Na manhã desta quarta-feira (3), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 15 pessoas foram alvo de mandados de busca e apreensão, feitos pela Polícia Federal (PF). O ex-chefe do Executivo estava em sua residência em Brasília e teve seu celular apreendido. Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e outras cinco pessoas foram presas. As procurações foram autorizados pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e fazem parte da Operação Venire, que investiga adulteração em cartões de vacinação.
A Operação Venire faz parte do Inquérito das Milícias Digitais, que tem por objetivo investigar e identificar os organizadores e financiadores de uma série de protestos que pediam o fechamento de instituições democráticas e a volta da ditadura militar. Grande parte desses protestos são organizados no ambiente virtual, levando o inquérito a apurar com grande atenção a etapa digital das mobilizações antidemocráticas.
Toda a movimentação do STF para identificar esses crimes resultou em uma investigação contra um grupo que é suspeito de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde, entre novembro de 2021 e dezembro de 2022. Com isso, pessoas que não tomaram a vacina passaram a constar como imunizadas no sistema oficial do Governo Federal. Essas pessoas podiam emitir certificados de vacinação e usá-los para burlar as medidas de segurança sanitária impostas por governos como o do Brasil e dos Estados Unidos.
“As inserções falsas, que ocorreram entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a Covid-19 dos beneficiários. Com isso, tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes impostas pelos poderes públicos destinadas a impedir a propagação de doença contagiosa”, afirmou a PF.
O objetivo da PF com a apreensão do celular de Bolsonaro é descobrir se o ex-presidente e sua família fraudaram informações de seus cartões de vacinação para conseguir viajar para os Estados Unidos no final do ano passado, desrespeitando as regras sanitárias. Segundo a PF, as evidências indicam que os dados do cartão de vacinação do ex-presidente e de sua filha Laura foram alterados nos últimos dias de seu mandato e após gerarem um comprovante de imunização no site do ConecteSUS, os dados teriam sido retirados do sistema. Michelle Bolsonaro se pronunciou em suas redes sociais alegando que apenas ela teria se vacinado.
“Hoje a PF fez uma busca e apreensão na nossa casa, não sabemos o motivo e nem o nosso advogado teve acesso aos autos. Apenas o celular do meu marido foi apreendido. Ficamos sabendo, pela imprensa, que o motivo seria “falsificação de cartão de vacina” do meu marido e de nossa filha Laura. Na minha casa, apenas eu fui vacinada”, disse a esposa de Bolsonaro.

Segundo a embaixada norte-americana no Brasil, apresentar dados falsos de maneira proposital para entrar no país é considerado crime federal e pode render uma prisão de até dez anos para quem é réu primário e não tinha o objetivo de praticar crimes de terrorismo ou tráfico de drogas.
“Nunca falei que tomei a vacina (de Covid-19). Nunca me foi pedido cartão de vacinação nos EUA. Não existe adulteração de minha parte”, disse o ex-presidente ao deixar sua residência em Brasília.
Como Bolsonaro viajou para os Estados Unidos dois dias antes do fim do seu mandato, em dezembro do ano passado, ele e sua família foram considerados pessoas oficiais de governo estrangeiro, categoria que não precisa de comprovantes de vacinação para entrar no país.
Além dos 16 mandados de busca e apreensão, outros seis mandados de prisão foram realizados nesta quarta (3), entre os presos está o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Ele cumpria a função de ser o secretário pessoal do ex-presidente, e o ajudava em assuntos referentes à sua vida pessoal e profissional, além de o acompanhar em sua agenda no Brasil e em algumas viagens internacionais.
Investigadores da PF têm grande interesse de descobrir se Mauro Cid estava montando um plano de fuga para Bolsonaro. Com o cartão de vacinação adulterado, o ex-presidente conseguiria viajar para qualquer lugar. Militares como o ex-ajudante de ordens são treinados para fazer montagens de rede de fuga e evasão (RAFE), durante seus treinamentos das forças especiais.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, defendeu o trabalho da Polícia Federal na ação. Segundo ele, se a fraude for detectada, isso abalaria a confiança da população brasileira no sistema sanitário do governo.
“Conspirar contra a saúde pública é uma corrupção gravíssima. A questão da segurança sanitária é atingida na medida em que há fragilidades como as evidenciadas. Com certeza, a ministra Nísia Trindade vai tomar as providências para proteger ainda mais estes sistemas que, segundo a PF, foram fraudados”, afirmou o ministro.
O Ministério da Saúde informou, em nota, que vem colaborando com as investigações policiais desde o início e assegurou que não há, até o momento, relato de invasão externa aos sistemas SI-PNI e Rnds. E que todas as informações referentes ao registro de imunizações do SUS são feitas mediante cadastro, sendo todos eles rastreáveis.
Foto de Capa: Agência Brasil
Reportagem Gabriel Ribeiro com edição de Daniela Oliveira
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