A franquia de jogos Assassins`s Creed, que hoje é um sucesso absoluto da empresa e desenvolvedora francesa Ubisoft, vem, desde 2007, conquistando fãs com seu primeiro jogo. Um dos pontos altos da série é usar contextos históricos, conspirações e religião com uma mistura de ficção, tendo como resultado um produto que é sucesso de vendas e também de público.
Em 2007, quando a Ubisoft decidiu criar o novo jogo, o objetivo era uma aposta em um novo cenário mercadológico para os jogos da época. A obra, que tinha como base gráfica o game Prince of Pérsia, utilizava-se de fatos históricos do mundo real, fazendo com que o jogador vivesse, na pele, a vida de um assassino de uma ordem secreta. Além de aventuras com a câmera em terceira pessoa, tendo ação frenética e o uso de parkour para se movimentar entre os arranha-céus da cidade.

Caio Fernandes, estudante de Psicologia, 23 anos, jogou quase todos os primeiros jogos e comenta acerca do que a franquia lhe proporciona, informando quais são os elementos presentes no game que mais o fascinam.
“O principal atrativo da franquia para mim é a variedade de coisas que se pode fazer nos jogos. Além da história principal que é extensa, tem muitas missões secundárias que te deixam explorar bastante o cenário. Meu Assassin`s Creed favorito é o 2, por ter sido o primeiro jogo da franquia que joguei e pela história bem contada. Sem falar na dinâmica das missões que proporcionam uma gameplay bastante diversificada. O estilo de jogo, apesar de ter mudado um pouco ao longo da franquia, tem me incomodado com a mudança de mecânica, que envolve o estilo de luta e jogabilidade em geral. Porém, é algo inevitável, pois a franquia só está evoluindo de acordo com as novas demandas do mercado”, enfatiza Caio.
História
Na história do primeiro jogo, ambientada em Jerusalém, é apresentado o protagonista Altaïr ibn La-Ahad que utilizava um manto com capuz para se disfarçar e pertencia à ordem secreta dos assassinos, na época da Terceira Cruzada, no ano de 1191, na autoproclamada Terra Sagrada.
Um dos ponto altos desse primeiro game foram às referências aos fatos históricos, fazendo com que a ficção ficasse centrada na luta duradoura entre os templários e os assassinos, em busca do tão aclamado artefato chamado Maçã do Éden.

