Da sala de aula

Os reflexos da quarentena no relacionamento entre jovens

Isolamento social pode afetar relações pessoais e acadêmicas na juventude

A pandemia afetou a todos, sem exceções, mas talvez tenha atingido da maneira mais contundente a parcela mais jovem da população. Pressupõe-se que, para a geração mais adaptada às mais recentes tecnologias de comunicação, o impacto da necessidade de manter-se fisicamente afastado pudesse ser menor que se comparado com pessoas de maior faixa etária ou inaptidão no domínio das referidas tecnologias, mas não é bem assim.

Isto é confirmado por Gabriel Machado, de 19 anos, Designer Gráfico e Estudante de Marketing Digital pela UNOPAR. “Eu e meus amigos continuamos bem próximos graças à internet e aos meios de comunicação atuais, apesar de nos vermos com menos frequência”. Ainda assim, ele confessa que em algum momento da quarentena, ele e os amigos ‘burlaram’ a necessidade de exclusão social para se encontrar.

Gabriel Machado usou a internet para ficar mais próximo dos amigos
Foto: Acervo Pessoal

E esta crônica não parece ser muito exclusiva, já que cada vez mais crescem as festas clandestinas cujo público, em sua maioria, encontra-se abaixo da faixa dos 30 anos. Helenice de Freitas Sais, professora de Psicologia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) explica que este fenômeno ocorre em decorrência de uma negação ‘básica’ do ser humano. “No fundo, não aceitamos a morte”.

A professora Helenice de Freitas destaca que ser humano evita pensar na morte
Foto Acervo Pessoal

A professora acrescenta que, como parte de um mecanismo base do ser humano, as pessoas não pensam — ou evitam fazê-lo — que a morte, ou neste caso, a doença, possa afetá-la, os amigos e os entes queridos. Este pensamento pode não apenas levar a uma quebra da quarentena, mas também a sugerir uma reincidência, se esta quebra passar sem consequências.

Entretanto, as influências desta repentina exclusão social vão muito além das relações pessoais dos jovens, mas invadem também seu espaço acadêmico. Com a adaptação na forma de dar aulas feita para o momento atual, cada vez menos se enxerga um senso de parceria e união dentro das turmas. Isto revela-se nas palavras de quem já estudava em uma determinada instituição, como Julio César Scofano Lacerda de Oliveira, 17 anos, estudante de Química pela IFRJ: “Não me sinto confortável para participar nas aulas, não é a mesma coisa de antes”.

Julio César sente falta das aulas presenciais
Foto Acervo Pessoal

Quem iniciou seus estudos na faculdade em meio ao período da quarentena também tem o mesmo sentimento. Guilherme Espindola, de 19 anos, estudante de Psicologia pela UNESC, confessa não se sentir motivado para participar nas aulas. “Confortável sim, mas pelo caráter desanimador de algumas aulas, eu não me sinto muito incentivado a participar”.

Guilherme Espíndola não se sente motivado a participar das aulas virtuais
Foto Acervo Pessoal

Este sentimento de exclusão ou até mesmo de não-pertencimento, além de ter impactos diretos na saúde mental dos estudantes, também pode gerar significativos danos ao processo de aprendizagem ou até mesmo no rendimento acadêmico, na forma de trabalhos em grupos mais difíceis de se lidar. Um desafio a mais nesta fase da vida de tantas exigências.

Pedro Alonso Frazão – 3º período

Agência UVA é a agência experimental integrada de notícias do Curso de Jornalismo da Universidade Veiga de Almeida. Sua redação funciona na Rua Ibituruna 108, bloco B, sala 401, no campus Tijuca da UVA. Sua missão é contribuir para a formação de jornalistas com postura crítica, senso ético e consciente de sua responsabilidade social na defesa da liberdade de expressão.

2 comentários em “Os reflexos da quarentena no relacionamento entre jovens

  1. Maristela Fittipaldi

    Parabéns pela publicação de sua matéria! Bjs!

  2. Pingback: “As redes sociais apenas mudaram o cenário de problemas relacionados à saúde mental” | Agência UVA

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