Aliados na luta contra a propagação de doenças, os imunizantes ajudam o corpo humano a combater inúmeros vírus e bactérias que geram danos à saúde. No entanto, ainda que seja clara a importância de estar sempre imunizado, as taxas de vacinação, sobretudo as infantis, têm sofrido baixas constantes nos últimos anos.
Atualmente, cerca de 25 milhões de crianças no mundo estão com pelo menos uma vacina atrasada, é o que aponta um relatório realizado em julho deste ano pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Segundo o estudo, o aumento do número de crianças vivendo em situação de vulnerabilidade, a alta da desinformação e os eventuais impactos causados pela Covid-19 são alguns dos fatores que influenciaram diretamente a queda da cobertura vacinal.
Devido a essa redução nos índices, o risco de volta de doenças que antes estavam controladas ou erradicadas é grave. Um exemplo disso é a Poliomielite. De acordo com Ricardo Queiroz Gurgel, membro do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, a falta de conhecimento da população sobre os efeitos do vírus da pólio também contribuiu para que houvesse uma baixa procura pela vacina no país.
“Como a maior parte das pessoas nunca viu um caso agudo de poliomielite, no qual uma criança deixa de se movimentar normalmente, pensam que isso não vai mais acontecer. A probabilidade ainda existe e estamos com risco iminente de que isso ocorra. Temos baixas coberturas vacinais, menores que 70%, e ainda há circulação do vírus selvagem em vários locais”, explica o pediatra.
O doutor acrescenta que existe, também, a influência dos movimentos anti-vacina, que acabam colocando uma dúvida na mente das pessoas quanto à eficácia dos imunizantes.
“Existe influência de movimentos anti-vacina que, mesmo sem nenhuma prova, atacam o processo de vacinação. Deve-se ter em mente que vacinar sempre foi considerada a estratégia de defesa mais eficaz no combate à maior parte das doenças transmissíveis”, aponta.

É importante destacar que o processo de vacinação começa já na maternidade. Frágeis e com as defesas imunológicas ainda em formação, os recém-nascidos ocupam o topo do ranking de pessoas mais suscetíveis a contraírem enfermidades. Por isso, a recomendação do Ministério da Saúde é que a primeira vacina seja aplicada no máximo até 12 horas após o parto.
Somente nos dois primeiros anos de vida, as crianças devem tomar cerca de 12 vacinas presentes no calendário infantil de imunização, todas disponibilizadas pelo SUS. Segundo Isabella Sossai (20), mãe de uma bebê de um ano, apesar das eventuais filas, o atendimento da rede pública no que diz respeito à vacinação não deixa a desejar.
“Todas as vacinas da minha filha foram dadas pelo sistema público de saúde e eu nunca tive nenhum problema com atendimento. Às vezes, há um maior tempo de espera, devido às filas, mas nada que incomode muito. As enfermeiras sempre me trataram gentilmente e me dão instruções sobre como cuidar das possíveis reações”, relata a mãe.
Existem diversos fatores que colaboram para que a taxa de vacinação entre em declínio, queda esta que acontece não só no Brasil, como também no mundo. Dentre todas as causas possíveis, uma que tem motivado cada vez mais a baixa aderência às vacinas é a propagação de Fake News.
Para Paulo Machado, orientador da Liga de Saúde Coletiva da UVA (LASC UVA) e especialista em saúde da família, as notícias falsas rodeiam o setor de saúde há décadas. De acordo com o professor, desde 1998, quando um artigo científico relacionou a vacinação ao autismo, as pessoas têm questionado a eficácia dos imunizantes e os seus respectivos efeitos colaterais. “Embora não haja até hoje nenhuma prova dessa relação, aumentaram as dúvidas sobre a eficácia das vacinas, o que gerou insegurança nos responsáveis”, explica.
Segundo Paulo, o Estado tem um papel fundamental na luta pelo aumento nas taxas de vacinação e deve olhar com atenção para as Fake News.
“É preciso que o Estado organize cada vez mais os programas de vacinação de forma descentralizada e estruturada, mediante políticas públicas que garantam a vacinação para todos. Não cabe mais ficarmos esperando passivamente que o cidadão chegue até nós, mas sim criarmos estratégias para chegarmos até eles. Deve-se usar a mídia para convencer e orientar a população sobre a verdade. Vacinas são seguras, eficazes e salvam vidas”, diz.
Diante desse cenário, várias secretarias de saúde do país têm intensificado suas campanhas de vacinação infantil. Na cidade do Rio de Janeiro, a prefeitura informou que desde dia 17 de outubro começou uma busca ativa por crianças cujas cadernetas de vacina estejam desatualizadas.
O principal foco da campanha está na imunização contra poliomielite. Conforme divulgado pela prefeitura, 160 mil crianças não haviam sido vacinadas contra a doença no município.
Foto de Capa: Reprodução/FreePik
Reportagem Anne Rocha, com edição de texto de Gabriel Folena
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