteúdo para maiores, disponibiliza material erótico na plataforma Cam4, na qual o profissional se exibe sexualmente através de sua webcam para consumidores gratuitos e fetichistas que pagam por performances exclusivas. Sua introdução no meio pornográfico se origina de um fetiche exibicionista que deu iniciativa à atividade nas redes. Não coincidentemente, a presença masculina está com frequência associada a esta prática.
Um mapeamento da ONG NSCOSE (Centro Nacional Sobre Exploração Sexual, em português), principal órgão internacional sobre dados de exploração e abuso sexual no mundo, confirma outra tendência: homens que consomem pornografia são mais propensos a recorrer a sexo sob o formato de prostituição.
J, 26 — que prefere esconder a identidade — relata ter tido seu primeiro contato com a pornografia ainda durante a primeira infância, aos 8 anos. Motivado por primos e amigos, todos pelo menos 15 anos mais velhos, o ato veio por meio de uma revista de conteúdo pornográfico, comprada com a alegação de que ele “logo se tornaria um homem e deveria estar familiarizado com a realidade”.
Ele declara que, desde então, foi o fim de sua infância e de qualquer vida sexual saudável. O vício em pornografia lhe foi imposto por meio das figuras masculinas influentes em sua vida, e J. ainda se sentiria condenado por bastante tempo. Disfunção erétil, ejaculação precoce, vício em masturbação e alcoolismo foram algumas das consequências descritas por ele, que resultaram transtornos físicos, emocionais e psíquicos: entre eles pensamentos suicidas (devido à baixa autoestima), mania de perseguição e, consequentemente, problemas em relacionamentos.
Anos após o episódio, J. reconheceu que necessitava de ajuda e procurou a psicologia. Sua maior motivação foi a atual esposa, que, com o tempo de relação, não compreendia suas atitudes. Ele menciona que agia de forma narcisista e nunca focava na entrega de prazer e afeto para sua parceira, já que essas sensações e sentimentos, para ele, não estavam relacionadas a sexo.
A psicóloga Graça Regina Cadilhe, especializada em saúde mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e neuropsicologia pela Universidade de São Paulo (USP), explica que abordagens sexuais só são trabalhadas em terapia caso a criança tenha sido vítima de algum abuso e, com a falta de educação sexual nas escolas e o tabu criado em relação a esse assunto, consumir demais pornografia pode significar um sinal de alerta para um possível quadro de compulsão por sexo. É um transtorno sério que pode causar problemas de adaptação e perdas significativas na vida pessoal e social.
Dados coletados por meio de um formulário respondido pelos alunos da Universidade Veiga de Almeida (UVA) comprovam que 56% das pessoas já consumiram ou permanecem consumindo pornografia, e acreditam que esse material é nocivo e perpetua a objetificação de mulheres, idealiza o sexo como fantasia e afeta o comportamento dos homens durante as relações que mantêm, tornando-os mais violentos enquanto emulam as performances que assistem nos vídeos. Outros 64,5% tiveram o primeiro acesso a pornografia via internet quando eram menores de 18 anos.

Pesquisa sobre indústria pornográfica e suas consequências (2021)

Pesquisa sobre indústria pornográfica e suas consequências (2021)
J. diz que passa por uma frequente tentação, e que ao reconhecer pequenas recaídas recorre aos conhecimentos que adquiriu na terapia — como seguir “os 12 passos”, método usado pelos Narcóticos Anônimos para auxiliar vítimas em momentos de vulnerabilidade. Para ele, é de extrema importância que pais, mães e todos os responsáveis por crianças, adolescentes e jovens protejam e supervisionem seus filhos em relação ao acesso a esse tipo de material, e aponta o diálogo honesto e responsável com teor informativo e educacional como principal solução.
Giovanna Castro (3º período). Reportagem produzida em sala de aula do curso de Jornalismo na Universidade Veiga de Almeida
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Parabéns pela publicação da matéria, Giovanna. BJs!
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