por Marina Malheiro
As fake news têm aumentado de maneira assustadora e têm causado uma grande preocupação para o jornalismo comprometido com a verdade. Essas notícias não são recentes, mas vêm ganhando força com a internet. As matérias falsas, compartilhadas pelas redes sociais, confundem os leitores que acreditam nos conteúdos, prejudicando a credibilidade das informações. Mas é preciso lembrar: a liberdade de expressão tem limites e a internet não é um território sem lei.
A liberdade de expressão é um direito de todos dentro de uma democracia. A Constituição Federal Brasileira diz: “Qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber e de transmitir informações e ideias, sem que possa haver ingerência de quaisquer poderes públicos e sem consideração de fronteiras”.
Por conta disso, muitas pessoas e grupos se apoiam no que diz a Constituição para propagar por meio das redes sociais as fake news. Mas a liberdade de expressão não autoriza a divulgação irresponsável de informações falsas nem permite que se possa falar ou escrever o que se quer sem ser punido.
Muitos têm dúvida sobre a distinção entre fake news e notícias falsas. A jornalista Mariza Tavares, Conselheira Editorial da Agência Lupa, esclarece: “Na verdade, os termos são sinônimos. Notícia falsa é a tradução de fake news, mas a grande questão ética que envolve o tema é o fato de a notícia falsa estar sendo deliberadamente distribuída com o propósito de desinformar”.

(Foto Acervo Pessoal)
A jornalista da empresa Spark Influencer Marketing, Julia Cosceli, complementa: “Os grupos que têm algum interesse, que pode ser, político, religioso, entre outros, querem manipular os leitores contra pessoas e organizações por meio de calúnias”.
Buscando entender o perfil dos usuários de redes sociais, a psicopedagoga Niara Ventura, que utiliza a internet para se atualizar quanto às notícias, declara: “As fake news são notícias inverídicas que servem para confundir os leitores”.

Foto Marina Malheiros)
“A expressão fake news existe desde o século XIX, ou seja, não se trata de algo recente. No entanto, sua utilização ganhou escala com o surgimento das redes sociais, nas quais não há checagem dos fatos. Foi na eleição norte-americana de 2016, vencida por Donaldo Trump, que o termo se cristalizou devido à divulgação de um enorme volume de material falso sobre sua concorrente, Hillary Clinton. De lá para cá, o problema só aumentou”, lembra Mariza Tavares.
Julia acrescenta: “ O impacto mais relevante, além da candidatura do Trump, foram as eleições de 2018, no Brasil, que mostraram o poder das redes digitais com o compartilhamento de informações que de maneira certa ou errada influenciaram muitas pessoas”.

(Foto Acervo Pessoal)
Muitas vezes, é difícil reconhecer notícias falsas de imediato, pois cada vez mais, elas se apresentam de forma mais elaborada e muito bem desenvolvida, buscando propagar conteúdos bombásticos, comprometendo o jornalismo de qualidade. E elas normalmente são lançadas com a ideia da desinformação, tornando-se uma preocupação para as sociedades em geral. De acordo com estudos das universidades Oxford (Reino Unidos) e a MIT (Estados Unidos), usuários das redes sociais se envolvem, estimulam e divulgam rapidamente mais notícias falsas do que verdadeiras, e apesar de terem a consciência de serem inverídicas, repassam para os demais.
Mariza argumenta: “Há dicas simples para identificar fake news: se receber uma notícia bizarra e ou absurda, há grandes chances de ser falsa. Em vez de repassar adiante, busque confirmação em outra fonte. Uma simples busca no Google vai servir de termômetro: se for verdade, provavelmente surgirão diversos resultados. Procure sempre meios de comunicação legítimos e respeitados, cujos critérios de apuração sejam confiáveis”. De acordo com Julia, é possível combatê-las também por meio da consulta a outros tipos de meios de informação.
A liberdade de expressão surgiu com o intuito de que todos pudessem ingressar em um canal de comunicação sem que tivessem invadidos seus conteúdos. Muitas matérias são bem distintas, porém o que chama mais a atenção é a manchete, que muitas vezes não tem nada a ver com o restante da notícia, é apenas uma forma de chamar atenção. Com isso, muitas pessoas veem e imediatamente repassam, sem ter de fato lido a notícia completa. E ao repassá-la, estão propagando desinformação.
Essa onda de matérias falsas ganhou ainda mais força no início da pandemia da Covid-19, quando inúmeras fake news sobre a gravidade da doença, as mortes provocadas pelo vírus, as vacinas e tantas outras questões circularam, deixando muitas pessoas confusas e propensas a não acreditarem na ciência por causa de matérias completamente falsas que circularam e circulam nas redes sociais. Como combatê-las?
“O jornalismo profissional de boa qualidade vem se empenhando em combater as informações falsas, inclusive por meio de consórcios que reúnem diversos veículos de comunicação. Agências de checagem, como a Lupa, também se especializaram em investigar notícias de procedência duvidosa, porém é preciso que toda a sociedade se mobilize para não alimentar esse tipo de ação mal intencionada”, destaca Mariza.
O leitor Antonio Agueda, administrador de empresas que utiliza diariamente a internet para uso profissional, fala: “Para combater as fake news é preciso conscientizar a todos da necessidade de não compartilharem qualquer conteúdo sem a devida apuração dos fatos”.

