Ao longo das últimas semanas, o caso envolvendo a capivara Filó e seu cuidador, Agenor Tupinambá, ganhou repercussão nacional. Em resumo, o influenciador – que produzia vídeos e fotos com o animal – foi multado pela justiça por manter uma espécie silvestre como pet em sua residência, em Manaus. No dia 27 de abril, o rapaz entregou a capivara ao IBAMA, mas, três dias depois, a Justiça Federal concedeu a guarda provisória ao influencer. O imbróglio virou tópico de discussão na internet sob diversos pontos de vista, entre eles, o da saúde, afinal, trazer espécimes silvestres para o convívio de humanos e bichos domésticos pode ser um risco para todos os envolvidos.
Isso significa que a domesticação de animais selvagens não apenas é ilegal – pois, conforme a Lei 5.197/67 da Constituição brasileira, quaisquer espécies constituintes da fauna silvestre são propriedades do Estado, e, portanto, sua caça, apreensão, perseguição ou destruição é proibida -, como, também um ato prejudicial, uma vez que estes animais podem transmitir doenças perigosas para seres humanos e pets, além de provocar um desequilíbrio ambiental.
Foto: Reprodução/Instagram Foto: Reprodução/Instagram
Assim, ao ser levado para um ambiente doméstico, o animal sofre com o estresse, o qual provoca mudanças comportamentais; segundo o artigo “Fisiopatologia do estresse em animais selvagens em cativeiro e suas implicações no comportamento e bem-estar animal – revisão da literatura”, publicado por Heloísa Orsini e Eduardo Fernandes Bondan, da Universidade Paulista (UNIP), uma espécie que vive restrita ao seu habitat natural, com diferentes substratos, plantas, alimentos e temperatura não será facilmente domesticada.
Além disso, de acordo com a professora de biologia Luana Motta, para ocorrer essa mudança de instintos, são necessários anos de domesticação – é importante lembrar que cães e gatos vivem esse processo há milhares de anos, e, ainda assim, mantém hábitos como o de caça -, então, ao ser movido para um ambiente estranho, o comportamento do animal silvestre raramente será o que o tutor espera.
A professora, ainda, ressalta que a retirada de animais da natureza e, principalmente, a exposição desse ato na internet, pode levar outras pessoas a fazerem o mesmo, aumentando o risco de desequilíbrio do meio-ambiente. “O homem é a maior ameaça à extinção dos animais. Isso [a exposição] faz com que, de maneira ilegal, muitos animais sejam retirados de seu habitat e aí, sim, impacta na fauna e na flora. Mesmo que apenas um não cause impacto, não devemos tirá-lo do seu habitat; sempre começa com apenas um”, ela afirma.
Sobre o caso da capivara Filó, ela alerta que alguns animais silvestres acabaram, com o tempo, sofrendo adaptação e estão um pouco mais acostumados com a espécie humana, e, por isso, a domesticação pode ser mais fácil. “Mas, ainda assim, não é correto pegar esses animais e querer transformá-los em bichos domésticos. No caso do tiktoker, como a capivara já estava domesticada, ela poderia não saber como sobreviver se voltasse ao habitat natural”, Luana pondera.
Mas, além dos prejuízos ao meio ambiente, a domesticação de animais silvestres também põe vidas humanas em risco, pois algumas das doenças que podem ser transmitidas às pessoas são graves a ponto de levarem à morte, como a raiva e a toxoplasmose. “Esses animais podem ter doenças ou parasitas, aos quais a espécie já tenha alguma adaptação, mas que podem ser muito grave para os seres humanos ou aos animais domésticos”, a professora explica.
Ela, também, adverte que, caso um animal silvestre seja avistado em zona urbana, a atitude ideal é manter a calma, afastar-se, ligar imediatamente para o número 190 e aguardar até que o resgate chegue; em hipótese alguma deve-se tentar pegar o animal ou matá-lo, mesmo se for um animal peçonhento, como uma cobra.
Ainda, o Centro de Controle de Zoonoses, tem diversas unidades pelo Rio de Janeiro e é possível contatá-las por meio da Central de Atendimento 1746; além do serviço de doação de cães e gatos, os polos oferecem gratuitamente diagnósticos laboratoriais de raiva, patologia clínica, anatomia patológica, cremação de cadáveres de animais portadores de doenças transmissíveis, intervenções cirúrgicas, fornecimento de medicamentos veterinários para controle de zoonoses e vacinação antirrábica de cães e gatos.
Foto de capa: Pexels
Reportagem de Camila Teixeira, edição de texto por Daniel Deroza
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