O jogo não era apenas ambientado no passado com o personagem Altair. Havia uma contrapartida no presente, em que o jogador controlava um outro protagonista: Desmond Miles. Ele era um Bartender, descendente de Altair, vivendo no século XXI e sendo sequestrado pela organização Abstergo, que o coloca dentro do Animus, uma máquina capaz de reviver as memórias de seus antepassados. Este é o gancho para jogar como Altair em busca da Maçã do Éden.
O principal objetivo da ordem dos assassinos nos jogos era a luta constante pelo livre-arbítrio. Esta batalha se baseava na busca da evolução da sociedade, fazendo com que o pensamento individual se desenvolvesse, mas não ficando preso ao sistema criado pelos templários.
O clã dos assassinos anseia pela paz, acreditando que esta só pode ser conquistada através da educação e não pela brutalidade. Eles não desejam apenas a liberdade da sociedade, como também do conhecimento e da informação, que sempre foram utilizados para manter o poder dos aristocratas.
O professor de História, Filosofia e Sociologia da rede estadual de educação do Rio de Janeiro e do colégio MV1 Anderson, Douglas Scalambrini, comenta sobre a importância que a franquia conquistou ao unir eventos históricos reais, mas usando da ficção.
“Assassin’s Creed aborda a História de modo dinâmico, resgata o contexto histórico como um pano de fundo para criar a perspectiva que tem por finalidade construir um círculo mágico e envolver os jogadores na trama do game. Elaborando um ambiente de imersão, que estimula o engajamento e a curiosidade, traz os aspectos históricos como um meio de apresentar a saga da Ordem Secreta dos Assassinos. Neste cenário, o contexto histórico é absorvido ao longo da trama, como elemento indispensável para que se compreenda a finalidade do jogo”, diz o professor.
Segundo ele, uma metodologia interessante e inovadora é construída a partir da gameficação da História, uma vez que há uma finalidade prática que relaciona o contexto histórico à trama do jogo.
“Este ponto é crucial, na medida em que no modelo tradicional de educação, os alunos absorvem os conteúdos de maneira passiva, sem significação. Enquanto que nos games, vemos exatamente o oposto”, explica.
O estudante de Química, Anderson Santos, 23 anos, é fã da série de livros que deram origem ao jogo e comenta sua experiência com o universo.
“Não joguei muito os jogos da franquia, mas li os livros. Gosto do embate dos templários contra o credo dos assassinos. Algo que me chama muito a atenção é a ambientação histórica que os livros trazem. É difícil escolher um como favorito, mas se fosse pra pontuar algum, o livro ‘Assassins Creed Renegado’ me chamou a atenção por subverter um pouco a história. Pois é mostrado o ponto de vista de um templário no início do livro e ao longo do mesmo vamos descobrindo o passado e objetivos do protagonista”, afirma Anderson.
De 2007 para cá, a franquia sofreu muitas modificações devido à resposta do mercado de games. Do primeiro jogo até o Syndicate (2014), que se passava na revolução industrial em Londres, a obra conseguiu se manter com o mesmo estilo de gameplay desde o primeiro título, apenas sofrendo algumas melhorias gráficas.
Porém em 2017 tudo mudou com o lançamento de Assassin´s Creed: Origins. Este game deixou de lado o Hack’n Slash, gênero que usa de ação frenética nas lutas, presente nos jogos anteriores e se entregou de vez ao gênero RPG, que domina hoje os jogos de aventuras.
O game-designer e também pós-doutorando em Neuroeducação do Cepid Brainn Fapesp, Ricardo Rodrigues Nunes, explica a relevância da franquia de jogos neste mercado tão competitivo. Ele também fala da importância que esta série tem em sempre buscar se adaptar ao mercado.
“Considero muito relevante a franquia. Eu conheci trabalhos que abordam a aprendizagem usando o AC. Eu até tive uma colaboração numa pesquisa em que o objetivo era verificar a possibilidade de se aprender aspectos históricos nos jogos. Além disso, são jogos que representam a identidade da Ubisoft. As franquias não devem ser sempre mais do mesmo. Mas reconheço o desafio que é, pois qualquer coisa modificada pode ter um impacto gigantesco na satisfação e experiência dos jogadores. Não se acerta sempre e não foi diferente com a franquia do AC”, comenta Ricardo.
O último jogo lançado foi o Assassin´s Creed Vallhala em 2020, que tratava das invasões vikings na Inglaterra durante o período 860 D.C. e que conseguiu se reinventar usando uma temática conhecida do público – o universo viking. O jogo mais recente foi sucesso de crítica e também unanimidade entre os jogadores, mostrando que a franquia não se perdeu e ainda consegue tirar o melhor através de novas temáticas em que se baseia.

A grande sacada da Ubisoft para que esta franquia, ao longo dos anos, não caísse na mesmice foi, a cada jogo, ter momentos diferentes da história com variados conflitos explicados ao longo do game.
Já foram mostradas a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, o Renascimento na Itália, entre outros contextos importantes que ficaram marcados na história.
Hoje há rumores de que o próximo jogo tem chances de se passar aqui no Brasil. Caso seja concretizada essa notícia, existem muitos momentos históricos nacionais que poderiam ser abordados, desenvolvendo uma grande trama, além de fazer com que os fãs brasileiros se sintam mais orgulhosos de sua própria história por vê-la sendo usada como inspiração para criação de um game tão popular.
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Rafael Barreto – 8º período
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