No último domingo (9) o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma reportagem sobre o esquema bilionário de Bolsonaro com o objetivo de comprar parlamentares para ganhar o apoio destes no Congresso. Intitulado de “Bolsolão”, o esquema repercutiu negativamente nas redes sociais, e foi duramente criticado por especialistas e cidadãos.
A oposição também não deixou de se manifestar e criticar a atitude do presidente logo após a divulgação da reportagem. O ex-candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, mostrou sua indignação através de sua conta no Twitter.
O presidente Jair Bolsonaro se manifestou na última terça-feira (11) sobre o caso. O presidente criticou a matéria publicada pelo Estadão e chamou os jornalistas de ‘canalhas’. “Eles não têm o que falar. Como um orçamento foi aprovado, discutido por meses e agora apareceu R$ 3 bilhões? Só os canalhas do Estado de S. Paulo para escrever isso aí”, disse o presidente em um encontro com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.
O esquema denunciado, consiste em uma compra de tratores e equipamentos agrícolas acima do preço referido pelo governo, e foi destinado a deputados e senadores que compõem o Ministério de Desenvolvimento Regional, e indicaria o que esses parlamentares fariam com os recursos. Pela legislação, são os ministros que devem indicar as aplicações dos recursos, o que não aconteceu.
O cientista político Jaime Baron, mestre em Ciências Políticas pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em Sociologia pela Universidade do Estado Norte Fluminense Darcy Ribeiro, explica como esse orçamento afetou a influência do presidente na Câmara dos Deputados.
“Todos sabiam então e sabem agora qual é o preço da sua eleição: apoio ao governo em troca de cargos e verbas federais em forma de emendas parlamentares e quaisquer outras fontes de remuneração em troca da defesa do Presidente da República”, afirma Baron.
Após o Estadão publicar a matéria, internautas se posicionaram nas redes sociais e criticaram a atitude do governo. Uma usuária tuitou: “Aproveitar que ‘votação’ está em alta, e passando aqui pra pedir que tirem o título de eleitor e se conscientizem em relação a eleição de 2022. O atual presidente desviou 3 Bilhões de reais para o Congresso em troca de apoio a sua candidatura, o que daria 58M de doses de vacina”.
Em outro momento, uma outra usuária também questiona o gasto com o esquema, e o gasto commvacinas contra a COVID-19. “Quantas vacinas poderiam ter sido compradas com esses 3 bilhões? A situação do Brasil é vergonhosa”, conta uma usuária em um tweet.
O doutor em sociologia Jaime Baron ainda explica como esses 3 bilhões de reais, que estavam fora do orçamento anual do governo, prejudicam os cofres públicos de maneira catastrófica. Jaime relata muitas falhas nas contas do Governo Federal, sendo até caótico a divulgação do orçamento bilionário, e fazendo a popularidade de Bolsonaro declinar ainda mais.
Bolsonaro havia vetado a emenda RP9 com a justificativa de ir contra os interesses públicos o incentivar o “personalismo”. A emenda vetada (que havia sido criada na gestão Bolsonaro em 2020) simbolizou a união do governo com o Centrão.
Lucas Rocha Furtado, subprocurador do Tribunal de Contas da União entrou com uma solicitação para investigar o orçamento paralelo de 3 bilhões aprovado pelo governo. No requerimento, Lucas afirma que as atitudes do governo não vão de encontro com a juricidade.
“A situação requer, a meu ver, a atuação do Tribunal de Contas da União no cumprimento de suas competências constitucionais de controle externo de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da Administração Pública federal, a fim de que sejam apurados os atos do Poder Executivo que porventura venham — contrariando as regras isonômicas previstas para a aprovação e liberação de emendas parlamentares individuais — favorecendo determinados parlamentares, em retribuição a apoio aos projetos do governo”, afirma o subprocurador.
Ilustrações satíricas também foram publicadas nas redes. O ilustrador Átila Brito publicou uma charge em seu Instagram como forma de protesto. Na legenda, ele reproduz a fala de dona Dea Lúcia, mãe do ator Paulo Gustavo que morreu vítima da COVID-19, em entrevista ao Fantástico, no domingo: “A corrupção mata, e roubar na pandemia é assassinato”.
O cientista político Jaime Baron conclui que apesar da situação não ser aprovada pela sociedade e especialistas, é possível que o presidente não sofra com nenhuma repressão. “Há sempre a maior possibilidade de não dar em nada em função do firme apoio e maioria parlamentar que o Centrão traz para Bolsonaro. Se não houvesse esse apoio e o Presidente estivesse com menor apoio popular, seria mais um motivo para abertura de um processo de impeachment”, afirma Jaime.
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Victoria Muzi – 1° Período
Sob supervisão de: Bárbara Souza – 7° período
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