(Foto Marina Malheiro)
A educação sempre foi e será o caminho para sensibilizar o cidadão a exercer de fato sua cidadania. É fundamental que esse tema seja inserido, refletido e trabalhado dos anos iniciais de estudo até a universidade, pois as redes sociais fazem parte do dia a dia de todos e o controle do acesso, a responsabilidade ao repassar conteúdos e o alerta sobre o perigo da propagação das fake news devem ser priorizados.
“O ambiente acadêmico, seja ele da área de humanas, ciências médicas ou exatas, tem a missão de fomentar o espírito crítico e a discussão democrática. Esse compromisso está totalmente alinhado com o combate à disseminação de notícias falsas”, diz Mariza Tavares.
“A partir da conscientização do que está ocorrendo com a credibilidade do trabalho jornalístico de verdade, é preciso atuar junto às universidades mostrando a pluralidade das informações e a necessidade que o leitor priorize o consumo de matérias de veículos confiáveis, promovendo um jornalismo ético e verdadeiro”, argumenta Julia Cosceli.
As pessoas usam a internet para espalhar as fake news, tornando essa questão um grande problema para a sociedade, podendo trazer inúmeras consequências às pessoas, organizações, negócios e à sociedade em geral, além fazer com que eleições sejam perdidas, amizades desfeitas entre pessoas e grupos, induzindo os usuários com matérias enganosas.
O assunto é tão alarmante que foi criada uma legislação que busca reagir contra a propagação dessas matérias na internet. Mas até onde as pessoas são responsáveis por isso? Todos têm responsabilidade, pois o compartilhamento desse tipo de notícia pode levar a sérios problemas e é preciso proteger as pessoas e organizações de injúria, calúnia e difamação. É preciso cuidado ao compartilhar qualquer matéria nas redes sociais.
A jornalista Mariza complementa: “A expansão das redes sociais tornou a conscientização da população algo ainda mais desafiador. Precisamos atuar em diversas frentes: no fortalecimento da educação, da comunicação, da democracia”.
O jornalista, nesse contexto, tem diversos desafios a enfrentar para garantir que sua produção seja reconhecida como verdade em meio a tantas matérias falsas. A credibilidade fica comprometida, pois existem dúvidas sobre os conteúdos compartilhados. É preciso que a sociedade em geral se conscientize e colabore para que o trabalho jornalismo responsável e ético prevaleça.
“As pessoas precisam entender que cada um de nós é responsável por essa avalanche de fake news. É muito importante que as instituições de educação promovam projetos e grupo de estudos que provoquem o interesse de todos em buscar o que é correto nos meios digitais, para que tenhamos um mundo melhor”, finaliza Julia.
Reportagem realizada por Marina Malheiro para a disciplina Apuração, Pesquisa e Checagem, ministrada pela professora Maristela Fittipaldi
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